Permanecendo à frente da Secretaria de Estado de Educação (Sedu) na nova gestão de Renato Casagrande (PSB), Vitor de Angelo anunciou que uma das novidades para 2023 será o lançamento do programa “Escola do Futuro“, onde haverá um maior diálogo entre as práticas de ensino, tecnologia e de inovação.
A ideia é reunir e dar apoio a ideias e iniciativas que já estejam em funcionamento na rede estadual de forma voluntária e que lidam com cultura digital para que ganhem status de programa com a chancela da secretaria.
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Dessa forma, elas passariam a ser implantadas em todas as escolas se tornando políticas públicas de ensino.
Além do aproveitamento de sugestões de professores, pedagogos e diretores, o programa prevê parcerias entre escolas, empresas, hubs de inovação. Atualmente, a rede conta com 200 mil alunos e 450 escolas. O ano letivo de 2023 começa em 2 de fevereiro.
“Não é fazer dicotomia entre escola do futuro e escola do passado. Mas o ensino deve preparar os estudantes para as competências do século XXI. Ninguém vai questionar que inovação e tecnologia são base constituinte disso. É nessa perspectiva de futuro que estamos falando. Volto a dizer, todas as escolas têm algo nesse sentido mas são lampejos. O esforço é trazer isto para a secretaria e fazer uma política pública com intenção de estabelecer isso na escola como um todo e, em algum momento breve, em todas as escolas da rede”, apontou.
O programa está em finalização e será lançado ainda neste semestre. O início dessa maior presença tecnológica no cotidiano dos estudantes foi dada no final de dezembro, quando a Sedu entregou 10 mil novos computadores para as escolas, modernizando o parque tecnológico da rede.
Em entrevista à Folha Vitória, o secretário disse que a preocupação com as perdas educacionais, ainda provocadas pela pandemia de coronavírus continuarão no radar da pasta em 2023.
No auge da pandemia, o Brasil foi o país em que deixou as escolas mais tempo fechadas. O programa de reforço escolar, lançado em julho de 2021, terá ajustes mas continuará sendo amplamente posto em prática. Atualmente, o reforço é oferecido nas disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática, no horário de contraturno ou durante o turno tendo um professor auxiliar.
“Daremos uma grande atenção às perdas de aprendizagem dos estudantes. Isso é um desafio que não se encerrou com a pandemia de coronavírus, que também não se encerrou. Precisaremos este ano de continuar com uma política forte, focada, de recomposição dessas aprendizagens que é o nosso Programa de Fortalecimento da Aprendizagem (PFA). Vamos dar prosseguimento a esse programa, aprofundá-lo, aprimorá-lo, sendo uma parte importante do que faremos este ano”.
“A duração do PFA será indeterminada. A gente avalia, por ora, que ele é necessário. Porque essas perdas dizem respeito à pandemia e as perdas da pandemia possivelmente se prolongarão ainda durante algum tempo com a chamada Geração Covid”, desenvolve.
Confira os temas pontuados pelo secretário para a Sedu a partir de 2023
Queda no índice no Ideb
O ensino médio do Espírito Santo alcançou o terceiro lugar no ranking nacional com a nota 4,5 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em setembro de 2022.
O resultado apontou uma queda de três posições do Estado pois, em 2019, o ensino médio capixaba havia obtido o primeiro lugar no ranking nacional com nota de 4,8.
“A posição de terceiro não é ruim, absolutamente. Isso aconteceu porque o que mais contribuía para a nossa posição no Ideb era a qualidade do ensino nas nossas escolas. A nossa escola importa para o resultado. Durante a pandemia o que nós tivemos: o fechamento da escola. Perdemos o nosso principal referencial. Não que deixamos de ensinar, mas colocamos o estudante numa outra forma de ensino em que outros Estados já tinham largado na frente”, compara, apontando que contexto enfrentado pelos estudantes e professores de somente terem aulas remotas acabaram por afetar a aprendizagem, já que não estavam acostumados ao modelo remoto.
Ele acredita que o índice tende a subir com a reabertura das escolas e o retorno do ensino presencial, iniciados em fevereiro de 2022. “Apesar de termos perda de aprendizagem, aumento de abandono e isso poder prejudicar o próximo Ideb, entendo que o fato de termos reaberto as escolas já nos colocará numa posição boa com melhoria no índice porque voltaremos a ter o nosso principal trunfo”, destacou.
Parcerias com os municípios
O secretário disse que há preocupação com o ensino fundamental (do primeiro ao nono ano), apesar de ser responsabilidade das prefeituras. Quando considerado o Ideb, a queda do Espírito Santo é mais dramática. Nas séries iniciais do fundamental (do 1º ao 5º ano), no ranking geral, o Estado fica na 7ª posição geral, com nota abaixo da média do Sudeste e só um pouco superior à média nacional. No recorte específico da rede pública, a nota é inferior à média do Sudeste.
Nas séries finais do fundamental (do 6º ao 9º ano), a situação é pior. Neste ranking, o Estado aparece em 9º lugar, empatado com o Piauí e com nota inferior à média nacional e também à média do Sudeste.
Vitor de Angelo citou que foram feitos investimentos em torno de R$ 600 milhões na rede física escolar dos municípios e que também há um programa de reforço sendo implementado.
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“Entendemos que a melhoria física das escolas é importante até para diminuir evasão. Apoiamos com material didático que foi ampliado na minha gestão, entre 2019 e 2022. Neste primeiro ano estamos ampliando inclusive com um material de Matemática porque se existe uma questão de alfabetização no primeiro ano, a Matemática vai se tornando a disciplina onde colhemos os piores resultados. Por isso, estamos finalizando um material de Matemática que será entregue agora para, além do primeiro, segundo e terceiro ano do Fundamental I será também para o quarto ano”.
No entender dele, o aluno da rede pública municipal deve estar no foco. “Não adianta achar que a responsabilidade de um aluno do fundamental é da prefeitura, como se o Estado não tivesse nada a ver com isso, porque depois quem terá que correr atrás do prejuízo de aprendizagem, de uma série de questões é a rede estadual”, compara.
Concurso público
O Estado realizou concurso público na Educação no último ano. Foram ofertadas 1.500 vagas para cargos de professores, pedagogos e funções administrativas. Os aprovados tomaram posse neste mês.
“Acabamos de fazer um concurso. Eles tomam posse e farão curso de formação ao longo do mês de janeiro já que o período é de férias escolares. Eles tomam conhecimento do funcionamento e planejamento da secretaria da qual agora fazem parte. Previsão de mais concurso temos mas não sei se faremos este ano pois há um esforço burocrático que demanda um certo tempo”, aponta.
Ele diz que estuda uma remodelagem para que haja uma agilidade maior no lançamento de novos concursos. “A cada concurso é exigida uma burocracia que dura um ou um ano e meio. Ao longo deste governo, pode haver até mais de um, dentro do planejamento que estamos estudando”, pretende.
Segurança nas escolas
Em novembro de 2022, um adolescente de 16 anos invadiu duas escolas em Aracruz, entre elas a Escola Estadual Primo Bitti, e efetuou diversos disparos contra professores e alunos. Quatro pessoas morreram e outras 12 ficaram feridas. Entre os mortos estavam três professoras e uma estudante.
Na visão do secretário, a solução para evitar atos extremos não passa por aumentar o aparato de segurança na estrutura das escolas.
“Somos totalmente contrários à militarização da escola. E quando falo este termo não me refiro à força policial. Não há evidências de que tudo será resolvido dessa perspectiva. Não adianta a gente achar que uma escola ou secretaria terão essa resposta mesmo se fizer todo esse esforço de militarização das escolas, de colocar pessoas armadas, detectores de metais, entre outras ações. Nada disso funcionou nos Estados Unidos”.
Para Vitor de Angelo, a questão é complexa e passa também por melhorias tanto na estrutura física quanto nos projetos pedagógicos e conteúdos atraentes das escolas.
