A onda de lama com rejeitos de minérios de ferro, que contaminou o Rio Doce após o rompimento das barragens da Samarco em Mariana (MG), ainda não chegou ao Espírito Santo, mas já se aproxima da divisa do Estado com Minas. À bordo do helicóptero Trovão Azul, a equipe de reportagem da TV Vitória/Record sobrevoou o leito do Rio Doce, na tarde desta segunda-feira (09), e conseguiu registrar sinais da lama no trecho do rio que passa pela cidade mineira de Resplendor, próximo ao limite com Conselheiro Pena, também em Minas Gerais.
O registro ocorreu por volta das 15 horas. A lama percorre a calha do Rio Doce em direção ao Espírito Santo e, segundo boletim divulgado às 14 horas desta segunda pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce), deve chegar a Baixo Guandu na madrugada desta terça-feira (10). Em Colatina, a lama deve chegar durante o dia de terça e, em Linhares, durante o dia de quarta-feira (11).
Em Baixo Guandu, primeiro município capixaba a ser afetado pela onda de lama, a manhã desta segunda-feira foi de lojas abertas e comércio funcionando normalmente, apesar da tensão provocada pela iminente chegada dos resíduos de minério. Em supermercados do município, a procura por água mineral foi tão grande que o estoque acabou em poucos minutos, mesmo antes de o abastecimento de água ser suspenso na região.
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Um sistema de comando de operação formado pelas defesas civis de Colatina, Baixo Guandu e estadual vem acompanhando o deslocamento da lama ao longo do Rio Doce. O sistema iniciou suas ações de informação e aviso à população na manhã de domingo (08), por meio de aeronave e carros da Defesa Civil.
Um dos fatores que preocupam as autoridades envolvidas no gerenciamento da passagem da massa de lama no Espírito Santo é o baixo nível do Rio Doce. Quanto menor a vazão dele, maior o tempo em que a lama deverá permanecer correndo pelo rio. Isso pode trazer ainda mais prejuízos não só para o meio ambiente, mas para toda a população que vive ao lado do rio.
Em Colatina, outro município que será atingido pela lama, o dia foi de aula normal nas escolas públicas, nesta segunda. No entanto, a previsão é que elas sejam suspensas assim que a onda de lama chegar à cidade, já que o abastecimento de água deverá ser seriamente prejudicado.
Fórum de Colatina só atenderá casos de emergência
Também por conta do desastre ambiental provocado pelo rompimento das barragens em Mariana, o presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), desembargador Sérgio Bizzotto, determinou que o expediente do Fórum de Colatina será realizado por meio de plantão até a próxima sexta-feira (13), sendo mantido o atendimento apenas nos casos emergenciais.
O pedido à Presidência do TJES foi feito pelo juiz diretor do Fórum de Colatina, Fernando Antônio Lira Rangel, que, por meio de ofício, comunicou a situação crítica do abastecimento de água no município, que é toda captada no Rio Doce.
De acordo com o TJES, por meio do requerimento, o juiz externou preocupação em manter ativo o funcionamento do Fórum nestas condições, uma vez que o consumo de água é muito grande e a reserva não suporta a demanda sem reposição. O presidente do TJES acolheu o pedido, entendendo ser uma medida prudente.
Investigação do Ministério Público
O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) informou que instaurou, nesta segunda-feira (09), um inquérito civil para apurar as consequências e os impactos sociais e ambientais provocados, em municípios capixabas, pelo rompimento das barragens da Samarco em Mariana. O inquérito será conduzido pelo Centro de Apoio Operacional da Defesa do Meio Ambiente (Caoa) e pelas Promotorias de Justiça dos municípios capixabas afetados.
O órgão informou ainda que uma equipe técnica do MPES está em Colatina para monitorar e avaliar os efeitos da onda de lama, proveniente do desastre em Minas Gerais, na água do Rio Doce.
O Ministério Público ressaltou também que realizou, nesta segunda-feira, uma reunião preliminar com a Samarco para discutir o assunto. A reunião será retomada na terça-feira (10) e, na ocasião, a mineradora deverá apresentar ao MPES um plano concreto de ações emergenciais e um plano de abastecimento de água para os municípios de Baixo Guandu e Colatina.