É “absolutamente possível” que Vladimir Putin, presidente da Rússia, aja “com pouco ou nenhum aviso” em ataque à Ucrânia, disse nesta segunda-feira o porta-voz do Pentágono, John Kirby, em coletiva à imprensa. Ele afirmou ainda que os Estados Unidos acreditam que uma decisão final não foi feita pela Rússia.
“Ainda acreditamos que é possível e preferível um caminho diplomático”, disse ele.
De acordo com Kirby, Putin continua a aumentar sua preparação e a se dar mais opções caso opte por uma abordagem militar. “Ele está fazendo todas as escolhas que você esperaria que ele fizesse para estar pronto para opção de ataque militar”.
Pouco antes da coletiva, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse, através do Facebook, ter sido avisado de que seu país seria atacado pela Rússia na próxima quarta-feira, 16.
Questionado sobre o assunto, Kirby disse que o líder “pode postar o que quiser, quando quiser”. “Ele não precisa nos consultar. Ele é o líder de um Estado soberano.”
O porta-voz do Pentágono se recusou a precisar uma data para o ataque e considerou que isso “não seria inteligente”. “Não vou falar sobre questões específicas da Inteligência americana. Temos dito há algum tempo que a ação militar russa pode acontecer a qualquer momento”, afirmou Kirby, que garantiu que os EUA têm compartilhado as informações que obtêm com seus aliados.
Em relação às tropas enviadas para a Polônia, ele afirmou não haver “plano ou intenção” de que sejam deslocadas para a Ucrânia.
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Casa Branca: continuamos vendo aumento de força militar russa nas fronteiras da Ucrânia
Os Estados Unidos seguem vendo aumento das forças militares russas próximo à fronteira com a Ucrânia, reforçou a Casa Branca. Em coletiva à imprensa, a vice-secretária de imprensa da administração, Karine Jean-Pierre, reiterou que ainda não está claro qual caminho a Rússia escolherá seguir na atual crise.
“Estamos em uma janela na qual a invasão poderia acontecer a qualquer momento”, afirmou. Jean-Pierre se recusou a comentar sobre a possibilidade de unidades russas já estarem prontas para o ataque, como reportado pela CBS News.
A porta-voz disse repetidamente que não iria comentar sobre qualquer informação ligada ao serviço de inteligência americano.
Jean-Pierre afirmou que os EUA estão preparados para uma solução diplomática e desescalada militar, “mas agora cabe a Vladimir Putin tomar a decisão”.
Em relação ao fechamento da embaixada americana em Kiev, a porta-voz disse que a expectativa é de que seja retomada “quando for possível”. Até o momento, ela reiterou o pedido para que os cidadãos americanos que puderem deixarem a Ucrânia.
EUA: Departamento de Estado pede saída de americanos de Belarus
O Departamento de Estado americano atualizou nesta segunda-feira, 14, sua recomendação para cidadãos nacionais em Belarus, afirmando que aqueles que estão no país “devem partir imediatamente por meios comerciais ou privados.
Na lista de países da autoridade, as viagens para a nação não são indicadas, e a aplicação arbitrária das leis, o risco de detenção e o “incomum” acúmulo militar russo ao longo da fronteira de Belarus com a Ucrânia são citados como motivação.
“Os cidadãos dos Estados Unidos localizados ou considerando viajar para a Belarus devem estar cientes de que a situação é imprevisível e há uma tensão elevada na região”, afirma o Departamento de Estado.
Em 12 de fevereiro de 2022, governo americano ordenou a saída da maioria dos funcionários contratados diretos dos EUA da Embaixada de Kiev devido à ameaça contínua de ação militar russa, lembra a autoridade, que afirma ainda que possível assédio direcionado especificamente a estrangeiros também pode ocorrer.
Os cidadãos americanos “são aconselhados a evitar manifestações públicas e reavaliar regularmente possíveis planos de partida em caso de emergência”, segundo o Departamento de Estado.
ONU: secretário-geral se diz profundamente preocupado com potencial confronto na Europa
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, se disse nesta segunda-feira, 14, “profundamente preocupado com a escalada de tensões e um potencial confronto na Europa”.
Em pronunciamento, o português disse que o custo para a Europa e a segurança mundial é demasiado alto em caso de uma confronto entre Ucrânia e Rússia para “ser contemplado”. Segundo ele, “simplesmente não podemos aceitar nem a possibilidade de algo tão desastroso”.
Na visão de Guterres, “abandonar a diplomacia pela confrontação é um passo para o precipício”. Concluindo, o secretário afirmou: “meu apelo é que não falhem em chamar pela paz”.
Ainda nesta segunda-feira, o português conversou com o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, que disse ter tido uma chamada “importante sobre maneiras de diminuir a crise de segurança criada pela Rússia”.
Em seu Twitter, o ucraniano afirmou que “a diplomacia é a única forma responsável” e que é “confiante de que a ONU pode e deve participar ativamente dos esforços diplomáticos da Ucrânia e de seus parceiros para reduzir as tensões”.
Biden e Johnson reafirmam apoio à soberania e à integridade territorial ucraniana
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou nesta segunda-feira com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, sobre os “recentes contatos diplomáticos com Ucrânia e Rússia”, segundo comunicado da Casa Branca.
A dupla analisou o reforço militar russo na fronteira ucraniana e “reafirmou seu apoio à soberania e à integridade territorial da Ucrânia”.
Segundo a nota, ambos ainda estão dispostos a “impor consequências severas sobre a Rússia, caso ela escolha mais escalada militar”.
Biden e Johnson ainda discutiram os esforços para reforçar a postura defensiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em seu flanco leste, diz o comunicado.
Entenda o que acontece no país
A crise envolvendo a Ucrânia, Rússia, os Estados Unidos e a Otan já é antiga e tem origem no fim da Guerra Fria. Com o colapso dos regimes comunistas no Leste Europeu, a aliança militar entre europeus e americanos avançou rumo a leste, com países que antes eram da esfera soviética passando à zona de influência ocidental. Putin vê esse avanço como ameaça, em especial se a Ucrânia se tornar parte da Otan.
Fazer parte da aliança é um antigo desejo ucraniano, que vê na estratégia uma forma de se proteger das investidas russas. Uma vez parte da Otan, todo país que sofre alguma agressão recebe a ajuda imediata dos aliados. A Ucrânia se tornou uma candidata em 2018, mas não há uma definição de quando, e se, o país de fato fará parte.
A disputa atual teve início em novembro do ano passado, mas foi acirrada nas últimas semanas, depois de mais uma rodada de negociações frustradas entre representantes das diplomacias americana, europeia e russa.
Em meio às negociações, o vice-chanceler russo, Serguei Ryabkov, chegou a afirmar que não poderia “nem confirmar, nem excluir” a possibilidade de envio de recursos militares para Cuba e Venezuela se as negociações falhassem e a pressão dos EUA sobre a Rússia aumentasse.
No começo desta semana, Moscou também iniciou um deslocamento de tropas para Belarus, na fronteira norte da Ucrânia, sob a justificativa de participação em exercícios militares que serão realizados em fevereiro. Navios de guerra também foram enviados ao Mar Negro, onde a Península da Crimeia tem sua costa.