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Especialista defende projeto de piscinão para conter enchentes no ES

Paulo Canedo destacou projeto elaborado para o município de Vila Velha Foto: Divulgação

Deslocar para campos de futebol e outras áreas inabitadas as águas que invadem as casas e os estabelecimentos comerciais durante as inundações. A proposta, já implantada em outros estados, foi apresentada pelo especialista em Hidrologia Paulo Canedo, durante a sessão especial de abertura do 1º Seminário Chuvas no Espírito Santo, realizada na noite da última terça-feira (13), no plenário Dirceu Cardoso. O evento prossegue até quinta-feira (16), numa parceria entre Assembleia e Universidade Federal do Espírito Santo. 

Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Canedo contou que elaborou projeto semelhante para a Prefeitura de Vila Velha. De acordo com Canedo, a ideia é desenvolver “piscinões”, a exemplo de projetos com esse conceito implantados em regiões de alagamento do Rio de Janeiro e São Paulo. “A engenharia moderna nos oferece conhecimentos para pegarmos essa água que está enchendo as casas das pessoas e levá-la para encher regiões onde não mora ninguém. E depois, com calma, descarregar essa água no mar”, explicou. 

Em Vila Velha, dois grandes locais foram identificados como áreas para se tornar parques inundáveis. Uma delas é a região entre Vale Encantado e Portal das Garças e a outra em Jardim Marilândia, às margens da avenida Carlos Lindenberg.

O Estado viveu, em dezembro de 2013, uma de suas piores inundações, resultando na morte de 24 pessoas e mais de 40 mil desabrigados. 

Segundo o professor Paulo Canedo, esse processo de represamento das águas de enchentes para depois serem levadas para o oceano poderá ser utilizado também em áreas de alagamento na Grande Vitória, próximas ao mar. Já no interior do Estado, devido a características diferentes, geralmente relacionadas às cheias do Rio Doce, as formas mais eficientes de enfrentamento do problema ainda precisam ser estudadas. 

Centro de pesquisa

O 1º Seminário Chuvas no Espírito Santo – Compreensão, Prevenção e Enfrentamento – tem como proposta discutir ações preventivas contras os alagamentos em áreas habitáveis no Estado. Para a vice-reitora da Ufes, Ethel Leonor Noia Maciel, o evento vai ajudar no processo de implantação do centro de estudos avançados contra inundações que será criado pela universidade. “Decidimos criar esse centro após a tragédia provocada pelas inundações ocorridas no final do ano passado. Esse debate é importante porque queremos formar especialistas. Precisamos estar preparados para ajudar a sociedade no enfrentamento dessa questão”, afirmou. 

O presidente da Cesan, Paulo Ruy Carnielli, reforçou as palavras da vice-reitora sobre a necessidade de formação de especialistas capixabas em questões envolvendo inundações. “Pouca gente entende disso no País. Precisamos aprender a lidar com esse problema que exige planejamento e fortes investimentos”.  

Para o presidente da Ales, deputado Theodorico Ferraço (DEM), o seminário significa a preocupação dos deputados e da Ufes no sentido de despertar as autoridades competentes para que busquem soluções para os problemas ocasionados pelas enchentes antes que eles aconteçam. Da mesma opinião compartilha o deputado Roberto Carlos (PT): “Esse seminário é para não deixar apagar as tragédias das inundações da memória das pessoas; é para trazer a academia, a sociedade civil e as autoridades para esse debate”.  

As chuvas que caíram no Espírito Santo em dezembro de 2013 ocasionaram a morte de 24 pessoas, segundo dados da Defesa Civil estadual. Dos 78 municípios capixabas, 54 foram atingidos pelos temporais e enchentes e 45 decretaram estado de calamidade ou situação de emergência. Mais de 40 mil pessoas estiveram desabrigadas ou desalojadas de suas residências. O Governo do Estado estimou em mais de R$ 500 milhões a quantia necessária para recuperar o Estado totalmente. A Assembleia Legislativa destinou R$ 5 milhões ao Fundo da Defesa Civil para auxiliar o Executivo na ajuda aos afetados pelas chuvas.

O 1º Seminário Chuvas no Espírito Santo prossegue segue até quinta-feira (15) no Teatro Universitário, no campus de Goiabeiras da Ufes. O encontro reúne representantes, especialistas e técnicos dos governos federal, estadual e municipais; integrantes do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe); membros de universidades, da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, entre outros. 

Série especial na TV Vitória

Em janeiro deste ano, equipes da TV Vitória foram conferir de perto o processo de reconstrução de cinco municípios castigados pelas chuvas. Na série especial foram visitadas as cidades de Rio Bananal, Itaguaçu, Barra de São Francisco, Itaguaçu e Santa Teresa.

Somente na cidade de Rio Bananal, na região Norte do Espírito Santo, o prejuízo passa dos R$ 20 milhões.

Já a cidade de Itaguaçu teve mais de R$ 50 milhões de prejuízo e vai precisar, no mínimo, de dois anos para ser reconstruído. No Barro Preto, um dos bairros mais afetados pelas chuvas, três pessoas morreram e três casas desabaram.

Localizada no Noroeste do Estado, a cidade de Nova Venécia teve um prejuízo de mais de R$ 40 milhões. O nível do rio Cricaré, que corta o município, chegou a cinco metros acima do nível normal. No bairro Santa Luzia, várias casas ribeirinhas foram danificadas.

Os prejuízos  da cidade de Santa Teresa, região Serrana do Estado, ainda estão sendo contabilizados, mas de acordo com a prefeitura, a estimativa é que a cidade esteja toda reconstruída em um ano e meio.

Já o município de Barra de São Francisco foi atingido por três enchentes, uma no dia 17, outra no dia 21, e a última no dia 26 de dezembro, quando praticamente tudo foi destruído. De acordo com a prefeitura, o prejuízo passa de R$ 30 milhões.