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Diante do baixo isolamento da população, número de testes pode ser insuficiente no Espírito Santo

Atualmente, o Laboratório Central do Estado consegue realizar 900 testes de biologia molecular por dia, mas faz em média apenas 450

Foto: Divulgação/Pexels

O baixo nível de isolamento registrado entre os capixabas tem preocupado especialistas. Segundo eles, o surgimento acelerado de casos suspeitos do novo coronavírus, associado a mais pessoas nas ruas, pode dificultar a testagem no Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen-ES) até mesmo para integrantes do chamado grupo de risco. 

Atualmente, segundo o Governo do Estado, apenas 47% da população capixaba está mantendo um distanciamento social, quando o ideal seria que esse índice fosse próximo de 70%, para achatar a curva de crescimento da doença.

“Na medida que a população vai se contaminando, tem mais sintomático, tem mais gente com fator de risco com critério para coleta, e aí eu deixo de focar naqueles que estão dentro dos hospitais”, destacou a infectologista Simone Tosi.

Desde o início da pandemia do coronavírus, cerca de 20 mil casos suspeitos foram notificados à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Além disso, até a tarde desta quarta-feira (6), mais de 15 mil testes de biologia molecular, também chamados de PCR, haviam sido realizados pelo Lacen.

“O teste de PCR na verdade faz uma extração genética do vírus e é considerado padrão ouro em todo o mundo, porque ele realmente não tem risco de reação cruzada com nenhum outro agente, porque ele detecta o micro-organismo, o vírus em si, e não o anticorpo produzido contra o vírus. E ele permite uma detecção precoce. Então, até o sétimo dia de sintoma, ele é o mais adequado”, explicou a infectologista.

O laboratório vem aumentando sua capacidade nas últimas semanas. Atualmente, ele consegue realizar 900 testes de biologia molecular por dia, mas faz em média apenas 450. Os exames são aplicados em um grupo específico da população.

“Você não precisa estar grave. Quem está grave, seja em qualquer idade, faz o teste e recebe a avaliação, como é feito no país inteiro. Com a diferença que, no Espírito Santo, em até 48 horas o resultado é liberado para 48% dos pacientes”, ressaltou o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, durante uma coletiva de imprensa realizada na terça-feira (5).

A inclusão desse novo grupo ocorreu depois que a equipe de jornalismo da TV Vitória/Record TV mostrou que o Laboratório Central realizava bem menos testes do que a capacidade, ao final da primeira quinzena de abril, o que não mudou.

“Não existe condição de expansão. A gente já expandiu, colocando 45 anos. A gente já testa além do que está previsto pelo Ministério [da Saúde]. Os outros estados estão testando só quem está internado. Nós testamos muito além disso e, portanto, não temos condições de expansão desses testes, porque qualquer segmento da população que nós colocássemos na testagem, os nossos exames acabariam imediatamente”, afirmou o subsecretário de Atenção à Saúde da Sesa, Luiz Carlos Reblin.

A Secretaria de Saúde orienta que quem apresentar sintomas de síndrome gripal deve procurar atendimento médico presencial, para que os pacientes sejam orientados sobre o isolamento e para que casos suspeitos sejam notificados.

“É necessário que todo mundo tome as medidas de distanciamento e de evitar contato físico, de lavar as mãos, de utilizar as máscaras. E qualquer pessoa que tenha uma síndrome gripal, que procure uma avaliação médica presencial, para que possa ser notificado como suspeita de síndrome gripal e fazer um isolamento por 14 dias”, orientou Nésio Fernandes.

Testes rápidos

Em alguns hospitais de referência para tratamento de pacientes graves de covid-19 no Espírito Santo, profissionais de saúde passaram a utilizar também testes rápidos para o diagnóstico, enquanto não sai o resultado dos testes de biologia molecular.

Em entrevista à TV Vitória, na terça-feira (5), o coordenador médico da UTI do hospital Jayme Santos Neves, Fernando Sad, informou que testes rápidos de anticorpos têm contribuído para a liberação de leitos de isolamento.

“[Isso ocorre] para eu poder ter leito suficiente para atender os suspeitos que estão vindo encaminhados para a gente. Se eu não conseguir fazer o giro de leitos, ou seja, liberar esses leitos de isolamento único e botar esses pacientes num leito que dê o suporte para eles, para que libere um leito de isolamento único, eu não tenho como receber os suspeitos externos”, afirmou.

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Os testes de anticorpos também serão utilizados para testagem em massa da população, a partir da próxima segunda-feira (11). O objetivo é identificar a parcela dos capixabas que já foi exposta e desenvolveu defesa contra o novo coronavírus.

“Nós vamos testar em 171 setores censitários, em 27 municípios. Ao todo, quase 32 mil capixabas vão participar, a cada 14 dias, da coleta para garantir uma projeção estatística de quantos capixabas já tiveram contato e foram infectados pelo covid”, explicou o secretário de saúde.

O início da aplicação desses exames ocorrerá uma semana depois da data prevista pela Secretaria de Saúde do Estado, apesar da importância dos resultados para a adoção de estratégias de enfrentamento à pandemia.

“A cada 14 dias vão se repetir de 6 a 7 mil testes. E dependendo da quantidade de pessoas positivas, entre um ciclo de coleta e outro, nós vamos poder projetar se a pandemia está crescendo ou se ela está diminuindo em nosso estado”, destacou Nésio Fernandes.

A Sesa informou que conta hoje com 18,8 mil testes de anticorpos disponíveis. Inicialmente, eles estavam sendo utilizados para diagnóstico de profissionais da saúde, que poderiam ter sido infectados.

“A chegada desse teste é, na verdade, para continuarmos a realizar a testagem que a gente vem fazendo hoje. Porque o aumento de casos precisa de mais testes”, frisou Luiz Carlos Reblin.

Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou farmácias a ofertarem testes rápidos. A produção da TV Vitória entrou em contato com grandes redes que atuam na Grande Vitória, que informaram que ainda não estão realizando esses exames.

“Em princípio, nós entendemos que o local mais adequado para a realização desses testes são os laboratórios de análises clínicas, porque eles já têm toda uma estrutura preparada para oferecer esse serviço. Por outro lado, a Anvisa precisa também aumentar a testagem da população, fazendo um verdadeiro serviço de triagem, que busque identificar pacientes que tenham tido contato com o novo coronavírus”, ressaltou o presidente do Conselho Regional de Farmácia do Espírito Santo (CRF-ES), Luiz Carlos Cavalcante.

“‘Ah, mas eu quero saber se eu já tive’. A gente não recomenda hoje em dia fazer por esse motivo, porque dá essa falsa sensação: ‘ah, está negativo ou então está positivo, eu vou continuar circulando e eu posso às vezes até ainda estar, mesmo assintomático, transmitindo, não vou usar máscara e vou relaxar’. Então a gente ainda não entende como a melhor proposta”, opinou Simone Tosi.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV