Junto às inovações tecnológicas, o 10º Congresso Educacional das Escolas Particulares, no Centro de Convenções, em Vitória, realizado nesta quinta (25) e sexta-feira (26), explorou o lado humanizado da aprendizagem e mostrou que há 22 tipos de alunos.
Uma das temáticas discutidas na palestra do professor Gil Giardinelli foi a pluralidade de alunos que existe em uma escola e que, durante muito tempo, foi compreendida de forma equivocada. Antes era como se só devesse existir o aluno quieto, que aprende focado no seu canto.
Nesta escola do futuro, o professor deixa de ser o dono do conteúdo para ser o orquestrador, ou como diria Gil, aquele que vai ajudar os alunos a entenderem o mundo complexo e maravilhoso.
“Agora falamos em ‘Reset’ porque o mundo está passando por isso. Se pegarmos a educação, ainda existe muito isso de tempo cronometrado, de espaço concreto. E hoje o aluno não quer mais isso. Existem várias formas de aprender, não apenas na sala de aula. Esse reset é também de repensar o papel da escola e do professor. Nunca a escola foi tão importante, em tempos tão extremistas, trazendo o conceito de conviver com outras pessoas”, frisou.
Segundo ele, há 22 tipos de alunos categorizados e, o aluno quieto, que era tido como padrão, representa uma minoria. Entenda três tipos básicos:
1. há esse que fica em silêncio, anotando tudo;
2. tem o que precisa falar sobre o conteúdo: e se fala muito, dependendo da escola, terá problemas, mas o jeito dele aprender é falando, seja com o colega, seja com o professor), mas não quer dizer que é bagunceiro, mas que precisa falar.
3. e existe o que precisa falar e fazer: “Chamamos de ‘fazedores’, que é a grande maioria na sala de aula. Se você olhar para a escola do passado, esses são os bagunceiros. Mas não é por isso, existe algo por trás. São questionadores, fazedores e hoje isso é a maioria dentro da sala de aula”, disse.
Dentro da pluralidade, o professor diz que a educação é como o mundo, em que cada pessoa tem uma forma diferente de aprender e isso é comprovado.
“O conceito de decorar só atingia 8% das pessoas. Hoje precisamos também de pensamento crítico e pensamento divergente e é preciso despertar isso desde a primeira infância”, acrescentou.
Metodologia 3S
O palestrante, em debate, ainda destacou a importância de uma metodologia que vem começando a ser aplicada. Chamada de 3S, por conta dos termos em inglês, ela foca em ciência (science), sociedade (society) e espiritualidade (spirituality). A educação do futuro, deve deixar de buscar apenas o conteúdo “decorado” para ser mais humanizada e atualizada.
“Falamos em espiritualidade não no conceito religioso. Mas agora, com o avanço da computação, de uma série de tecnologias e do pensamento humano, estamos conseguindo comprovar coisas que antes ficavam apenas no campo da filosofia, que eram só pensamentos avançados. A gente já sabe que existe que algo maior do que podemos ver. Sobre espiritualidade, estamos falando de outras dimensões, e ainda há muitos conceitos baseados em dogmas na educação. Parte da religião pensa que uma pessoa morre e acabou, outra que acha que existe outra vida no paralelo. Não estou falando que tem ou não vida paralela, mas dimensões diferentes já estão comprovadas pela física e é preciso discutir isso também na escola”, disse.
Com tanto conhecimento disponível, para o educador a verdade é que ninguém mais consegue saber de tudo.
“Então acho isso de ter aqui mil educadores no evento, além de eventos como esse no Brasil todo, são muito importantes para despertar interesse na inovação. Nunca foi tão fantástico ser um educador, um professor, um ser humano, porque nunca tivemos tanto conhecimento e chegou a hora de entender que precisamos compartilhar isso. É papel da escola é se manter atualizada, não é só sobre as tecnologias, o mais importante são os humanos. Se não cuidarmos das desigualdades, a gente vai ter, ao nosso lado, um lugar que a gente vai achar perigoso e não é assim que deve ser o mundo”, definiu.
Robô no palco
Gil Giardinelli, durante palestra, fez apresentação de um pequeno robô, chamado, em português, de “Nao”. A ideia de “chamá-lo” ao palco, foi de mostrar a capacidade de seu uso vinculado ao ensino, à pesquisa e à inteligência artificial. Apesar de pequeno, o humanóide é um dos mais avançados da atualidade, podendo custar cerca de R$ 80 mil.
Giardinelli contou que já trabalha com esses pequenos robôs. “Consigo com eles, com autorização dos pais das crianças, entender individualmente o aluno. Por exemplo, como está vendo a aula, qual ponto foi mais interessante para ele, ou quando ele se desconectou, assim dá para fazer um raio-x educacional”, afirmou..
“E também já está provado que para várias idades e para determinadas matérias, e já há várias escolas no Brasil fazendo isso, as crianças retêm mais conteúdo quando ele é dado por um robô. Isso não quer dizer que vai acabar com a função do professor, mas ficou provado que as crianças prestam mais atenção nos robôs nos casos de matérias mais repetitivas”, disse o professor.
Com os robôs, outra tecnologia que o especialista imagina que esteja vindo com tudo são os algoritmos de inteligência artificial.
“Eles vão, por exemplo, entender a área melhor para cada um, identificando desde criancinha, o que cada um tinha como interesse. No caso de um jornalista, ele pode perceber que desde pequeno o indivíduo mostrava curiosidade em perguntar as coisas, então já dava sinais de que iria para a área de humanas. Isso, desde a primeira infância, vai ajudar na trilha do conhecimento”, acrescentou.
Apesar de revolucionário o uso de tanta tecnologia, o educador falou também em obstáculos. Segundo ele, já há várias escolas no Brasil contando com o que há de mais avançado, mas estas costumam ter mensalidades muito caras, o que ajuda a criar um fosso social maior na sociedade.
“A boa notícia é que as tecnologias primeiro são caras, mas depois vão barateando muito. Então isso já está caindo de preço. Sem necessidade de pagamento, há a inovação do intercâmbio de conhecimentos, que já é algo acessível a todos: com o novo currículo do ensino médio, há interação entre ciências humanas, exatas e biológicas. Isso é maravilhoso e que não precisa de tecnologia”, avaliou Giardinelli.