O pouso de um balão na BR-262 e a aterrissagem de um outro balão em uma região de mata, após decolagem e voo no céu de Pedra Azul, em Domingos Martins, região Serrana do Espírito Santo, neste domingo (11), causaram estranheza, mas o piloto responsável pelos voos garante que tudo foi muito seguro.
Em entrevista ao Folha Vitória, Luciano Gross Caetano, que tem mais de 14 anos de experiência e atua na empresa Voe Pedra Azul como responsável pelos pilotos dos balões, defendeu que, ao contrário do que muitos pensam, o balonismo no Brasil é uma atividade segura.
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No domingo pela manhã, a forte neblina fez dois pilotos de balões, um com 5 pessoas e outro com 13 pessoas, decidirem pousar em um trecho da BR-262 e em uma região de mata.
Segundo Luciano, a previsão do tempo, que era monitorada pela empresa, mostrava a possibilidade de voo naquele momento. Entretanto, o tempo fechou de maneira repentina e, por precaução, os pilotos fizeram os pousos nos locais verificados.
Confira a entrevista do piloto ao Folha Vitória:
Quais os procedimentos de segurança adotados nos voos de balão?
Luciano Gross Caetano: Os procedimentos são adotados conforme a regulamentação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e conforme as normas internacionais de balão.
Um balão pousar na rodovia não é o melhor, não é um procedimento de emergência. O que tivemos ali foram pousos em que o ângulo que tira a foto você pensa “tivemos um pouso de emergência”. Na verdade, todo pouso de balão pode ser considerado, nesse ponto de vista, um pouso de emergência, pois não sabemos onde ele vai pousar.
Não temos uma rota de voo, onde o balão vai decolar de determinado ponto e pousar em determinado ponto.
O balão vai pousar em qualquer terreno. Sendo que, em ventos fracos pode ser um terreno pequeno, que sirva apenas para arrumar o balão ou no vento mais forte, escolhemos um terreno maior onde o balão possa fazer uma aproximação semelhante de uma pista de pouso.
Seguimos orientações internacionais de voo de balão, tenho experiências internacionais. Já voei em Taiwan, no Chile, e os procedimentos são comuns entre pilotos.
Quando tem neblina, qual a orientação?
Luciano: Temos por orientação não voar com neblina, tanto que quando os pilotos decolaram os balões em Pedra Azul estávamos com previsão dos institutos de meteorologia que o tempo iria abrir. Estávamos com o visual do céu.
Lá em Pedra Azul, quando decolaram o balão, já não existia mais neblina e tínhamos a previsão de que a neblina ia abrir.
Mas, a medida que os dois pilotos decolaram, o balão foi em direção a Aracê e ali ainda existia neblina. A previsão de voo era ir para São Paulinho, outra localidade, do outro lado da Pedra Azul, onde o céu estava abrindo, mas não aconteceu.
Com isso, passa a ser um voo mais técnico. Os nossos pilotos usam um aplicativo que sabe, mesmo voando na neblina, o que tem embaixo, onde podemos pousar o balão para evitar pegar em florestas ou fios.
Pode ser no meio da rodovia?
Luciano: O pouso no meio da BR não é recomendado para não atrapalhar o trânsito, porém já temos histórico de pousos que aconteceram em BR ou em marginal de BR, não aqui em Pedra Azul.
A ideia inicial era fazer o pouso no terreno, mas não tinha como o carro entrar para guardar o balão, e ele foi deslocado para a marginal da BR para ser desinflado depois.
Em qual frequência são registrados pousos forçados ou as chamadas “intercorrências” nos voos?
Luciano: Por mais que não sejam considerados pousos de emergência esses que aconteceram na BR ou na clareira, foram as duas primeiras intercorrências que aconteceram nos voos em Pedra Azul.
Estamos com aproximadamente 120 voos na região, e foram as duas primeiras intercorrências.
Foi uma situação atípica, em que a previsão do tempo não seguiu aquilo que estava nos aplicativos de meteorologia. A previsão era que a neblina iria abrir.
