Chegou ao fim a greve dos trabalhadores rodoviários na Grande Vitória. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários do Espírito Santo (Sindirodoviários), todas as garagens que estavam bloqueadas pela categoria já foram liberadas na tarde desta quarta-feira (13).
José Carlos Sales afirma que um dos motivos para o fim da greve foi a decisão de um dissídio coletivo, realizado na tarde desta quarta. “Houve o julgamento do dissídio coletivo sobre a jornada reduzida. A decisão foi pela ilegalidade desse tipo de contratação. Portanto, entendemos que já era a hora de encerrar o movimento”, diz.
O vídeo abaixo foi divulgado por um rodoviário logo após o fim da greve. Veja:
A Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb-ES) informou que a operação completa do Sistema Transcol foi restabelecida por volta das 16h desta quarta-feira. Durante a paralisação, ceca de 90 mil usuários foram prejudicados. Os consórcios foram notificados e a Ceturb-ES avaliará os casos, para verificar quais as medidas administrativas serão aplicadas.
Com relação à sentença proferida nesta tarde, sobre a questão da jornada reduzida em dissídio coletivo, as empresas operadoras do Sistema Transcol e o Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBus) informaram que vão esperar a publicação do acórdão para então cumprir o que estiver sentenciado.
Paralisação
A greve dos rodoviários teve início na madrugada desta terça-feira (12). Os trabalhadores bloquearam as saídas de ônibus da garagem da empresa Santa Zita, em Marcílio de Noronha, no município de Viana. Nesta quarta-feira, as garagens das empresas Praia Sol e Vereda, no município de Vila Velha, também foram bloqueadas.
Segundo o GVBus, 425 coletivos ficaram parados, prejudicando linhas que atendem Viana, Cariacica e Vila Velha. O Seletivo também foi prejudicado, parte da frota do Mão na Roda e o Bike GV também não circularam. Ao todo, 884 trabalhadores ficaram impedidos de sair das garagens.
A 1ª Vara do Trabalho deferiu no fim da manhã desta quarta, uma liminar favorável às empresas Praia Sol e Vereda, determinando que o Sindirodoviários não impedissem os trabalhadores de saírem da garagem, o que permitiu que os ônibus das duas empresas voltassem a circular. A determinação também ressaltava que os trabalhadores não podiam praticar atos de vandalismo e depredação contra o patrimônio das empresas. A multa diária para o descumprimento foi estipulada em R$ 100 mil.
Entenda os motivos da greve
Os principais motivos que levaram os trabalhadores do transporte rodoviário da Grande Vitória a cruzar os braços nesta terça-feira foram a jornada de trabalho reduzida e a insegurança dentro dos coletivos.
Jornada reduzida
Segundo o representante do Sindirodoviários Valdecy Dulcilina Laurindo, as empresas estão contratando trabalhadores com jornada de trabalho reduzida para 5 horas. “Nós temos o salário de R$ 2.304 e o ticket de R$ 730, aí eles contratam com a jornada reduzida e pagam R$ 1.300 reais de salário e R$ 300 de ticket. Com isso, estão mandando o pessoal do convencional embora e ficando com o pessoal da jornada reduzida, então daqui a pouco vai estar todo mundo ganhando um salário de R$ 1.300 e nós estamos revoltados. Não aceitamos esse tipo de coisa”, afirma.
O GVBus reiterou que a jornada reduzida está prevista em lei, e que, por esse motivo, a empresa está atuando de forma legal. Além disso, o GVBus afirma que quaisquer reivindicações de alterações de cláusulas contratuais tem o momento correto para serem discutidas, que é nas negociações trabalhistas, no mês de novembro. “A alegação de descumprimento do acordo coletivo precisa ser provada, o que não aconteceu até o momento”, diz o GVBus.
Segundo o GVBus, somente os novos empregados (ou seja, os que estão sendo contratados agora) é que são contratados no regime de jornada por tempo parcial e tem seus salário proporcional. “Isso o artigo 58 da CLT permite. Os atuais empregados que trabalham na jornada normal não estão sendo transferidos para jornada reduzida e nem tem seus salários reduzidos”, esclarece o sindicato patronal.
Insegurança
Um outro problema, que já faz parte da vida dos rodoviários, é a insegurança dentro dos ônibus. De acordo com Valdecy, as empresas estão cobrando atitude dos funcionários para inibir puladores de roletas e até mesmo ambulantes. Isso, segundo ele, tem resultado em agressões.
“Estamos recebendo muitas informações de agressões a cobradores e motoristas porque as empresas estão fazendo reuniões e forçando o trabalhador a inibir pulador de roleta e não deixar vendedores ambulantes subir. Então é sobre todos esses problemas que estamos fazendo o movimento”, concluiu.
O GVBus informou que desde o início do ano as empresas estão reunindo seus trabalhadores para esclarecer sobre os impactos da evasão de receitas para toda a sociedade. Segundo o sindicato, essas ações estão dentro do cronograma de treinamento e reciclagem dos operadores, elaborado pelo próprio GVBus em parceria com as empresas do Sistema Transcol.
“Durante as reuniões, são abordados temas como profissionalismo, o bom atendimento e tratamento com os clientes, os impactos da evasão de receita do transporte coletivo para toda a sociedade e sobre as formas de combater essas práticas. Momento de relembrar a eles as instruções que receberam ao assinar o contrato de trabalho”, revela o GVBus.
O GVBus diz ainda que todos os coletivos contam com o sistema de biometria facial, voltado ao controle do uso das gratuidades, e desde 2016 catracas altas estão sendo instaladas para aumentar a sensação de segurança dentro dos ônibus e inibir o pulo de roleta. Segundo o sindicato, cobrar do passageiro o pagamento da passagem é uma obrigação dos motoristas e cobradores.
“Reiteramos que a orientação é que eles expliquem para a população que pular o roleta, andar de carona ou embarcar pela porta do meio sem pagar a tarifa é proibido, assim com burlar as regras das gratuidades. E que evitem entrar em qualquer conflito que coloque em risco sua integridade física”, diz o sindicato.