A criatividade aliada à inovação pode ser a chave para todo e qualquer nova iniciativa ou empreendimento: são pontos de um processo que busca inserir algo novo ou solucionar um problema à vista. O quadro atual da crise sanitária desencadeada pelo novo coronavírus, causador da covid-19, há meses tem sido um prato cheio de obstáculos e preocupações para o setor privado, social e governamental.
Apesar do país contar com o Sistema Único de Saúde (SUS), um sistema de saúde robusto e referência em atendimento público, o volume de demanda crescente causado pela doença ainda é motivo de precaução e insegurança pela possibilidade de escassez de materiais e recursos. Por outro lado, o momento de pressão e instabilidade tem funcionado como combustível para mentes inquietas e dispostas a gerar valor comunitário e mercadológico, com soluções para proteção, combate e gestão da pandemia.
As iniciativas partem de diferentes territórios, instituições, parcerias e empresas, passando por equipamentos de proteção, protótipos de respiradores, sistemas para desinfecção de ambientes, entre outros. São produtos e serviços gerados a partir da criatividade propositiva, capazes de causar impactos locais que, somados, fazem a diferença em um momento social inédito em escala e proporção.
Um exemplo de esforços voltados para o enfretamento à covid-19 é o Centro de Pesquisa & Desenvolvimento da ArcelorMittal Tubarão, localizado na sede da empresa, na Serra. Junto com parceiros internos e externos, os pesquisadores da siderúrgica têm se dedicado a encontrar formas de auxiliar no combate à covid-19.
Por meio de parcerias e pesquisas, foram desenvolvidas algumas soluções para a prevenção e tratamento dos pacientes com o vírus.
“Algumas funcionalidades garantem mais segurança aos pacientes de hospitais, como a criação de protetores faciais adequados para bebês recém-nascidos e um dispositivo de isolamento com pressão negativa, que evita a disseminação do vírus por aqueles que estão em tratamento. Dois protótipos de respiradores estão em fase de testes, além da parceria para a recuperação de mais de 100 respiradores que estavam com defeito”, explica Charles Martins, gerente geral da empresa.
Um dos dispositivos que está em fase final atualmente é o capacete de pressão negativa. Quando colocado sobre a cabeça do paciente, naturalmente é criado um isolamento. O diretor-clínico do hospital Santa Rita de Cássia, Alexandre Cantarella Tironi, está empolgado com a novidade. O hospital vai receber 15 unidades do dispositivo para o uso em pacientes diagnosticados com a covid-19.
“Nós percebemos a necessidade e reparamos que em outros países, havia pessoas fazendo uso desses dispositivos. Em conversa com um amigo que trabalha na Arcelor, ele disse que havia um centro de pesquisa da empresa e que, talvez, poderia desenvolver esse projeto. Juntos, pensamos em maneiras de transformar essa ideia em um produto. Agora, vamos começar a testar no hospital, no sentido de tentar mitigar a contaminação no âmbito hospitalar”, disse o diretor clínico do hospital.
Criar um quarto de hospital com pressão negativa é algo complexo: demanda muito dinheiro, tecnologia, infraestrutura e pode demorar até anos para ficar pronto. De acordo com o gerente geral da ArcelorMittal, no caso do capacete de pressão negativa, em menos de um dia ele fica pronto, com custo-médio de R$ 1.200,00.
“É um grande desafio que traz muita satisfação para mim e para todos os envolvidos no processo. O Centro de Pesquisa da ArcelorMittal Tubarão é uma fábrica de ideias, a gente precisa estar o tempo todo buscando soluções inovadoras. E quando nós nos deparamos e vimos que, colocar pressão negativa no quarto de um paciente contaminado demandaria algo grande, pensamos em um dispositivo barato. Após quatro meses, tivemos um resultado positivo e um custo interessante”, afirmou Charles.
Desinfecção
Para melhorar a higiene de superfícies , o Centro de Pesquisa & Desenvolvimento da ArcelorMittal Tubarão desenvolveu uma caixa de desinfecção com raios UV-C. Os fótons energéticos desse tipo de luz são capazes de eliminar vírus e bactérias. Os primeiros testes foram realizados em veículos e, posteriormente, o projeto foi expandido, por meio da criação de caixas para a higienização de equipamentos como rádios e detectores.
