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Encontros virtuais ajudam a dar continuidade a processos de adoção no ES durante a pandemia

De acordo com o Tribunal de Justiça do Estado, atualmente 108 crianças e adolescentes estão à espera de uma família no Espírito Santo

Foto: Divulgação

A pandemia do novo coronavírus não paralisou o processo de adoção de crianças e adolescentes no Espírito Santo. Uma campanha do Tribunal de Justiça do Estado (TJES) tem promovido encontros virtuais entre crianças e adolescentes à espera de adoção e pretendentes. Com isso, novas famílias estão se formando no estado, mesmo com o primeiro contato sendo feito à distância.

De acordo com o TJES, atualmente 108 crianças e adolescentes estão à espera de uma família no Espírito Santo, embora o número de pretendentes cadastrados seja bem maior. Ao todo, 808 famílias estão na fila para adoção.

Com tanta gente querendo adotar, os abrigos do estado poderiam estar vazios. O problema, segundo o coordenador da Comissão Estadual Judiciária de Adoção, Helerson Elias Silva, é que o perfil desejado pelos pretendentes nem sempre bate com as caraterísticas das crianças e adolescentes que aguardam acolhimento.

“A conta não fecha porque a maioria dessas crianças que estão disponíveis são maiores ou têm uma doença ou pertencem a grupos de irmãos, que são essas categorias em que geralmente é um pouco mais difícil a adoção. Quando você tem um bebê saudável, ele não fica muito tempo nessa fila. Às vezes, em questão de uma semana ele já sai”, afirmou.

E foi justamente para aumentar as chances de adoção de crianças e adolescentes que permanecem nos abrigos, que foi criada a campanha “Esperando por Você”. No portal da campanha, na internet, são divulgados vídeos que contam um pouco mais sobre a meninada. O site para conhecer as crianças e saber mais sobre a campanha é o www.tjes.jus.br/esperandoporvoce.

Ao todo, 50 crianças e adolescentes já participaram da campanha, criada em 2017. Até agora, 11 foram adotados e quatro estão em aproximação. 

Durante a pandemia do novo coronavírus, o processo passou a ocorrer pela internet. Os encontros com pretendentes agora são por videochamadas. “Evidentemente, por causa da pandemia, nós não podemos ter um contato de tato. Mas tem o olhar, a audição, a percepção que vem junto com o olhar”, destacou a psicóloga Cláudia Murta.

A campanha é uma tentativa do Tribunal de Justiça do Espírito Santo de impedir que crianças e adolescentes permaneçam nos abrigos até completarem 18 anos, já que, ao atingir a maioridade, eles precisam deixar esses lares.

“É muito triste quando um adolescente faz 18 anos na instituição de acolhimento, porque ele sai dali sem o apoio de uma estrutura familiar para lhe ajudar. Por mais que o Estado possa entrar ajudando, fazendo o encaminhamento para emprego, dando algum salário ou alguma coisa nesse sentido, não é como ter uma família de suporte, que você sabe para onde você pode voltar e onde você pode ter ali um porto seguro”, frisou Helerson.

Reencontro

Foi por meio dos vídeos da campanha que a policial militar Thaís Pereira Marabá conheceu a pequena Heloísa, uma menina de 1 ano, com deficiência física e mental. Há pouco mais de um mês, Thaís, moradora de Maceió (AL), veio ao Espírito Santo buscar a menina em um abrigo. 

“Foi o nosso reencontro. Porque quando eu a vi, eu falei: ‘o que a minha filha está fazendo lá? Vou lá buscar'”, lembrou a policial. Atualmente, Thais e Heloísa vivem na capital de Alagoas e formam uma bela família.

“A adoção é meramente o modo como essa criança chega para a gente. Quando a pessoa engravida, ela está predisposta a amar e cuidar de alguém que ela não conhece, que ela não sabe como vem, não sabe os gostos, não sabe a personalidade. Então por que seria diferente quando a gente vai adotar? Por que a gente ainda faz um check-list para amar? O exercício do amor é gratuito, incondicional”.

E foi o amor pela música que uniu o casal de cantores Lício Bruno e Adalgisa Rosa e o menino Benjamin, hoje com 7 anos de idade. Há cinco anos, o casal de Vila Velha viu o garoto, pela primeira vez, em um abrigo do Estado para crianças e adolescentes disponíveis para adoção. Adalgisa conta que jamais esquecerá esse momento.

“Benjamin estava lá chorando muito. Ele estava doente. Eu fiquei ansiosa e pedi para pegá-lo. Fui com ele para o corredor e comecei a cantar para ele. Ele acalmou naquele momento. Aí eu olhei para ele e perguntei: ‘você é meu filho’? Ele respirou fundo e colocou a cabeça no meu peito. Aquele momento foi o meu parto”.

Lício incentiva outras pessoas que queiram ter filhos a procurar um abrigo para crianças e adolescentes.

“Tem muita criança com o coração aberto para ter um pai e uma mãe, e precisando contar só com a generosidade. Depois desse primeiro ato de generosidade, de abrir a porta do coração, o amor entra, porque a porta do coração está aberta”.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV