Algumas armas são fundamentais para conter o avanço da covid-19. Testes para detecção do vírus na população, EPIs para a segurança dos profissionais de saúde, medicamentos e ventiladores mecânicos para os pacientes graves nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Desde o início da pandemia, o Ministério da Saúde enviou uma série de itens para os estados e municípios da União. No entanto, a quantidade desses materiais é motivo de divergência entre o Governo do Espírito Santo e a pasta ministerial.
Por exemplo, o Ministério da Saúde afirma ter enviado 450 mil pares de luvas, mas o Estado diz ter recebido 390 mil. Uma diferença de 60 mil pares. Ou então os aventais, que somam quase 54 mil, de acordo com o Governo Federal, mas só chegam a 40 mil pelas contas do governo estadual.
Outros itens, como sapatilhas, óculos e toucas, apresentam o contrário. Uma pequena variação para mais na conta da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa). São 280 mil, contra 277 mil informados pelo Ministério da Saúde. O mesmo ocorre com os testes de detecção do vírus. Enquanto Brasília afirma ter enviado 227 mil testes, o governo capixaba diz ter recebido 237 mil.
Essas diferenças, seja para mais ou para menos, podem ser justificadas pela dificuldade em contabilizar com exatidão uma quantidade tão grande e variada de itens. Mas o mesmo não pode se dizer de outro tipo de equipamento: os ventiladores mecânicos. O Ministério da Saúde afirma ter enviado 120 deles para o Espírito Santo, 30 para as prefeituras e 90 para o Governo do Estado. Mas a Sesa garante ter recebido 80, ou seja, 10 respiradores a menos do que diz o Governo Federal.
O Secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, acredita que essa diferença pode ter acontecido pelo fato dos outros 10 respiradores ainda não terem chegado ao estado, ou ainda que ainda não tenham sido catalogados como patrimônio.
“Talvez ocorra o lapso do anúncio de quando foi dada a ordem de distribuição em Brasília, ou a da chegada, no entanto são divergências por conta desse lapso de tempo de publicação de registro”, disse Nésio.
Ele também afirmou que o pedido feito pelo Espírito Santo à União foi de um número bem superior do que o enviado até agora. A Sesa solicitou 300 respiradores, mas, segundo Nésio Fernandes, a demora no envio obrigou o estado a buscar outra solução.
“O governo de Renato Casagrande comprou respiradores da industria nacional e da Itália, para fins de poder garantir a expansão de leitos novos, para o atendimento de pacientes com covid-19. Todos os ventiladores que vem chegando agora do Ministério, nós estamos reforçando a estratégia, recompondo, inclusive, mais unidades e até pronto-atendimentos e UPAs, para poder melhorar a qualidade do atendimento de pacientes críticos”, explicou o secretário.
O médico intensivista, Leonaro Goltara, acredita que não houve planejamento adequado do Poder Público, tanto federal quanto estadual, para o enfrentamento à pandemia no país. Isso, segundo ele, se reflete atualmente na falta de medicamentos usados em pacientes que vão para a ventilação mecânica nas UTIs.
“É necessário ter uma cama, é necessário ter os equipamentos como ventiladores, monitores, medicações e materiais, e, principalmente, ter o recurso humano que saiba operar os equipamentos”, opinou.
Goltara acredita que a capacidade hospitalar pública e privada no Espírito Santo já está no limite, e teme que falte estrutura para dar conta do aumento no número de casos.
“A gente está no limite extremo da estrutura, eu não consigo enxergar mais nenhum leito sendo operacionalizado aqui na Grande Vitória, ou no Espírito Santo. Os leitos que já estão funcionando, já estão no limite da escassez de medicação, de material e de recursos humanos”, disse Leonardo.
Sobre a divergência de números para entrega de materiais, o Ministério da Saúde disse que isso acontece, pois em alguns casos, os equipamentos são destinados diretamente aos municípios.
*Com informações do repórter Alex Pandini, da TV Vitória/Record TV.