Entre os anos de 2012 e 2021, quase 10 mil crianças e jovens entre 10 e 19 anos tiraram a própria vida no Brasil. Infelizmente, no estado do Espírito Santo, os números não ficam para trás, quando foram registrados 128 casos de suicídio.
Os dados se baseiam em registros do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Ao todo, no período pesquisado, o Brasil registrou 9.954 casos de suicídio ou morte por lesões provocadas intencionalmente.
Em entrevista ao Folha Vitória, a presidente do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Luci Pfeiffer, alerta que é necessário falar sobre os conjuntos de sinais dados pelas crianças e adolescentes.
“Eles começam a se isolar de tudo e de todos que gostavam, acabam abandonando os interesses que possuem. Além disso, é notável quando não possuem metas para serem realizadas em curto e longo prazo, isso é um grave alerta”, disse a especialista.
>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Participe da nossa comunidade no WhatsApp ou entre no nosso canal do Telegram!
Cobrança é intensa entre crianças e adolescentes
A especialista ressalta que, atualmente, pais e responsáveis, sem perceber, acabam gerando uma intensa cobrança e exigências sobre as crianças.
“Se cobra muito pelos resultados, pela educação, pelas notas, temos a pressa e a preocupação intensa com o futuro, como e fosse o principal valor para as crianças. Dessa forma, elas ficam terceirizadas”, ressalta.
Além disso, durante a pressa e correria do dia a dia, o diálogo e os momentos de conversa entre pais e filhos são deixados para trás. Ocorre, dessa forma, o enfraquecimento de vínculos familiares.
“Os pais e responsáveis muitas vezes só sabem que o filho está desistindo da vida após o conhecimento da primeira tentativa de suicídio. Entretanto, existem muitos alertas que podem ser observados”, narra.
>> Infarto é a doença que mais mata no ES; veja cuidados para prevenir
São presentes subnotificações dos casos
A especialista também afirma que, além disso, há uma falha grande nos registros das tentativas de suicídio. “Dificilmente uma criança ou adolescente chega à morte na primeira tentativa. E elas devem ser levadas muito a sério”.
Além disso, há um certo “encobrimento”, onde é acreditado que a situação foi apenas um acidente ou um caso isolado enfrentado pelo filho. “Entretanto, todos os casos devem ser investigados”, narra.
Quais alertas podem ser identificados?
Conforme a presidente do departamento, Luci Pfeiffer, de maneira preliminar, é necessário que os pais e responsáveis percebam os sinais e sintomas dos filhos. “Temos que perceber a importância de se falar sobre isso, dos sinais de alerta para procurar ajuda, “porque há um problema a tratar”. Confira alguns sinais:
– Desinteresse ou prejuízos no núcleo escolar;
– Isolamento ou afastamento dos familiares e amigos;
– Desinteresse nas atividades que gostava de fazer.
O que fazer caso identifique sinais?
Caso os pais ou responsáveis, identifiquem os sinais dos filhos, é necessário escutar o lado dos filhos. A partir da constatação da problemática, a criança deve ser levada a um pediatra para uma avaliação geral. “Essa avaliação deve conter profissionais da área de saúde mental e outros profissionais multidisciplinares”.
A especialista ressalta que, além do paciente, que sofre com as dores, a família também deve passar pelo acompanhamento psiquiátrico. “Toda a família deve ter um acompanhamento de equipe multidisciplinar, com psiquiatra, pediatra e psicólogo, diante desse assunto delicado”, ressalta.
Como pedir ajuda?
Os jovens e adolescentes podem narrar os problemas e pensamentos suicidas de maneira direta aos pais, responsáveis, amigos ou indivíduos do circuito escolar.
Entretanto, caso não se sintam confortáveis para tratar sobre o tema, podem contar com o contato do 188, número do Centro de Valorização à Vida (CVV), para conversar após precisar de apoio emocional.
O CVV é uma entidade civil que oferece apoio voluntário, gratuito e anônimo, em prol, principalmente, da prevenção do suicídio.
O Centro de Valorização funciona 24h, sendo ofertado não só por telefone, mas também por e-mail e pelo chat do site, para quem quer conversar em tempo real e não gosta tanto de ligações. O e-mail também é respondido dentro de 24h e pode dar início a uma sequência de conversas sem limites para ser finalizada.
LEIA TAMBÉM: Crianças sobem em trem na Serra e se desesperam por pararem em Fundão