Todo início de mês é muito frequente ouvir diálogos em Pomerano no comércio de Campinho. “Bom dia. Você quer alguma coisa? Precisa de ajuda?” Esse é um dos diálogos em Pomerano que podem ser presenciados por moradores ou turistas em Domingos Martins. Em todas as lojas, seja de tecidos, sapatarias, quilão, supermercado, açougue, mercadinhos, Cartório é requisito ter um funcionário ou o próprio dono do negócio que fale fluentemente o Pomerano.
Elza Braun Schoreder (57) moradora de Melgaço fala Pomerano e também Português, mas diz que prefere ser atendida por pessoas que falem o Pomerano. “Em casa só falamos o Pomerano e me identifico mais e sou melhor atendida na minha língua pátria”, diz. Os empresários são muito atentos a este cliente. “Conhecemos bem as pessoas e sempre peço que troque o atendimento, para que o cliente pomerano seja atendido em Pomerano e tenha total atenção”, conta o empresário Silvio Waiandt Barbosa.
Angélica Schwantz (24), atendente de um comércio em Campinho e moradora de Melgaço, é fluente em Pomerano e conta que “alguns chegam pedindo para serem atendidos por mim. Com quem não fala Pomerano, eles são mais acanhados e comigo ficam a vontade e se sentem mais acolhidos. São pessoas muito humildes e se sentem mal quando não são compreendidos”. Completa que pergunta muito “até conseguir saber direitinho o que eles querem comprar e quem não conhece o povo pomerano, seu jeito e modo de vida, não entende o que a pessoa quer”.
O distrito de Melgaço que inclui as comunidades de Melgaço, Melgaço de Baixo, Fazenda Schwanz, Alto Rio Ponte, Rio Ponte, Alto Pena, Pena, Vitalino Kalk, Melgacinho, Zibel e Melgaço de Baixo é a região onde mais se concentra a tradição da língua Pomerana. O dialeto é falado por quase todos, mas não a escrita. Ela está sendo aplicada atualmente nas escolas.
Saiba mais
O povoado de Melgaço, onde hoje estão as vendas de Valdemar Pagung e Mathias Nickel e o Vale do Bruno Kalk, existe desde 1832 conforme consta da Lei nº 13 de 30 de dezembro daquele ano. O quartel na Estrada do Rubim, naquele povoado, provavelmente já existia antes da lei, pois a partir de 1832 a referida via de comunicação entre Espírito Santo e Minas Gerais começou a ser desativada. Quando os colonos alemães aqui chegaram já existia no território, hoje município de Domingos Martins, um trecho da Estrada de tropa que ligava a Vila Rica, Minas Gerais ao Porto de Vitória.
Quando os pomeranos se instalaram em Melgaço, hoje, distrito de Domingos Martins, a partir de 1870, a referida estrada era conhecida por eles como Minasstrot. O pomerano (Pommersch, Pommerschplatt ou Pommeranisch) é uma variedade do baixo-alemão falada pelos pomeranos e descendentes em várias regiões do Brasil, especialmente nos estados meridionais e no estado do Espírito Santo.
O nome Pomerânia vem do eslavo po more, que significa Terra junto ao Mar. O pomerano é diferente do alemão-padrão, uma vez que ambas as línguas têm origens distintas. O pomerano assemelha-se mais ao holandês, vestfaliano e saxão antigo. Quase extinta na Pomerânia histórica, sendo praticamente falada apenas no Brasil, atualmente a língua pomerana já tem uma escrita, dada pelo linguista Ismael Tressmann, e nos municípios mais pomeranos do estado do Espírito Santo já existem aulas de língua pomerana, por meio do Programa de Educação Escolar Pomerana (PROEPO).