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Covid-19: resultado de testes deve elevar para mais de 100 o número de casos no ES, diz subsecretário

Luiz Carlos Reblin reforça a importância do isolamento horizontal, defende que o país não tem capacidade para promover o isolamento vertical e refuta a informação de que o Covid-19 resiste menos ao calor

Foto: Sesa/Divulgação

Somando os casos confirmados com aqueles ainda em análise laboratorial, o Espírito Santo deve ter mais de 100 pessoas com Coronavírus.  A estimativa é da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), tomando por base as estatísticas sobre a incidência da positividade no grupo de registros suspeitos, afirmou em entrevista ao Folha Vitória o subsecretário de Vigilância em Saúde do Estado, Luiz Carlos Reblin.

“Do grupo de pacientes que está aguardando essa análise laboratorial que vai ser intensificada a partir de hoje (sexta, 27), podemos afirmar que já teríamos 70 casos da doença, além dos 47 já divulgados, o que leva o Estado para mais de 100 casos de Coronavírus nesse período de um mês, desde 28 de fevereiro”, detalhou. 

Em território capixaba, há 1.039 pacientes aguardando o resultado do teste para saber se são portadores da covid-19, conforme o último boletim da Sesa divulgado na quinta-feira (26).

Reblin reforça a importância do isolamento horizontal (não restrita ao grupo de risco), alega que o país não tem capacidade para promover o modelo vertical (só no Estado, há mais de um milhão de pessoas vulneráveis) e refuta a avaliação do governo federal de que as condições climáticas do Brasil, com temperaturas mais altas, seriam um impeditivo para a aceleração da doença. 

 “O vírus não se incomoda muito com frio ou com calor. O que faz a transmissão aumentar no inverno é a proximidade entre as pessoas”, destaca.

E alerta: se a população relaxar nos cuidados, medidas mais severas que as atuais, com quarentena total, é que deverão ser tomadas pelo poder público em breve em caso de uma aceleração da doença e do colapso do sistema de saúde, cenário que foi visto em países como a Itália. 

Confira os principais pontos da entrevista

Isolamento, o remédio da hora

Até este momento, estamos iniciando uma série de novas conversações em todos os segmentos da sociedade organizada. Com segmentos da indústria, do comércio, com lideranças. O governador Renato Casagrande articulou todas essas medidas em vigor dialogando com toda a sociedade por meio de todas as suas representações.

A decisão do governo do Estado, que segue uma recomendação mundial de técnicos estudiosos que analisam o desenrolar da pandemia em todos os países, é que o isolamento social é hoje a ferramenta mais importante para reduzir esse impacto da curva, para fazer com que esses casos não cresçam tão abruptamente, para que possamos ter uma curva mais suave. Mantemos essa posição, mas o governo está dialogando com a sociedade para o convencimento dessa nossa estratégia.

Foto: Pixabay

Evolução dos casos. Como será?

Ainda temos um número de casos ainda muito pequeno para uma projeção mais segura, mais robusta. Os primeiros números nos apontam que estamos dentro da nossa expectativa. Temos hoje confirmados 47 casos [mais um  registro feito no Estado, mas que é de um paciente do Rio de Janeiro].

 No entanto,  do grupo de pacientes que está aguardando essa análise laboratorial que vai ser intensificada a partir de hoje (sexta, 27), podemos afirmar que já teríamos  70 casos da doença, além dos 47 já divulgados,  o que leva o Estado para mais de 100 casos de Coronavírus nesse período.

Não podemos confirmar porque esses exames estão sendo realizados. Estamos fazendo a projeção usando o modelo matemático. Para cada 10 casos que a gente testa, há aproximadamente um que se confirma. Assim, o número de pacientes que está aguardando o exame já nos permite dizer que temos 70 casos, o que nos eleva, com foi dito antes, para mais de 100 casos. Isso no período de um mês após a primeira notificação, em 28 de fevereiro.

Pico em abril e maio

A tendência é que tenhamos uma elevação mais significativa em meados de abril, atingindo o maior volume em maio. Só que, se nós mantivermos as medidas que foram adotadas de dias de isolamento social, de não circulação de pessoas, a nossa curva vai crescer numa velocidade menor. Isso faz com que tenhamos menos casos graves, menos gente indo para as unidades básicas de saúde, menos gente sendo internada. 