No interior da empresa, a novidade está sendo usada também para a desinfecção de equipamentos. O sistema que emite os raios UV também foi instalado, por exemplo, na tubulação do restaurante. A luz forte emitida pelo sistema é capaz de renovar o ar do refeitório que os funcionários almoçam. Uma tecnologia estudada pra ir de encontro a uma grande necessidade na pandemia.
Para chegar até o resultado final, o grupo que pesquisadores da ArcelorMittal se uniu ao Núcleo de Física da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Para o professor da Universidade e físico nuclear, Marcos Orlando, a caixa ficou em baixo custo, uma tecnologia bastante avançada e um projeto arrojado, um dos melhores projetos que o professor já conheceu comparando com o de outros estados.
“O projeto estava em desenvolvimento pela eficiente equipe do centro de pesquisa da empresa. Havia uma dúvida sobre a questão da radiação. Foi nesse contexto que pude dar minha parcela de colaboração. A radiação ultravioleta, ela tem a propriedade de quebrar a molécula da água. Esse é o ponto chave. Quando você irradia com o ultravioleta, você quebra qualquer molécula, inclusive a proteína que liga o vírus a célula. Com isso, você mata a ligação do vírus, que tem uma proteína na capa dele. A radiação quebra essa molécula”, explica o físico.
Mudanças que demorariam décadas para acontecer tornaram-se uma realidade apressada por causa da pandemia do novo coronavírus. Consciência maior em relação às formas de consumo, trabalho remoto, eventos virtuais, ensino híbrido. As transformações impostas pela Covid-19 não devem ficar no passado quando o problema de saúde pública for superado.
“Desde o início da pandemia, cerca de 10 pesquisadores do nosso time estão envolvidos em diversos projetos. É motivo de orgulho e satisfação contribuir na prevenção e combate à covid-19”, ressalta o gerente geral, Charles Martins.
Inovação x saúde
O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da ArcelorMittal, sediado na unidade de Tubarão, foi criado com o objetivo de aprimorar o desenvolvimento de produtos e de processos da empresa, mas o conhecimento da área vem sendo utilizado também para ajudar a desenvolver soluções focadas no atendimento de pacientes acometidos pela covid-19 e na prevenção.
A equipe de pesquisadores atua de forma integrada e em conexão com os outros 11 Centros da empresa espalhados ao redor do mundo, compartilhando boas práticas e oferecendo o que há de melhor em termos de pesquisa em saúde.
– Protetor facial
Um tipo de protetor facial (face shield) que pode ser adaptado ao capacete dos trabalhadores foi desenvolvido em parceria com o Findeslab. O protetor é feito em impressora 3D e o objetivo é ampliar a proteção. Um modelo semelhante também foi desenvolvido para adaptação à face de bebês recém-nascidos e algumas unidades já estão em uso na maternidade do Vitória Apart Hospital. O objetivo é protegê-los de contágio durante a permanência em hospitais. Esse tipo de máscara está ajudando a proteger também as equipes que atuam na área de saúde.
– Respirador
O protótipo de um respirador simplificado, baseado em modelo nacional, foi desenvolvido pela empresa e testado com sucesso no Hospital das Clínicas, em Vitória. Os testes ainda serão realizados em outras unidades de saúde. O respirador é um equipamento fundamental para a recuperação de pacientes acometidos pelo coronavírus.
– Reparo em equipamentos hospitalares
Manter os equipamentos funcionando é imprescindível para os hospitais que são referência no tratamento da covid-19. A ArcelorMittal Tubarão contribui com esse processo ao participar de um projeto de reparo de equipamentos defeituosos. O trabalho, que já recuperou 113 respiradores, envolve também a parceria da Ufes, Senai-ES, Vale e TecSaúde.
– Revestimento antimicrobiano
Desenvolvido pela equipe do Centro de Pesquisas para ser aplicado em superfície metálica, um revestimento antimicrobiano pode evitar a proliferação do vírus. A iniciativa está em estudo e buscando parceria da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.