A gente segue isso muito à risca. Inclusive, a cada previsão que os aplicativos dão, vamos anotando se podemos confiar ou não na previsão.
Mesmo que as previsões não tenham acontecido da forma como esperávamos, os pousos foram seguros. E isso é considerado seguro. Temos uma máxima que o pouso bom do balão é quando o carro chega embaixo, e ruim é quando o carro não chega.
Não era melhor ter abortado os voos na região?
Luciano: Depois que aconteceu esse incidente a gente sabe que o melhor era ter abortado os voos. Por vezes abortamos os voos. Já cancelamos uns oito voos, sendo que cinco poderiam ser realizados.
Tínhamos uma condição mais forte de vento na decolagem, que poderíamos decolar e pousar com vento mais fraco, mas sempre primamos pela segurança.
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O pousar com vento forte passa a ser inseguro, o pousar com neblina fica mais técnico, mas não chega a proporcionar risco, a medida que temos o visual dos fios.
As pessoas estão criticando esses pousos, na BR e na mata.
Luciano: É triste ver os comentários porque tenho 14 anos de experiência de piloto e balão e vemos as teorias mais absurdas. As pessoas escrevem nos posts situações como “risco de morte”.
Temos histórico de mais de 40 anos de balonismo no Brasil. Em´ Praia Grande, Boituva, em São Paulo, nos finais de semana decolam mais de 40 e 50 balões pela manhã de sábado e domingo.
Nesses 40 anos de balonismo no Brasil, tivemos apenas um incidente de vítima em 2009, onde não tínhamos essas previsões por meio de aplicativos. Foi o primeiro e único acidente com vítima e foi com um caso do “pré-frontal”.
Sempre que temos o “pré-frontal”, uma condição climática que pode mudar a qualquer momento, a gente aborta o voo, mesmo que o tempo esteja perfeito na hora da decolagem.
Estão ligando o balão ao “balão de papel”, mas a aviação no Brasil é segura. As aeronaves são de qualidade e é uma atividade muito segura. Ocorrência com vítima foi única.
Quem é o responsável pela regulação dos voos e orientação?
Luciano: Todo o controle da atividade do balonismo é feito pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que regulamenta os registros do balão. Os pilotos também têm registro da Anac.
Além disso, todos os pilotos possuem o Brevê – documento que dá ao seu titular a permissão para pilotar aviões.
Temos duas categorias de piloto de balão, os “brevetados e os desportistas”. Os pilotos possuem exames de saúde em dia, as mesmas regulamentações dos pilotos de avião. O brevê é atualizado a cada 2 ou 3 anos.
O QUE DIZ A EMPRESA DE BALÃO
A reportagem também procurou a empresa Voe Pedra Azul para falar sobre o assunto e sobre a segurança nos voos e pousos.
O responsável, André Leibel, não deu entrevista, mas encaminhou duas notas, uma sobre o pouso na BR e outra sobre a aterrissagem na mata.
“Houve a necessidade do pouso técnico, pois uma frente fria se aproximou muito rápido, oportunidade que o piloto optou por pousar com segurança. Antes do pouso programado, a equipe de apoio de 6 pessoas estava a postos na BR para ser interrompida, nos dois sentidos, atividade que durou cerca de 5 minutos até a retirada do equipamento”, diz a nota referente ao pouso na rodovia federal.
Sobre o outro pouso, André Leibel enviou a seguinte resposta:
“Decolagem às 07:43, o piloto fez um pouso numa capoeira dentro da propriedade de Ivan Pianzola no Redentor, porém o local, por ser topo de moro, não havia acesso de carro normal, apenas motos. Em 20 minutos a equipe de apoio de 6 pessoas da empresa chegou ao local, para realizar o transporte dos passageiros de volta para Base em Pedra Azul. No voo havia uma idosa de 75 anos, com artrose e o joelho operado, motivo pelo qual foi solicitado o apoio dos Bombeiros. Todos os passageiros e o piloto ficaram bem, e a todo momento o piloto com sinal de celular fazia contato com a equipe”.