O isolamento social, quando os países o adotaram, eles tiveram esse resultado [menos aceleração nos casos]. Por isso é importante que façamos uma avaliação segura, com base nas recomendações de quem analisa, para que o nosso resultado seja melhor.

Avaliação da efetividade das medidas

Os casos que temos em suspeita ocorreram no período um pouco anterior às principais medidas. A positividade desses casos é em relação a uma data um pouco anterior às medidas. Essas medidas vão influenciar de 14 dias em diante.

Foto: TV Vitória
Comércio fechado por temor da pandemia

Vamos passar a medir com mais segurança no período aproximado de três semanas a partir do início dessas medidas, que não se iniciaram todas de imediato, num mesmo período.

 Então, vamos verificar a manutenção dessas estratégicas firmes, com isolamento, como a população tinha respondido num primeiro momento, 21 dias depois. Depois teríamos ter uma projeção da curva menor. Agora, se as medidas forem suspensas, e a circulação voltar ao patamar anterior, aí perdemos a capacidade de verificar se as medidas puderam de fato nos ajudar ou não.

 E aí, com o risco muito grande, como nos países que perderam a capacidade de isolar as pessoas, que registram muita gente doente, muitos óbitos. Então, as medidas que o Brasil ou o Espírito Santo adotarem precisam considerar o que aconteceu nos demais países. Analisar quem adotou o isolamento social e quem não adotou. Aí é só buscar as próprias notícias que vocês, da mídia, divulgam todos os dias e ver o que aconteceu.

Rigor nas medidas após relaxamento da população 

É pior o aumento do número de casos depois do afrouxamento de medidas visto em alguns países. Está até na própria diretriz do Ministério da Saúde. Quando você chega ao esgotamento da capacidade de atender as pessoas na rede saúde – e não é só rede pública, é rede privada também, está todo mundo no mesmo barco -, o que é preciso fazer aquele estado ou aquela região? Tem de decretar quarentena total. Aí, sim,  não ficam apenas na questão morte das pessoas pela doença, mas fica também todo o caos social, o fechamento pleno de todos. Ninguém pode sair. Ninguém pode fazer mais nada.

 Até o momento, o governo do Estado vem coordenando esse sistema de isolamento social. É claro que traz problemas, dificuldades, mas vem sendo mantida uma situação de controle. Se isso não for mais respeitado, seguido, a situação vai se deteriorar muito.

No isolamento vertical, teríamos de ter capacidade de isolar 600 mil idosos, 25% da população hipertensa, 10% da população diabética, milhares e milhares de pessoas que fazem tratamento contra o câncer, milhares fazendo hemodiálise, outros milhares que têm asma. Não temos capacidade operacional para fazer o isolamento vertical. 

Com quem ficariam as crianças que os avós cuidam? Então, o desenho seria impraticável. Agora, quando você faz o isolamento horizontal, você isola toda uma família, e ninguém sai a não ser que seja o estritamente necessário. Do ponto de vista operacional, tem mais condições de ser executado. No isolamento vertical, teríamos mais de um milhão de pessoas em necessidade de fazer seu isolamento total. O mecanismo para isso é frágil, não tem capacidade operacional para fazer.

Clima ameno ajuda?

  Os cientistas que analisam o vírus relatam que ele mantém sua viabilidade independentemente se está calor ou frio. Depende do que o carreia. O vírus não se incomoda muito com frio ou com calor. O que faz a transmissão aumentar no inverno é a proximidade entre as pessoas. Estamos nos aproximando, daqui a um tempo, do inverno, o tempo ficará mais frio. A aproximação das pessoas aumenta a transmissão das doenças no frio, e isso não só no coronavírus. Isso também também visto em todas as doenças respiratórias. O isolamento social terá uma importância maior ainda.

Articulação com as prefeituras 

Conseguimos uma aproximação muito grande com os prefeitos. Nosso discurso está muito próximo, muito organizado. Há um respeito muito grande pelos técnicos. É óbvio que a questão da economia é fundamental. Mas entre economia e perder vidas, eu fico com a salvação de vidas.