O marceneiro Helio Felipe dos Anjos Martins, de 26 anos, foi réu de um julgamento cometido por moradores do bairro em que mora. Após o assassinato de uma criança de apenas 7 anos, ele foi condenado por pessoas que se dizem justiceiras e, precipitadamente, deram a sentença: saquearam a casa de Hélio e atearam fogo na residência.
“Não quero acusar ninguém. Várias pessoas do bairro, que até participaram de todo o ato vieram comentando e dizendo que a responsabilidade foi do pai da criança. Eles só alegaram que pudesse ser a vingança. Até citaram que ameacei eles. Eu jamais conseguiria ameaçar ninguém. Também tenho família”
Helio Felipe é marceneiro e casado. Ele e a esposa esperam um bebê, previsto para nascer em maio. O morador do bairro Nova Esperança, em Cariacica, teve a casa invadida por mais de dez suspeitos na última quinta-feira (14), que levaram todos os eletrodomésticos e móveis e chegaram a incendiar o quarto da bebê.
“Entrei em desespero e pedi ajuda. Eu estava de longe, sem poder fazer nada. Só pensei que estava perdendo tudo que conquistei trabalhando ao longo de todos estes anos. A minha casa não estava como eu queria, mas sempre foi um sonho que conquistei com muito esforço, mas vi indo por água abaixo”.
Tudo aconteceu após a morte de Ricardo Coelho Rodrigues, de 7 anos. A criança era vizinha de Hélio e morreu vítima de um disparo de arma de fogo, poucas horas antes da invasão à casa do marceneiro. Ainda sem saber quem matou a criança, boatos começaram a se espalhar na comunidade apontando Hélio como assassino.
“Quando cheguei no alojamento, vi os status dos vizinhos, supostamente condenando uma pessoa por ter feito algo. Eu vi que alguma coisa aconteceu do lado de casa. Logo em seguida, um amigo mandou mensagem dizendo que esperava que eu tivesse como provar que eu não estava lá no bairro. Foi aí que liguei os fatos. Entrei em contato com minha família, com minha esposa e falei para ela sair. Logo em seguida, recebi a notícia que tinham entrado na minha casa, mas achei que era polícia. Me ligaram perguntando onde eu estava e eu contei que estava a trabalho”, contou.
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Helio confirmou que já discutiu com o pai do pequeno Ricardo no mês passado, depois que teve a vidraça da casa quebrada por algumas crianças. Ele chegou a registrar um boletim contra o homem após ser agredido.
“Tudo começou com uma brincadeira de criança, normal. Aconteceu um incidente e eu procurei os pais e achei que iria ser só aquilo ali. Mas o rapaz que fez a acusação alongou as coisas e disse que não tinha nada a ver com aquilo e que não iria pagar. Nós moramos no mesmo bairro e sempre passávamos por lá (próximo à casa) e toda vez a gente se sentia pressionado. Um certo dia, eu parei na rua e ele começou a discutir. Eu parei minha moto, ele me agrediu e correu pra dentro de casa. Eu fiz um boletim e a gente acabou saindo do bairro”, relatou.
Um dia após a morte de Ricardo, a polícia revelou a principal linha investigativa: a de que o tiro foi acidental e disparado de dentro de casa. O fato inocenta Hélio.
Na data da morte da criança, o marceneiro estava trabalhando na localidade de Alto Castelinho, em Vargem Alta, a mais de 110 quilômetros de casa. No dia, ele bateu o ponto na empresa onde trabalha às 19h37, mais de duas horas após o crime. Ainda sim, ele alega que algumas pessoas chegaram a inventar que o viram na cena do crime.
“Chegaram a falar que me viram no bairro, subindo as escadas da minha casa, como se eu tivesse voltando de algum lugar. Disseram que viram eu descendo da moto e fazendo isso com a criança. Entendo, entre aspas, que os justiceiros de bairro estão ali tomando conta, mas o pior é o que induz alguma coisa. Infelizmente pessoas que me viram crescer compraram essa ideia”, lamenta.
Na data da morte ele chegou a ser contactado pela Polícia Civil. “Eles me ligaram pedindo para eu comparecer à delegacia para esclarecer, mas eu disse que estava longe, a trabalho”, contou.
Depois que perceberam a inocência de Helio, alguns vizinhos que participaram da ação começaram a devolver algumas coisas. “Vários amigos meus estão colaborando e fazendo de tudo para me ajudar. Meu pais e uns amigos estiveram na minha casa para tirar o que ficou. Enquanto eles estavam lá, aconteceu que alguém, em um terreno do lado deixou um dos eletrodomésticos lá e saiu. Vizinhos passam e olham, pensando que estão arrependidos”, contou.
Prestes a receber a filha que está para vir ao mundo, Helio perdeu tudo. O quarto da bebê já estava montado e agora tudo virou cinza. A casa que ele montou durante anos, assim como a residência da irmã, que fica no primeiro andar, foi tudo perdido.
Helio não pretende voltar a morar no local e não sabe como vai ser a partir de agora. No momento, ele está focado em dar suporte à esposa e começar de novo.
“Estou tentando manter o controle, até porque tenho uma pessoa comigo em uma situação delicada. Minha mulher está vivendo a gravidez e sentindo tudo. Tento colocar o pé no chão e a única coisa que tentei desde o início era provar minha inocência. Tivemos um livramento e agora vai ser um passo de cada vez.
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*Com informações da repórter Nathália Munhão, da TV Vitória / Record TV