Não é de hoje que as crianças brasileiras vêm sofrendo com o grave problema da obesidade infantil, infelizmente uma tendência que já se tornou mundial. O último levantamento do IBGE, feito entre 2008 e 2009, apontou que nos últimos 20 anos, os casos quadruplicaram na faixa das crianças de 5 aos 9 anos. Outro dado alarmante foi dado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano passado: há aproximadamente 40 milhões de crianças com sobrepeso ou obesidade no mundo.
Mas por que nossas crianças estão sendo tão afetadas? Pesquisas recentes buscam esclarecer essas dúvidas e apontam fatores que podem levar à obesidade infantil. Veja quais são:
– Alimentação desequilibrada
Todo mundo associa a obesidade com o consumo de fast food, mas a verdade é que o sobrepeso está relacionado A toda uma alimentação desequilibrada. Segundo a nutricionista Danielly Serrano, a preocupação com o que nosso filho come começa assim que a introdução de alimentos é feita em sua rotina, lá quando ele ainda é bebê, por volta dos quatro a seis meses.
Um dos grandes vilões do peso, tanto da criança quanto do adulto, está no que elas comem em casa. Um estudo feito pela Universidade da Carolina do Norte (EUA) com mais de quatro mil crianças, de 2 a 18 anos, descobriu que a maior preocupação deveria ser com a alimentação irregular em casa. Isso quer dizer que elas comem poucas frutas, vegetais e hortaliças e, em contrapartida, exageram no consumo de alimentos industrializados, como biscoitos recheados, lasanhas congeladas e refrigerante. “O refrigerante não traz benefício nenhum para o corpo”, alerta a nutricionista.
Danielly chama a atenção para o papel dos pais nessas situações. Segundo ela, não será difícil para a criança fazer dieta se ela vê em casa todo mundo se alimentando como ela. “Os pais ficam pensando: ‘coitadinho do meu filho, fazer dieta tão novo’. Quando, na verdade, eles devem pensar: ‘coitado do meu filho, que se alimenta mal e vai se tornar um adulto doente’. É difícil para a criança fazer dieta se em casa ela vê a família comendo aquilo que dizem para ela não comer. Não existe criança saudável sem família saudável. No início pode até ser difícil, mas ela vai levar esses hábitos para a vida inteira”, destaca a especialista.
A estudante universitária Carla Freire Mattos não descuida da alimentação da filha Rayssa, de oito anos, e o que ela come é de fazer inveja a muito adulto. Para começar, Rayssa troca qualquer biscoito recheado por um prato de alface, graças aos truques da mãe. “Eu sempre faço salada e misturo maçã, manga na salada, isso facilita e deixa mais gostoso. Também faço suco de cenoura com limão. Beterraba ela gosta mais em forma de suco e misturo com laranja porque aí não preciso colocar açúcar”, conta Carla.
Atitudes simples podem tornar essa caminhada menos difícil, como evitar o abastecimento da despensa com guloseimas e deixar variedade de frutas à mão.
– Predisposição genética ou ambiental
Pesquisas comprovam que filho de pais obesos ou com sobrepeso tem 50% de chance de desenvolver a doença, uma vez que os genes podem alterar os gastos energéticos, desregular o apetite e mudar a forma como o organismo absorve os nutrientes. Mas outra pesquisa traz uma boa notícia: manter um estilo de vida ativo ajuda a queimar 40% do peso extra relacionado à genética, segundo um relatório da Universidade de Cambridge.
Isso demonstra que o ambiente em que a criança vive pode ser mais influente do que seus próprios genes. Interessante, não?!
– Restrições parentais
A mãe vive de dietas malucas e impõe isso para que a filha seja sempre magrinha. Isso é um perigo! As dietas infantis devem ser prescritas por profissionais da área, sob o risco de prejudicar o desenvolvimento da criança. No caso dos filhos pequenos, se torna mais eficiente permitir que eles comam algum docinho uma vez na semana do que tornar o alimento terminantemente proibido.
– Sono irregular
Comer e dormir, dois prazeres que estão diretamente ligados. Isso porque uma noite mal-dormida pode ser resultado de um desequilíbrio hormonal, sem contar que o estresse de uma noite de sono ruim aumenta a fabricação de cortisol logo pela manhã, o que estimula a ingestão compulsiva de alimentos e, consequentemente, o acúmulo de gordura na região abdominal.
Mas, assim como os outros três fatores, esse também pode ser evitado. Pais, observem o sono do seu filho. Veja, por exemplo, se a respiração parece alterada, se o travesseiro e a luz estão adequados, se ele acorda muito durante a noite ou cai no sono vendo TV. Lembrem-se de que criar uma rotina com horários fixos para dormir e acordar é um dos primeiros passos para um sono tranquilo.