A escassez de medicamentos para intubação segue desafiando médicos e demais profissionais de saúde das Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s) dos hospitais públicos e particulares do Espírito Santo, durante a pandemia do novo coronavírus.
Há cerca de um mês, a reportagem da TV Vitória/Record TV mostrou as dificuldades provocadas pela falta de medicamentos do kit intubação, nos hospitais da rede pública do Estado. O estoque de sedativos, relaxantes musculares e adjuvantes estava bem abaixo do ideal. Na ocasião, três dos 22 remédios tinham acabado.
“Na UTI, nós utilizamos medicações hipnóticas, que são aquelas que fazem o paciente ficar dormindo. Temos as medicações bloqueadoras neuromusculares, que são aquelas drogas que fazem o relaxamento, para que o respirador consiga ventilar o paciente naquele momento em que o pulmão está sendo afetado, e temos os opioides, que são os medicamentos para dor. São aqueles medicamentos que fazem o paciente não sentir dor nenhuma nesse momento de tratamento intensivo”, explicou o presidente da Sociedade de Anestesiologia do Espírito Santo, Wellington Pioto.
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Após o alerta do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), o jornalismo da Rede Vitória continuou acompanhando a situação. A produção da TV Vitória pediu ao conselho um novo levantamento, com a quantidade disponível de medicamentos. No entanto, a orientação da Conass foi procurar o Ministério da Saúde e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
A reportagem da TV Vitória perguntou para a Secretaria de Saúde como está a oferta de seis remédios do kit. No final de junho, tais medicamentos estavam com estoque suficiente para garantir o atendimento à população por até 15 dias.
A Sesa, no entanto, se limitou a dizer que o Ministério da Saúde enviou uma cota de medicamentos do kit ao Espírito Santo e que ela foi distribuída aos hospitais nos últimos dias. Afirmou ainda que os medicamentos não estão em falta.
Especialistas, porém, afirmam que os disponíveis não são os ideais. “Nós temos uma sucessão de drogas que fomos utilizando durante um tempo e essas drogas não foram inutilizadas. Elas ainda existem e nós estamos utilizando esse tipo de droga para poder substituir a falta das que são mais modernas, sem nenhum prejuízo para o paciente. Elas realmente são boas, têm efeitos adversos, como qualquer droga, mas as outras são um pouco melhores”, destacou Pioto.
O médico intensivista Leonardo Goltara, que atua em hospitais das redes pública e privada do Estado, afirma que o estoque continua abaixo do desejado, mesmo nos hospitais particulares. Segundo ele, isso se deve à grande demanda de pacientes da covid-19 e à elevação dos preços desses medicamentos.
“Vários hospitais estão com dificuldades de compras, seja por não ter a oferta do produto para ser comprado ou porque está tendo ágil, ou seja, um sobrepreço muito grande neste momento. Ou então, quando você tem a oferta e, mesmo com o sobrepreço, você faz a compra, frequentemente a gente tem prazos de entrega muito alongados, que não atendem à necessidade que vários hospitais estão tendo neste momento”, afirmou.
O presidente da Sociedade de Anestesiologia do Estado acredita que só haverá equilíbrio novamente entre a produção e a demanda dos medicamentos do kit quando houver vacina contra a covid-19. Pioto ressalta que, enquanto isso, é importante que a população faça a sua parte para barrar as transmissões.
“Nós entendemos que a pandemia se prolonga por meses no Brasil, assim como em outros países. Então fique em casa. Realmente não passou ainda. A respeito da vacina, é o fator fundamental para a gente voltar ao normal — eu nem vou dizer ‘novo normal’, vou dizer ‘normal’. Se nós tivermos a vacina, tudo se resolve”.