“As escolas têm que ter uma rede física boa. Pois se ela não é bonita, não é boa, não é funcional, não vai trazer senso de pertencimento. O aluno não vai querer ficar ali. Normalmente esses estudantes (envolvidos nos atentados) têm um padrão, são isolados via de regra. Precisamos criar espaços de interação, ter atividades dentro e fora da escola. Tudo isso é importante para a gente trazer essas pessoas que são jovens, cujo destino está em disputa e acabam sendo levados por um caminho muito ruim que é o do crime. A escola tem o papel de entrar nessa disputa para que consiga ganhar este sujeito”, diferencia.
O secretário, no entanto, diz estar aberto, a sugestões. Diz não descartar as forças de segurança como consultoras no assunto.
“Para esse tipo de situação, estamos em conversa com a polícia, que tem condições de nos ajudar a entender. O que é eficaz, a gente implementa. Mas eu não entendo que passa para uma militarização da escola. A militarização que eu me refiro é a gente perder de vista que o foco da escola é no pedagógico e começar a criar toda forma de segurança na escola a ponto de no limite ela não se diferenciar de uma unidade prisional, com todo mundo confinado lá dentro”, reforça.
Bullying na escola
Ainda na questão dos atentados em ambiente escolar, Vitor cita especialistas para dizer que o bullying não pode ser considerado como relação de causa e efeito.
“No caso do rapaz de Aracruz, ele alegou ter sofrido bullying, mas não foi na Escola Primo Bitti. Ele sofreu bullying em outra escola de Santa Cruz. E por que ele foi na escola particular? Ele nunca estudou lá. Não foi por causa do bullying. Ele foi lá para cometer um ato de violência. Que pode ter no bullying uma motivação, mas não foi só isso. Se pode ter, a gente combate. Esses atentados em escola têm se intensificado não é pelo bullying e, sim, nas outras entradas que o problema traz”.
Ele diz que nos últimos 10 anos, houve registros de 17 atentados em escolas no país. “Nove foram somente no segundo semestre do ano passado. Não foi por aumento de bullying certamente. O que aumentou no Brasil, de lá para cá, foram discurso de ódio, discurso de violência, facilitação de porte e acesso a armas e munições”, enumera, dizendo que a questão é complexa e deve ser encarada do ponto de vista sociológico.
“Não se conhece nenhuma mulher que se cometeu esses ataques, nem no Brasil ou em outro lugar do mundo. Somente homens. Precisamos de uma explicação sociológica para entender que só homens atacam escolas. É um problema que não se resolve só na arma, só um detector de metal. Seria muito simples, bastava comprar essas coisas. Mas você tem misoginia, racismo, homofobia, bullyng, porte de arma, rede social desregulamentada. Se alguém picha símbolos nazistas no azulejo de um banheiro, não é a polícia que vai ver, é a escola. Se a escola não vê, não dá atenção ao que aconteceu para que se chegasse a essa situação, ela não está dando uma contribuição importante. Lógico que a escola faz parte dessa discussão”, destaca.
MEC de Bolsonaro x MEC de Lula
Vitor de Angelo acredita que o diálogo com o Ministério da Educação (MEC) na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja mais constante e com mais sintonia do que foi nos anos do governo Jair Bolsonaro.
“No governo Bolsonaro houve várias fases. Foram cinco ministros. Da segunda metade do governo Bolsonaro, tivemos um grupo de gestores que tínhamos diálogo. Mas a agenda, o foco do que eles elencavam como prioridade era complicado. Os ministros e suas equipes falavam, às vezes, até falavam de temas de Educação mas que eram secundárias e também do que não era da Educação, acabando por tumultuar a Educação”, relembra.
Com o novo governo federal, ele acredita haver um maior encontro de pautas entre as gestões.
“Estou esperançoso que a gente tenha diálogo enfocando uma agenda de prioridades comuns. A alfabetização e as escolas de tempo integral, que foram assunto de campanha do presidente Lula (inclusive no organograma do MEC passa a ter uma diretoria focando nisso) são exemplos de que merecem destaque e que estão alinhadas com o que estamos fazendo aqui”, aponta.
“Nós implementamos mais de 100 escolas de tempo integral de 2019, quando iniciamos, até o ano passado e agora mais 23. Recebemos 32 e hoje temos 154”, informa.