A questão da adoção no Brasil envolve uma matemática perversa. O número de meninas e meninos à espera de uma família é 10 vezes menor do que o número de famílias que querem adotar.
A pergunta portanto é: por que ainda há crianças nos abrigos?
Apenas aqui no Espírito Santo há mais de 100 crianças na fila para adoção. E a Região Sudeste é a que concentra o maior número.
O primeiro ponto é que as famílias, de maneira geral, procuram um perfil específico: bebês.
Acontece que a maior parte das crianças, 70% delas, têm acima de 8 anos. Quanto mais o tempo passa, mais difícil fica.
A morosidade da Justiça também é um desafio, ainda que haja iniciativas positivas como, por exemplo, cadastros nacionais e digitalização de processos.
A pandemia de Covid agravou a situação, pois dificultou as entrevistas presenciais, e nem todas as varas da infância e juventude aceitaram conduzir os processos de maneira virtual.
Por outro lado, a pandemia também fez aumentar o número de mães que entregaram os filhos para adoção legal, principalmente por dificuldades financeiras e familiares.
Em muitos casos, a mulher é abandonada pelo marido. Sem uma estrutura familiar e sem o acolhimento de instituições públicas não consegue assumir a maternidade.
Há, portanto, que olharmos para a temática da adoção sob diversas perspectivas e entendê-la como uma questão social, para além de escolhas pessoais.
Este ano, com o processo eleitoral, temos uma nova oportunidade de ampliar esse debate.
Para tanto, é imprescindível que os candidatos a cargos executivos e legislativos, no âmbito estadual e federal, façam da adoção um dos pontos centrais das propostas de governo que serão apresentadas aos eleitores.