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Dificuldades de aprendizagem exigem acompanhamento médico

Embora o professor tenha condições de reconhecer distúrbios, diagnóstico deve ser feito pela equipe de saúde, alerta especialista da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB)

As dificuldades de aprendizagem podem estar relacionadas a métodos pedagógicos inadequados, problemas emocionais ou a distúrbios Foto: Divulgação

As dificuldades de aprendizagem podem estar relacionadas a métodos pedagógicos inadequados, problemas emocionais ou a distúrbios como dislexia, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dentre outras.

Em entrevista ao Jornal do Professor, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Nogueira Aucélio, neuropediatra, com atuação na área de medicina da criança e do adolescente, diz que alguns casos relacionados a distúrbios de aprendizagem exigem acompanhamento médico.

“É muito importante o professor ter condições de reconhecer que o aluno pode apresentar dificuldades de aprendizagem, mas o diagnóstico deve ser feito pela equipe de saúde”, ressalta o especialista.

Confira a entrevista:

Jornal do Professor – O que são dificuldades de aprendizagem e quais as principais?

Carlos Nogueira Aucélio – Dificuldade de aprendizagem é qualquer ocorrência na esfera acadêmica que possa desencadear um prejuízo no ato de aprender. A dificuldade pode estar relacionada a métodos pedagógicos inadequados, problemas emocionais ou a distúrbios (TDAH, dislexia e outros).

Em quais casos há necessidade de acompanhamento médico? Como é feito o diagnóstico? Qual o papel do eletroencefalograma?

Os casos que exigem acompanhamento médico são os distúrbios de aprendizagem nos quais o estudante apresenta disfunção neurológica. Há a necessidade de melhor investigação. O diagnóstico é eminentemente clínico. A depender do caso, devem ser acrescentados exames complementares, como o eletroencefalograma (EEG), estudo do PE 300, avaliação neuropsicológica (Wisc, Waiss, PAC e outras). O papel do EEG é avaliar a maturidade bioelétrica cerebral e verificar a presença de descargas epilépticas.

Fala-se de um eventual excesso de prescrições de remédios a estudantes para que “fiquem quietos” ou “prestem mais atenção às aulas”. Isso é real?

Os critérios de diagnóstico, evolução e acompanhamento do tratamento estão hoje muito bem definidos. Assim, fornecem à equipe de saúde maior segurança em medicar. Mas é importante frisar que o diagnóstico da disfunção deve ser criterioso. Infelizmente, há casos como aqueles de “concurseiros”, que têm feito uso de medicações, sem necessidade, com a finalidade de aumentar a performance em seus estudos. Caso o indivíduo não tenha indicação de tratamento, não é aconselhável fazê-lo.

Qual o papel do professor no reconhecimento das dificuldades dos alunos e no encaminhamento dos mesmos à consulta médica?

Estudos têm demonstrado que o principal encaminhamento para a equipe de saúde é realizado pelos professores. É muito importante o professor ter condições de reconhecer que o aluno possa apresentar dificuldades de aprendizagem, mas o diagnóstico tem de ser feito pela equipe de saúde.

Qual o papel dos psicopedagogos no atendimento a estudantes que apresentam dificuldades de aprendizagem?

O papel principal do psicopedagogo é descobrir junto ao aluno as melhores estratégias de estudo e aprendizagem.

O atendimento a alunos com dificuldades de aprendizagem deve ser feito de forma interdisciplinar?Com certeza. O diagnóstico e o tratamento devem ser feitos pela equipe multidisciplinar (neuropediatras, pediatras, hebiatras, psiquiatras, oftalmologistas, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos, ortoptistas, professores). Cada caso é um caso. Dependendo do paciente, torna-se necessário o parecer desses profissionais