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Georgeval Alves chora ao assistir vídeo do filho e relembrar infância durante julgamento

Julgamento do ex-pastor acusado de torturar, estuprar e matar o filho e enteado entrou no segundo dia nesta quarta-feira (19)

Foto: Folha Vitória

Em cerca de duas horas de depoimento, o ex-pastor acusado de torturar, abusar sexualmente e matar o filho e o enteado relembrou detalhes da vida e do dia do incêndio que terminou com a morte de Joaquim Alves, de 3 anos, e Kauã Sales Butkovsky, de 6.

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O júri popular de Georgeval Alves começou na manhã desta terça-feira (18), no Fórum de Linhares. O réu começou a ser ouvido já a noite, por volta das 23h40. Ele respondeu apenas perguntas feitas pelos advogados de defesa.

Georgeval chorou ao ver um vídeo de um dos filhos, João, em uma mensagem de Dia dos Pais. O ex-pastor chorou quando o garoto aparece no vídeo dizendo que o ama.

Durante o depoimento, Georgeval relembrou o dia do crime e negou que tenha estuprado e matado o filho e o enteado

Eu tenho a perspectiva de futuro que posso provar minha inocência, de não deixar esse legado para os meus filhos, de que ser um monstro, um homicida, um abusador. Não cometi esses crimes. Não incendiei nada. Não matei os meus filhos. Não quero deixar essa história da minha vida assim. Eu não sou essa pessoas. Eu não sou um homicida“, declarou.

O acusado disse que se arrepende de ter mentido durante os depoimentos à polícia, de que teria tentado entrar no quarto para socorrer as vítimas. 

A psicóloga forense Elise Trindade, uma das testemunhas chamadas pela defesa ouvida antes do réu, contou durante o depoimento que, nas avaliações psicológicas, o Georgeval disse que mentiu no depoimento por orientação de um pastor amigo.

Peço perdão e desculpa por falar bastante. Fiquei esse tempo todo sem poder falar. Pelas ameaças que venho sofrendo. Me envergonho por ter mentido em relação a dizer que entrei no quarto. Eu deveria ter dito a verdade desde o começo“, falou Georgeval durante o depoimento.

O réu também se emocionou durante o depoimento de Hewdy Lobo Ribeiro, psiquiatra forense responsável pelo laudo emitido a pedido da defesa de Georgeval que atesta que o réu não tem traços de psicopatia.

O especialista relembrou fatos da infância de Georgeval, como abuso sexual, abano familiar, negligência e exposição à violência paterna/materna. 

Georgeval relatou o que fez antes e após incêndio que matou filho e enteado

Questionado sobre o que teria acontecido no dia da morte do filho e do enteado, Georgeval deu detalhes sobre o que fez entre a noite de 20 abril de 2018 e o momento do incêndio na casa da família, em 21 de abril.

Ele contou que estava sozinho com as crianças, já que a mãe dos meninos teria viajado para participar de um evento de dança da igreja em Minas Gerais.

No dia dos fatos, levei os meninos na escola e fui resolver algumas demandas da igreja. Depois, fui buscá-los e, na volta, paramos em uma sorveteria. Tomamos um sorvete, tirei umas fotos e mandei para Juliana, dizendo que só faltava ela. Recebi a ligação de um irmão da igreja ,que me chamou para ir na casa dele comer uma pizza. Fomos e as crianças ficaram brincando com os filhos dele. Não me recordo que horas voltamos para casa. Era um pouco tarde e eu estava bem cansado“, disse ele.

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O réu disse que guardou o carro na garagem e pediu para que os meninos fossem tomar banho. Enquanto isso, ele saiu para buscar algumas coisas no veículo, como as mochilas da escola e um drone, que ele havia dado de presente para o enteado, Kauã.

Coloquei o carro na garagem e logo mandei os meninos irem tomar banho. Eles tomavam banho praticamente sozinhos. Joaquim teve um sangramento nasal e, da porta do banheiro, eu falei para ele jogar água. Isso era muito comum, o nariz dele sangrava constantemente. Do nada começava sangrar. Como era algo comum eu não fiquei muito preocupado.”

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Depois do banho, Georgeval contou que eles tomaram achocolatado e foram assistir filme no escritório. Como Joaquim acabou dormindo primeiro, ele levou o filho até o quarto e o colocou na cama de baixo, ligou a babá eletrônica e o ar condicionado.

Kauã estava no escritório e não queria dormir. Eles queriam dormir comigo no quarto e eu não permiti. Juliana, nesse período, faz uma chamada de vídeo comigo e falou com Kauã. Depois, ele foi para o quarto e pediu para orar por eles. Oramos, fui para o meu quarto, tomei banho e dormi. Não me recordo se despertei por causa do cheiro da fumaça ou se foi pelo barulho na babá eletrônica. Aí sim, já acordado, eu percebi a fumaça.”

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O réu contou que saiu no corredor e viu ainda mais fumaça, então bateu na porta do quarto das crianças, viu um vapor muito quente e não entrou. Ele afirma que correu para a sala e começou a gritar por socorro, e ao voltar para o corredor, já não conseguiu mais chegar perto do quarto em que os irmãos estavam.

Tentei a abrir a porta da sala e não consegui. Estava com muita falta de ar e com dificuldade de gritar. Consegui sair, fui para a garagem e comecei a gritar pedindo socorro, correndo de um lado para o outro. Eu não sabia se outro cômodo da casa estava pegando fogo. Comecei a ter muita falta de ar e vi essas pessoas que pararam em frente a minha casa e perguntaram o que estava acontecendo. Depois, algumas pessoas arrombaram o portão para entrar. Eu realmente estava apavorado e sem saber o que fazer. Estava com muito medo, desesperado para sair daquele lugar. Quando eu sai comecei a gritar no meio da rua só de cueca. Uma vizinha viu e me auxiliou me dando uma bermuda e a camiseta do filho dela. Eu ia entrar na casa e eles me impediram. Pegaram uma mangueira que tinha no quintal para tentar apagar o fogo“, contou.

Julgamento continua nesta quarta-feira

O júri popular comandado pelo juiz Tiago Fávaro Camata, da 1ª Vara Criminal do município, continua nesta quarta-feira (19). A previsão é que a sessão deste segundo dia seja retomada às 10h. (Veja os detalhes do segundo dia de julgamento).

O réu é julgado por homicídio qualificado (motivo torpe; emprego de fogo; traição, emboscada ou dissimulação; assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime); estupro de vulnerável; e tortura. 

*Com colaboração de Mayra Bandeira, da TV Vitória/Record TV.

Foto: Thiago Soares/ Folha Vitória
Gabriel Barros Produtor web
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Graduado em Jornalismo e mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Ufes. Atua desde 2020 no jornal online Folha Vitória.