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E-mail apreendido pela PF revela sete erros que a Samarco teria cometido desde a construção de barragem

O e-mail teria sido enviado quatro dias após a tragédia que matou 18 pessoas, em novembro de 2015. A Polícia Federal afirma que os diretores da empresa sabiam desde o começo dos riscos

Mariana: cidade destruída Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Um e-mail apreendido pela Polícia Federal listando sete supostos erros na construção da barragem de Fundão, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, sustenta o que a PF havia afirmado em entrevista coletiva, na última quarta-feira (22), afirmando que a diretoria da Samarco sabia dos riscos que a barragem tinha. A tragédia do rompimento da barragem matou 18 pessoas e deixou uma desaparecida.

De acordo com o jornal Folha de São Paulo, no e-mail, são apontadas falhas que podem ter colaborado para que a tragédia acontecesse. A construção, por exemplo, teria registrado uma série de problemas e que a Samarco teria interferido alterando materiais.

Entre as falhas apontadas também está a alteração do projeto inicial da construção da barragem, além de mudanças no valor do contrato sem renegociação. O e-mail foi interceptado pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, e teria sido encontrado em caixas de entrada de dois diretores da empresa. O autor do e-mail, porém, é desconhecido.

Os erros apontados constam no documento da mineradora intitulado “Barragem do Fundão: Lições Aprendidas”. Segundo a Folha de São Paulo, o e-mail teria sido enviado quatro dias após a tragédia para a cúpula da empresa.

Vale e BHP Billiton cogitaram evacuar área de tragédia em 2012

À Folha, a Samarco, que pertence à Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, afirmou, em nota, que “os documentos apresentados pela PF estão mais uma vez fora de contexto. O texto ‘lições aprendidas’ foi escrito em 2012 e não está relacionado com o acidente de 2015. Além disso, não é um documento técnico do ponto de vista de geotecnia, mas uma visão de gestão de contratos entre Samarco e fornecedores”, diz.

As “lições aprendidas”

1) O projeto básico não foi devolvido à projetista para revisão e elaboração do projeto detalhado;

2) O projeto foi totalmente modificado após o início da construção. Passou-se de uma galeria de 90m de comprimento para duas de 500m, por exemplo;

3) A fiscalização ficou a cargo de duas empresas (Pimenta de Ávila e Logos), o que dividiu responsabilidades;

4) Vários problemas ocorreram durante a construção; a Samarco interferiu o tempo todo, alterando os materiais;

5) A equipe de projeto não acompanhou o início da operação, e a documentação com orientações não foi repassada à equipe de operação

6) Quando se viu que o projeto havia sido totalmente alterado, houve mudança no valor do contrato sem renegociação;

7) A Camter não foi chamada para dar garantia técnica quando os problemas começaram, e sim meses depois, quando a construção já havia sido alterada.

Fonte: Polícia Federal, reprodução do jornal Folha de São Paulo

PF: diretores da Samarco sabiam de tudo

PF: Samarco sabia dos riscos Foto: Reprodução/TV Vitória

Excesso de água nos rejeitos de minério, equipamentos reaproveitados e com defeito, falhas de monitoramento, e operação acima da capacidade. Estas foram algumas das causas apontadas no relatório final da Polícia Federal sobre a tragédia provocada pelo rompimento da barragem com rejeitos de minério. Segundo o relatório, os problemas começaram ainda em 2008, na construção da barragem.

“A Samarco assumiu o risco porque tinha conhecimento de todos os problemas que a barragem tinha desde a construção. Tinha conhecimento das reformas que foram feitas nela sem projeto. A mineradora aumentou a produção e utilizava essa mesma barragem que já era problemática, utilizando acima que as normas técnicas recomendadas para a continuidade, além de ter um controle deficitário na área de controle da barragem”, afirma o delegado de repressão a crimes contra o meio ambiente e patrimônio histórico e cultural de Minas Gerais, Roger Lima de Moura.

No próximo dia 5 de julho, o rompimento da barragem de Fundão que destruiu o distrito de Bento Rodrigues e atingiu diversas cidades mineiras e do Espírito Santo, completa sete meses. 18 pessoas morreram e uma ainda está desaparecida. Ao todo, oito pessoas, além da Samarco, Vale e Consultora VogBR foram indiciadas no inquérito.

“O que ficou apurado é que houve uma sequência de falhas na operação, que contribuíram para o rompimento. Entre essas falhas estaria um alteamento da barragem em uma velocidade maior que a recomendada. Além de não ter sido identificado nenhum documento que pudesse comprovar que houve alguma análise de estabilidade para a execução deste tipo de recuo”, afirma o perito criminal federal, Bruno Teixeira Dantas. O relatório final, agora, será encaminhado para o Ministério Público Federal (MPF).

Procurada, a Samarco disse, por meio de nota, que os documentos apresentados pela Polícia Federal estão fora de contexto. “O texto ‘lições aprendidas’ foi escrito em 2012 e não está relacionado com o acidente de 2015. Além disso, não é um documento técnico do ponto de vista de geotecnia, mas uma visão de gestão de contratos entre Samarco e fornecedores”, afirmou a mineradora.