São Paulo – Em estudos realizados com camundongos gestantes, cientistas da Universidade Washington, em St. Louis (Estados Unidos) mostraram que uma droga utilizada contra a malária é capaz de proteger os fetos da infecção pelo vírus da zika. Os pesquisadores verificaram que a droga interfere no processo pelo qual o vírus manipula uma barreira natural do organismo e consegue infectar o bebê.
De acordo com a autora principal do estudo, Indira Mysorekar, a droga já tem uso aprovado em mulheres grávidas, o que poderá acelerar o processo de testes clínicos para uso em humanos. O estudo foi publicado nesta segunda-feira, 10, na revista científica The Journal of Experimental Medicine.
Estudos anteriores já haviam mostrado que o feto em desenvolvimento é especialmente vulnerável aos danos causados pela infecção por zika e que o organismo humano mobiliza robustas defesas para impedir que o vírus chegue a ele. No processo de infecção, a placenta é a última linha de defesa do feto.
Para realizar o novo estudo, os cientistas infectaram células de placentas humanas com o zika e constataram que a exposição ao vírus ativa genes ligados ao processo de autofagia. Entretanto, ao tratar as células com drogas que estimulam o processo de autofagia, o número de células infectadas como o zika aumentou.
“Aparentemente, o vírus da zika tira vantagem do processo de autofagia na placenta para manter sua sobrevivência e para infectar mais céulas placentárias”, explicou Bin Cao, pós-doutorando do grupo de Indira que também participou do estudo.
Cinco dias após a infecção, as mães com pouca resposta autofágica tinham a mesma quantidade de vírus na corrente sanguínea que os camundongos com resposta normal. No entanto, entre os animais com autofagia fraca, os cientistas encontraram 10 vezes menos vírus na placenta – que havia sofrido menos danos – e no cérebro dos fetos.
Seguindo o tratamento, os cientistas descobriram uma quantidade consideravelmente menor de vírus nas placentas dos fetos cujas mães haviam recebido hidroxicloroquina. Além disso, essas placentas apresentaram menos danos e os fetos tinham peso normal.
Embora a hidroxicloroquina venha sendo utilizada com segurança em mulheres grávidas por curtos períodos, os cientistas alertam que será preciso realizar novos estudos antes que a droga possa ser aplicada em mulheres para a prevenção dos efeitos da infecção por zika. Para ser eficaz, é possível que a droga precise ser utilizada por toda o período de gestação e a segurança da hidroxicloroquina a longo prazo é desconhecida.