A estação mais aguardada por alguns e também a mais temida por tantos outros, enfim chegou: seja bem-vindo, Verão!
O chamado “projeto verão” faz com que a maioria das pessoas gaste grande parte do seu tempo e dinheiro investindo em exercícios pesados e dietas mirabolantes, tudo isso em busca do corpo perfeito. Mas pera aí! O que seria esse tal “corpo perfeito”?
Em dezembro, às vésperas do verão, o jornal online Folha Vitória realizou um levantamento com 181 pessoas, sendo 142 mulheres e 39 homens. A conclusão mostra que 61,3% dos entrevistados afirmaram não se sentir confortável com o próprio corpo. Cerca de 70% disseram que a barriga é uma das partes que mais incomoda. 78,6% já deixaram de usar alguma roupa por causa do corpo, enquanto 90,2% acreditam que existe uma padrão de beleza imposto pela sociedade. Além desses dados, 109 pessoas afirmaram já ter feito algum tipo de dieta.
Com o surgimento da tag “tour pelo meu corpo” criada pela youtuber Luiza Junqueira, do canal Tá Querida, em outubro de 2017, a discussão sobre aceitação e a vontade de desmitificar o corpo gordo tornaram-se ainda mais frequentes. Várias mulheres adotaram a iniciativa e compartilharam fotos dos seus corpos reais, sem qualquer filtro ou tipo de edição.
Para o psicólogo Will Sartori, atitudes como estas são de extrema relevância para demonstrar a existência de corpos além dos que aparecem em capas de revista ou nas principais telenovelas e, assim, ajudar as pessoas a se aceitarem como realmente são.
“A mídia tem um papel importante para colocar outros corpos fora do padrão à vista. Desta maneira, é essencial saber que esse padrão é recente e o padrão atual não é eterno”, explica.
“Na época renascentista, o padrão mais representado era o gordo. Esse padrão atual não é novo, é algo que há muitos anos só vai se alterando e atualizando… Nesse sentido, a grande mudança é que as pessoas começaram a aceitar cada vez mais os corpos que elas têm e conseguiram colocá-los para fora. Ir à praia e assumi-los de forma pública”, concluiu o psicólogo.
A chef confeiteira e jornalista Renata Quintaes Freitas Lima, de 34 anos, afirma que a existência de celebridades e youtubers que discutam esse tema é muito importante para ela.
“Eles dão força para quem está fora da ‘ditadura da magreza’. Fortalece a ideia de que ser gordo é normal. Gordo também tem a sua beleza”, comenta Renata.
Quando o assunto é gente gorda ou gordofobia, os debates, normalmente, vêm cheios de preconceitos e estereótipos devido, na maioria das vezes, à falta de informação. Para a estudante de publicidade, Thaina Bonfá, de 21 anos, pessoas que debatem o assunto são fundamentais para a quebra deste tabu. “Pessoas que defendem a existência do corpo gordo são essenciais, pois elas nos ajudam a ter um pouco mais de fé na humanidade e perceber que somos normais. Ver gente como eu, mostrando que de fato somos capazes de tudo, me incentiva a me aceitar e ser quem de fato sou, sem medo”, desabafa.
Pensando especialmente nesta parcela da população e com o objetivo de informar, quebrar tabus relacionados ao corpo gordo, o fotógrafo e designer gráfico Pablo Sodré, 23, decidiu utilizar suas redes sociais para mostrar que ninguém é melhor do que ninguém apenas pela quantidade de quilos que pesa: “eu me sentia inútil, pequeno… Sempre reclamando do meu corpo, me achando feio… Mas nunca fazia nada pra mudar, até que decidir que nunca mais reclamaria. Resolvi transmitir isso a outras pessoas para que elas entendam que o corpo não define caráter de ninguém e que não devemos nos sentir feios por ser acima do peso”.
Além do adjetivo “gordo”, Pablo, Thaina e Renata também têm em comum a forma como lidam com seus corpos hoje em dia. Eles afirmam que se aceitar foi a melhor escolha e que a partir de então eles puderam fazer coisas que, antes, eram impensáveis por vergonha ou até mesmo por medo de julgamentos alheios.
Eu já sofri muito preconceito. Tive uma adolescência desafiadora por causa do meu peso. Me doía escutar piadas. Hoje, com 34 anos, vejo que isso era necessário eu passar para me tornar mais forte. Me aceitar como sou me tornou uma mulher livre”, desabafa a jornalista.
“Me sinto livre para usar um short curto e uma blusa decotada, por exemplo. Ser dona de mim mesma. Me sentir à vontade em qualquer lugar sem ter que me esconder em roupas largas”
O designer gráfico ainda afirma que quando usou sua sunga pela primeira vez se sentiu desconfortável com as pessoas a sua volta, mas isso não foi motivo para ele mudar de ideia. “Quando eu decidi usar a minha sunga pela primeira vez, eu tive um pouco de receio, pois percebi muitos olhares tortos, percebi que algumas pessoas riram e ouvi piadas, mas não liguei e continuei sorrindo e tirando fotos como se nada estivesse acontecendo”, relata.
“Eu não sou obrigado a vestir o que o resto da sociedade impõe, eu posso usar uma sunga, uma bermuda, ficar sem camisa… Não tenho motivos para ter vergonha disso. Posso ser feliz exatamente do jeito que sou!”
Para o psicólogo, a aceitação do nosso corpo é o primeiro passo para nos relacionarmos de forma saudável com os outros e com nós mesmo. “Nosso corpo é parte integrante de tudo o que nós somos. O corpo está na forma que eu experimento o mundo, eu enxergo e toco com o corpo, mas também está na parte em que eu me relaciono com o outro. Ele faz parte tanto no externo quanto no interno. Não aceitar esse instrumento, que é tão constituinte da identidade do sujeito, é muito complicado. É necessário aceitar isso”, destaca.
Thaina é prova disso. Para ela, aceitar-se foi sua melhor decisão. “Me aceitar foi a melhor coisa da minha vida! Fez um bem enorme para mim, pois parei de me pressionar e não aceitei pressão vinda de outras pessoas. Foi um alívio para a minha saúde mental. Eu claramente me tornei muito mais feliz”.
Dados do levamento feito pelo Folha Vitória:
*Colaboração: Ana Julia Chan