Geral

Greve dos rodoviários em Guarapari já dura uma semana e segue sem acordo

A empresa alegou que para suprir todos os custos de despesas de funcionários e com o aumento do diesel, a passagem deveria ter o valor de R$ 7,50

Foto: Leitor | Whatsapp Folha Vitória

A paralisação dos rodoviários da Expresso Lorenzutti já dura mais de uma semana, em Guarapari. As alegações dos trabalhadores são de que há salários atrasados. Por outro lado, a empresa afirma que não tem como pagar os funcionários sem a arrecadação das passagens, única fonte de receita.

Na tarde de segunda-feira (20), a Expresso Lorenzutti afirmou que para suprir todos os custos de despesas de funcionários e com o aumento do diesel, a passagem de ônibus no município deveria custar R$ 7,50. Atualmente, a tarifa cobrada é de R$ 4,10, definida em 2016. 

De acordo com a categoria, o salário referente ao mês de abril, vencido em maio, foi pago apenas a metade. Já o pagamento que deveria ser depositado em junho, não foi creditado. A proposta apresentada pela empresa foi do pagamento parcial em 15 dias do salário referente a abril. O referente ao mês de junho não teria perspectiva de data para quitação.

Como a oferta não foi aceita pelos trabalhadores, que querem o pagamento integral dos valores, a greve ainda não tem previsão para ser encerrada. 

Atualmente, segundo a empresa, a dívida com a folha de pagamento seria de R$ 700 mil. Ainda segundo a Lorenzutti, o município não apresenta planilha de custos desde 2017, impossibilitando o reajuste da passagem. 

LEIA TAMBÉM: Motoristas fazem paralisação e moradores ficam sem ônibus em Guarapari

A gestora da empresa, Bianca Lorenzutti, disse, durante entrevista coletiva, que precisou vender imóveis para manter o transporte da população em dia. Segundo ela, o município foi alertado sobre um possível colapso no sistema, quando foi solicitado o pagamento por parte da prefeitura do déficit gerado. 

Um dos fatores que teria colaborado também para a dificuldade do funcionamento do transporte coletivo foi a baixa arrecadação, causada pela pandemia da covid-19. Apesar disso, a empresa declarou que, durante a pandemia, adotou diversas ações para manter os ônibus em atividade. 

Sem previsão para a quitação integral dos salários, a gestora da Lorenzutti disse que depende agora da liberação de uma folha de crédito pela Prefeitura de Guarapari para fazer os depósitos.

Problema se arrasta há anos

Em entrevista ao Folha Vitória, o motorista Wellington Soares, colaborador da empresa Expresso Lorenzutti há 6 anos, afirmou que os atrasos no pagamento têm se repetido há pelo menos três anos, ou seja, desde o início da pandemia. 

“A gente que trabalha na rua vê que entra dinheiro, mas nunca nos deram prioridade. Até antes da pandemia a gente não tinha do que reclamar. Sabemos que eles passaram por momentos difíceis, mas agora não suportamos mais”, desabafou.

“A empresa sempre promete salário e não cumpre. Sei que o juiz impôs multa diária pela falta de pagamento em dia, mas não adianta. Nesta segunda, chegamos na garagem cedo e em nenhum momento fechamos o portão. Tentamos conversar com calma. Como não tivemos resposta, cruzamos os braços. Na terça, aconteceu a mesma coisa e agora estamos no terceiro dia. Alguns colaboradores saíram normalmente, nós não impedimos ninguém”, disse Soares.

De acordo com o relato do condutor, colegas chegaram até a vender a geladeira para pagar as dívidas. “Não temos mais cabeça, temos filhos e contas. Só vamos regularizar a situação quando a empresa cumprir com a palavra. Nós não estamos proibindo ninguém de trabalhar, mas estamos sendo intimidados com ameaças de demissão por justa causa. Inclusive, estão contratando gente sem experiência para ir para a rua, o que é um grande risco à população”, continuou.

Trabalhadores cantaram parabéns para salários atrasados

Essa não é a primeira vez que os funcionários da empresa reclamam de problemas no pagamento. Em março deste ano, houve uma paralisação de 70% da frota.

Em junho do ano passado, os motoristas e cobradores fizeram um protesto e cantaram parabéns para os salários atrasados. Segundo os trabalhadores, o vale-alimentação e o FGTS também estavam atrasados.

Na ocasião, a empresa afirmou que buscava solucionar a regularização dos salários e explicou que apenas o vale-alimentação referente ao mês de maio estaria em atraso. A empresa ressaltou ainda que os débitos de FGTS foram parcelados junto ao órgão competente.

Transporte clandestino

Outro ponto apresentado na coletiva de imprensa da empresa foi a falta de fiscalização da prefeitura do tráfego de vans clandestinas no município. Isso porque, segundo a empresa, a atividade delas interfere no faturamento, que já está prejudicado. 

Bianca declarou que o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) já entrou com processo contra o município. O órgão foi procurado, mas ainda não informou qual o andamento da ação.

A Prefeitura de Guarapari também foi acionada pela reportagem, mas não respondeu aos questionamentos. A matéria será atualizada quando houver um posicionamento.

*Texto da estagiária Daiane Obolari com supervisão da editora Thaiz Blunck.