As mudanças anunciadas nesta semana pelo governo no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) podem deixar o programa mais sustentável e aumentar o acesso ao crédito, mas também podem ser insuficientes para garantir a continuidade do financiamento. Especialistas e representantes de entidades ouvidos pela Agência Brasil avaliaram os prós e contras das alterações propostas pelo governo.
Para ele, mesmo com as medidas anunciadas, o Fies continua sendo uma “bomba-relógio” em termos orçamentários. “O Brasil vai ter que enfrentar em algum momento a discussão sobre a permanência do Fies e decidir se despende R$ 24 bilhões por ano em empréstimos subsidiados ou se busca um projeto de mais longo prazo de regulação do ensino superior e expansão da rede pública de ensino superior”, afirma Daniel Cara.
Após as alterações no Fies, o risco do financiamento, que atualmente é apenas do governo, será compartilhado com as universidades privadas. Os estudantes vão começar a pagar o empréstimo assim que tiverem renda formal, após deixar a faculdade, e o dinheiro será descontado diretamente do salário do empregado.
Ele também considera que o governo deve acompanhar melhor a qualidade do ensino oferecido pelas instituições privadas. “Essa é uma medida complementar absolutamente necessária, para você não estar oferecendo um produto para essa pessoa que não corresponda às expectativas, é um produto pelo qual ele pagou que ‘não serve para quase nada’ . E isso os estudantes não têm como controlar.”
Com as mudanças, a partir do ano que vem o Fies terá três tipos de financiamento: um com recursos públicos e outros dois com recursos de fundos regionais e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A previsão do governo é que sejam abertos 310 mil novos empréstimos no ano que vem, sendo que 100 mil serão ofertadas para estudantes com renda familiar per capita de até três salários mínimos a juro zero, incidindo a correção monetária.
Universidades
“Aumentar a participação das instituições nesse risco faz sentido para deixar o programa sustentável no longo prazo, não queremos que o programa morra. Mas isso precisa ser bem estudado, de forma que premie aquelas que façam mais gestão de inadimplência do que as outras que não façam”, diz o diretor da Semesp. Segundo o Ministério da Fazenda, a contribuição das universidades vai aumentar de 6,5% para 13% do valor do financiamento e vai variar de acordo com a inadimplência registrada pela instituição.
No último dia 07, durante o anúncio das mudanças no Fies, o ministro da Educação, Mendonça Filho, afirmou que as modificações garantirão a continuidade do programa. Ele mostrou dados segundo os quais, em seu formato anterior, o programa acumulava uma inadimplência de 46,4%, cujo risco terá que ser absorvido inteiramente pelo Tesouro Nacional. “Agora as instituições de ensino superior privadas serão sócias também da inadimplência, elas terão que zelar por cada real emprestado, e, se por acaso a inadimplência aumentar, elas terão que aportar mais recursos no fundo garantidor”, destacou o ministro.
Bancos
As novas regras do Fies vão valer apenas para contratos firmados a partir do ano que vem. Neste semestre, o MEC vai oferecer 75 mil novas vagas de contratos de financiamento, ainda com as regras atuais.
(As informações são da Agência Brasil)