Nesta segunda-feira (13), a partir das 9h, o governo do Estado irá lançar no Cinemark do Shopping Vitória a campanha “Compartilhe o Bem”. O objetivo principal do projeto é tentar diminuir o número de homicídios praticados por motivações fúteis que, de acordo com números da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), representam 40% do total de mortes no Espírito Santo.
Para explicar melhor o que será esta campanha, o Folha Vitória entrevistou o secretário da pasta, André de Albuquerque Garcia. Confira:
FOLHA VITÓRIA: Secretário, o que motivou a campanha Compartilhe o Bem?
ANDRÉ GARCIA: Nós estamos num processo, especialmente com relação aos homicídios, de redução. Estamos no sétimo ano consecutivo de redução. É um dado muito relevante porque nunca aconteceu na história do Estado. Quando vamos analisar qualitativamente chama a atenção o percentual de crimes que poderiam deixar de acontecer se houvesse de fato instalada na nossa vida a cultura da paz. São casos de vinganças pessoais, confusões em bares, crimes passionais, enfim, situações com motivação fútil que poderiam ser evitadas e não resultar em morte.
FV: Isso significa quanto do total de mortes?
AG: Chega a quase 40% dos homicídios. Se tivéssemos condições de todos fazer nossa parte e enfrentar de vez a cultura do egoísmo, do individualismo e da violência, conseguiríamos impactar em quase 50% as mortes.
FV: Mas como pretendem lidar com a dificuldade da Segurança Pública de adentrar nos espaços particulares, como casas, escolas e bares? Afinal de contas são nesses espaços que esse tipo de violência mais ocorre.
AG: A contribuição para a paz social começa em casa, na educação dos nossos filhos, que é fundamental. As pessoas confundem a escola como responsável para educar, quando na verdade a escola só existe para dar instrução. A educação tem que ser dada por pais e responsáveis. Não podemos transferir para a escola e para a polícia esse papel de educador. Queremos chamar atenção para a convivência pacífica, mediação de conflitos, de se tentar refletir a reprodução de padrões conservadores na relação entre homem e mulher e muitas coisas que temos que enfrentar.
FV: Na visão da Sesp, a educação seria a forma de resolver esses problemas?
AG: Se a gente tivesse de fato, no geral, pessoas educadas, que compreendessem seu papel e do próximo na sociedade, talvez não tivéssemos tantos crimes. Tudo de fato começa em casa. É muito inadequado para um cidadão ser violento em casa e exigir segurança na rua, porque além de estar praticando atos gravosos, perpetua a cultura de violência. A criança que apanha será adulta e irá reproduzir esse comportamento. Menino que aprende valores tortos em relação às meninas vai reproduzir isso no futuro. Então a gente quer dar um pontapé inicial, chamar atenção e mostrar que quando trabalhamos juntos podemos conseguir muito mais. É uma guerra do bem que estamos todos dispostos a fazer, porque temos certeza que se conseguirmos ultrapassar o muro que faz a gente enxergar que a vida não é essa violência a gente consegue muita coisa.
FV: Será uma campanha estritamente midiática?
AG: vamos fazer primeiro a reprodução nos rádios, cinemas e TVs, mas vamos tentar dar um grau, uma estratégia de perenidade nessa campanha que vamos definir ainda. Pretendemos levar essa discussão para as escolas, porque é uma forma de contribuir para que essa cultura de paz seja discutida. Se conseguirmos pelo menos a discussão disso, de respeitar o próximo, acho que vamos conseguir avançar.
FV: O senhor já comentou anteriormente que os números de homicídios caem há sete anos. Este ano foram registrados quantos crimes?
AG: Neste ano, até quinta-feira (9), houve redução de 22% no número de homicídios em relação ao mesmo período do ano passado, que vai de 1º de janeiro a 9 de junho. No ano passado estávamos com 697 homicídios nesse período; este ano são 542.
FV: A Grande Vitória ainda é a região mais violenta?
AG: A Grande Vitória é a mais violenta, mas todos os municípios da região estão com redução. Vitória está com 21% de redução, Vila Velha 12%, Serra 21%, Cariacica 39% e Guarapari 6%.
FV: A crise tem afetado de alguma forma os investimentos em Segurança?
AG: Estamos nos adequando aos tempos apertados. É fato que não tivemos redução do orçamento, mas também não tivemos aumento. Temos que fazer um trabalho intensivo de gastos e economizar o máximo possível na área meio para não impactar na área fim. E mesmo com a crise temos conseguido manter resultados como esses. Temos feito nos últimos dias muitas operações, prendendo assaltantes de coletivos, por exemplo. O indicador de desempenho operacional também está num ponto muito bom e isso a despeito da crise.