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Engenheiros, professores e chefs de cozinha fogem da Síria e tentam recomeçar a vida no Espírito Santo

A ONG recebe os refugiados e iniciam um processo de adaptação local e assessoram na obtenção de documentos como passaporte, CPF, cartão do SUS, dentre outros documentos

Refugiados vem ao Estado Foto: Reprodução/Agência Lusa

O jovem missionário Weston Lee, de 25 anos, largou a vida que levava no Estado da Florida, nos Estados Unidos, para vir ao Espírito Santo ajudar refugiados sírios que chegam com esperança de terem uma vida nova no Brasil.

Lee é voluntário da Organização Não-Governamental (ONG) Mais, que fica no Centro de Vila Velha. A ONG tem, atualmente, oito sírios e um africano, todos refugiados. A Mais recebe os refugiados e iniciam um processo de adaptação local e assessoram na obtenção de documentos como passaporte, documentos de identidade, cartão do Sistema Único de Saúde (SUS), dentre outros papéis.

“Nossa ONG tem cerca de 70 voluntários e nosso objetivo é acolher os refugiados de uma maneira completa, ou seja, nós damos apoio desde a chegada deles aqui até a inserção deles no mercado de trabalho. Existem refugiados que estão aqui no Espírito Santo há mais de um ano e já estão independentes com emprego e moradia”, diz Weston Lee.

O missionário já esteve em outros países através da ONG que abriga refugiados Foto: Arquivo Pessoal/Facebook

A recepção e cuidado com os refugiados se desenvolve em três etapas. O primeiro contato é feito por uma sucursal da ONG em São Paulo, que realiza uma triagem e define para onde os imigrantes devem se encaminhar.

Alguns vêm para o Espírito Santo e, assim que chegam, a ONG oferece ajuda na obtenção de documentos, visitas pela cidade e o ensino do português. Na terceira etapa, os refugiados são inseridos no mercado de trabalho e incentivados a terem uma moradia.

“Os refugiados que recebemos muitos vêm com o sentimento de tentar uma vida nova, outros vêm sem muitas expectativas e alguns pensam em voltar para a Síria. Temos um rapaz, inclusive, que tem uma tatuagem escrita em árabe dizendo que quer voltar para a terra natal. A adaptação não é fácil para eles”, conta Lee.

A adaptação a terras capixabas não é fácil para a maioria dos refugiados. O idioma falado no país da Asia Ocidental, o Árabe, não lembra em nada o português. Os sírios precisam se alfabetizar do zero e aprender os costumes brasileiros, que são diferentes dos árabes.

“O choque cultural deles é muito grande. O alfabeto é todo diferente, nós precisamos começar do zero com eles. O que pode ajudar é que o grau de escolaridade dos refugiados que recebemos é alto. Nós recebemos sírios engenheiros, professores, chefs de cozinha… Todos que precisam aprender a cultura local”, conta Lee.

A ONG abriga refugiados da Síria e também de países do continente africano que moram no ES Foto: Divulgação

A ONG que começou com projeto de refugiados no Espírito Santo desde o terremoto no Haiti, em 2010, agora prevê um aumento no número de refugiados sírios no Estado, já que o governo brasileiro, através do Comitê Nacional de Refugiados (Conare), estendeu o prazo de facilitação de concessão de vistos a refugiados daquele país. O projeto teme, porém, não ter estrutura suficiente para receber a todos.

“Nós acreditamos que com o aumento da crise humanitária, nós vamos receber mais refugiados daqui para frente. Não posso dizer que não temos estrutura, mas não queremos receber os refugiados só por receber. Queremos acolhê-los e inseri-los na sociedade de maneira digna para que eles possam recomeçar suas vidas”, completa Lee.

A ONG Mais, acrônimo de Missão de Apoio à Igreja Sofredora, atua no Centro de Vila Velha e tem o apoio de uma igreja evangélica da cidade. A instituição aceita doações de quem possa ajudar e informações podem ser obtidas através do telefone 27 3208 0785, ou pelo endereço eletrônico.

A crise humanitária

De partir o coração: criança fez sinal de rendição ao confundir câmera com uma arma Foto: Reprodução/Twitter

Com isso, o número de refugiados sírios no Brasil é superior ao dos Estados Unidos, com 1.243, e ao de alguns países europeus como Grécia, 1.275 refugiados, Espanha, 1.335, e Itália, 1.005.

O mundo enfrenta a pior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo dados da Organização Internacional para as Imigrações (OIM), só em 2015, 365 mil imigrantes atravessaram o Mar Mediterrâneo, e mais de 2,7 mil morreram na travessia. Um caso causou comoção quando jornais publicaram a foto de um menino sírio de três anos, que morreu afogado quando a família tentava a travessia do mar Egeu.