Prédios coloridos de rosa são um alerta para uma doença silenciosa e perigosa. Desde a última quarta-feira (1º), o país inteiro se tingiu de rosa, para chamar a atenção para o diagnóstico precoce do câncer de mama.
O outubro rosa busca alertar as mulheres para a importância da prevenção e o diagnóstico no estagio inicial da doença. O problema começa quando as mulheres atendem ao chamado da campanha, mas de alguma forma são barradas.
Na Grande Vitória registramos casos em que algumas mulheres buscam as Unidades da Saúde (US) para fazer a mamografia, mas não conseguem agendar o exame. Há quatro meses, a secretária executiva, Lícia Santana Marcelino, tenta marcar a mamografia na US do Barro Vermelho, em Vitória, mas não tem sequer previsão de quando fará o exame. “Posso dizer que o mês por aqui (em Vitória) está sendo negro, não está sendo rosa não. Eu acho uma irresponsabilidade você manter informações que não condizem com a realidade. A Prefeitura rompeu o convênio que mantinha com o (hospital) Santa Rita que viabilizava as mamografias, e não há perspectiva alguma do retorno deste convenio”, afirmou Lícia.
A Secretaria Municipal de Saúde de Vitória informa que disponibiliza mensalmente cerca de 1.400 exames de mamografia. E que a paciente Lícia Santana Marcelino é atendida pela US de Santa Luíza, segundo seu prontuário, ela utiliza toda rede municipal de saúde. No prontuário eletrônico constam faltas no atendimento e a própria paciente relatou nesta quinta-feira (02) aos atendentes da unidade que sua mamografia foi agendada, mas a mesma não pode comparecer ao exame e faltou sem cancelar. A secretaria orienta que a paciente retorne à unidade para agendar novamente o exame.
Em Vila Velha, a dona de casa Eliete Borges Marinho, de 50 anos, também sofre para marcar os exames. Desde abril ela tenta fazer a mamografia e está preocupada, pois além de um nódulo no seio, ela tem casos de câncer na família. “A minha irmã fez mamografia e estava saudável, mas em seis meses os seios dela começaram a lacrimejar, ela voltou ao SUS e teve que operar para retirar a mama”, concluiu Eliete.
Porém, de acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde de Vila Velha, na ficha da senhora Eliete Borges Marinho informa que o exame de mamografia foi solicitado no dia 03 de julho deste ano, e não em abril como afirmou. A dona de casa será contatada pela Secretaria na próxima semana para poder realizar o exame de mamografia.
Dados da Sociedade Brasileira de Mastologia indicam que somente em 2014, o Brasil deve registrar 57 mil novos casos de câncer de mama. Mas segundo os especialistas, o diagnóstico precoce eleva as chances de cura da doença para 95%.
Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Cláudia Mameri, só o rastreamento anual a partir dos 40 anos, é possível detectar precocemente e reduzir as taxas de mortalidade e de morbidade.
Contudo, em 2013 o Governo Federal tornou a restringir o acesso à mamografia. Uma portaria do Ministério da Saúde (MS) alterou de 40 para 50 anos a idade recomendada para a realização da mamografia. Essa portaria do MS é questionada pelo Conselho Federal de Medicina, parlamentares e especialistas, mas ainda não foi revogada. Além disso, as mulheres sofrem com a burocracia. Segundo a Secretaria de Saúde do Espírito Santo, cabe às prefeituras realizar o agendamento dos exames e cada município tem uma justificativa para não cumprir com a obrigação.
“Eu acredito que seja uma forma de economizar dinheiro, uma forma de não aumentar a demanda. Porque se coloca a idade de 40 anos, aumenta a demanda e com isso onera muito o Ministério”, acredita o médico oncologista Alberto Guerzet.
O médico, Alberto Meirelles Guerzet, atua há mais de vinte anos na área de oncologia ginecológica e atende casos de câncer de mama no Hospital Santa Rita, o hospital de referência no Estado para esta doença. Ele destaca que a portaria do Ministério também determina a realização de mamografia em apenas um seio. Na opinião do especialista, o governo criou uma verdadeira roleta russa. “Qual das duas que vai escolher para ter câncer, se a pessoa tem duas mamas, tem que realizar a mamografia nas duas”, afirmou o oncologista.
Em matéria publicada no site da Secretaria Estadual de Saúde, no ano passado foram realizados quase 90 mil exames de mamografia. Em média, o governo investe cerca de R$4 milhões por ano na realização do procedimento de prevenção. E importante lembrar que, se a doença for descoberta de maneira precoce, a chance de cura é de 90%.