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Exatamente dois meses após primeiro óbito, ES registra novo recorde de mortes por covid-19

Estado passou de uma morte, no dia 2 de abril, para 664 nesta terça-feira. Já o número de casos disparou de 139 para 15.151 nesses 60 dias

Foto: Reprodução

Se há exatamente dois meses o Espírito Santo contabilizava a primeira morte por coronavírus, agora são dezenas de famílias que choram diariamente por perder um parente para a covid-19. E nesta terça-feira (02), o estado registrou mais um triste recorde: 36 óbitos em 24 horas, segundo dados do Painel Covid-19, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

Com isso, o Espírito Santo passou de uma morte, no dia 2 de abril, para 664 nesta terça-feira. Já o número de casos disparou de 139 para 15.151 nesses 60 dias. As estatísticas têm preocupado especialistas.

“A doença no Espírito Santo está em franca ascensão. A gente não atingiu o pico ainda, tanto que de ontem para hoje aconteceram 36 mortes, mais do que uma morte por hora. Provavelmente as duas próximas semanas serão semanas difíceis, que vão colocar o sistema de saúde em estresse. A gente não sabe se o sistema de saúde vai aguentar o que pode acontecer nas próximas semanas”, alertou o infectologista Carlos Urbano.

Atualmente, o índice de letalidade da covid-19 no Espírito Santo é de 4,38%. No entanto, de acordo com o infectologista, o índice pode não ser real, por causa da provável subnotificação. 

“Esse número, provavelmente, não é o número real. Pode ser até menor, a gente não tem certeza. Certamente alguns pacientes que estão morrendo não devem ter diagnóstico de covid no atestado, podem estar morrendo em casa. E tem o outro lado da moeda, que alguns casos leves, que não estão morrendo, não estão sendo notificados. Então, se todos os casos leves fossem notificados, a letalidade tenderia a ser um pouco menor. E tem alguns doentes que estão morrendo em casa por infarto ou por AVC, onde o covid pode ter sido a gota d’água. Pode ter sido um fator desencadeante”, destacou.

O médico explica ainda que, diferentemente do que se pensava no início da pandemia, o coronavírus não atinge apenas o aparelho respiratório do paciente. “Pode alterar as funções do rim. Mas uma coisa importante hoje no covid são as lesões de obstrução de vasos: obstrução de veia, de artéria, embolia pulmonar”, ressaltou Urbano.

Saudades

Entre as mais de 660 vítimas que morreram em decorrência do novo coronavírus está o representante comercial Anderson Estevão, que morreu no final de abril. “Ele começou com sintomas como dor no corpo, dor nas juntas, teve febre de 37.9. E aí a médica pediu raio-x do tórax e do pulmão e foi quando a gente levou um susto, que a médica falou que o pulmão dele estava mais de 50% tomado, todos os dois”, contou a esposa dele, a também representante comercial Jacqueline Lira Estevão.

Casados há 18 anos, Jacqueline e Anderson também trabalhavam juntos. Antes de ser entubado, a última ligação dele foi para ela. “Ele me ligou e falou assim: ‘gatinha, corre pra cá porque eles vão me entubar e eu estou com medo de morrer’. Eu falei: ‘Anderson, calma que eu estou indo para aí agora’. Eu também estava em isolamento em casa. Quando eu saí daqui e cheguei perto da Ufes, ele me ligou: ‘você está onde?’, eu falei ‘já estou aqui na Ufes’, e ele ‘não vai dar tempo. Eles chegaram aqui e vão me sedar agora’. Aí eu fiz uma oração com ele no telefone, ele repetia. E falou que me amava, gritava no telefone que me amava, que era para eu me cuidar. Eu falei: ‘você pode ficar tranquilo, que eu vou aí todos os dias. Você sabe como eu sou e eu não vou deixar você abandonado aí”, contou Jacqueline, emocionada.

Os pais de Leôncio Freitas também perderam a batalha contra o coronavírus: primeiro dona Maredy, de 88 anos, depois seu José Carlos, de 81. “Minha mãe faleceu no dia 26 de abril e o meu pai, na semana passada, no dia 25 de maio. É muito triste isso para a família. Como a gente vai lidar com uma situação que jamais se espera na vida de qualquer ser humano?”, lamentou.

Segundo ele, a família nunca mais será a mesma, nem no dia a dia, muito menos nos almoços de domingo. “Finais de semana, os cafés da minha mãe. Tudo isso fica na saudade. E nós vamos ter que aprender a lidar com isso. E daqui para frente, aprendendo a lidar com esse vazio, com esse vácuo que ficou”.

Para quem fica, restam os bons momentos e um alerta: “A doença está matando, então tem que se cuidar. Já perdi, depois dele, amigos, amigos de amigos. Está muito difícil”, frisou Jacqueline.

“Se cuidem e não ignorem esse vírus, porque realmente ele é devastador e pode provocar perdas significativas, como as que sofremos em nossa família”, afirmou Leôncio.

Com informações da jornalista Andressa Missio, da TV Vitória/Record TV