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Hélio Dórea comemora 88 anos de vida e relembra a trajetória no colunismo social

Ao completar seus 88 anos, Hélio Dórea também completa 64 anos de colunismo social no Espírito Santo. Todo este tempo resultou em um título invejável concedido a ele: entrou para o livro do recordes como o colunista social com maior tempo de atuação no Brasil

Foto: Iures Wagmaker

Ter um Rolex de ouro, uma casa de praia, uma Mercedes-Benz, conhecer Paris e montar em um camelo. Os maiores sonhos do jovem Hélio Dórea ficaram pequenos diante de tantas conquistas realizadas nestes 88 anos, muito bem vividos, comemorados nesta sexta-feira (26).

Dono de uma memória invejável, pai de três filhos, avô de 11 netos e com uma bisneta, Hélio Dórea celebra uma vida repleta de acasos e caminhos que o levaram para longe do que ele havia planejado na juventude: baiano de nascimento, tornou-se capixaba de coração; dentista por formação, fez do jornalismo a sua vida; de futuro fazendeiro no interior da Bahia, transformou-se em empresário na capital do Espírito Santo.

Hélio Dórea nasceu na cidade de Feira de Santana, na Bahia. Sempre se dedicou aos estudos para cursar a faculdade de Medicina, mas não conseguiu ser aprovado no vestibular. A convite de um amigo, veio para o Espírito Santo cursar Odontologia. Já de início, Dórea ficou encanto pela cidade e, aos poucos, fez do estado capixaba a sua própria casa.

Mesmo com o passar do tempo, Dórea não se esquece dos detalhes vividos em sua história. Conversar com ele é como ler um livro e imaginar, passo a passo e detalhe por detalhe, cada momento que marcou a sua vida. Nem mesmo as datas são esquecidas ao contar sua trajetória.

“Cheguei aqui no dia 26 de janeiro de 1953. Na chegada ao aeroporto, fiquei procurando um táxi. Chegou um rapaz e perguntou para onde eu iria. Disse a ele que precisava chegar na Rua Duque de Caxias, 157, pensão de dona Maria Vitório Merlo. Ele disse que era amigo deles e me levou até lá. No caminho, ele perguntou se eu gostava de festa. ‘É meu ponto fraco’, disse a ele. Ele falou que no dia 30 haveria um jantar de aniversário do governador Jones dos Santos Neves e eu estava convidado. Fui ao jantar, conheci o governador e conheci uma pessoa fantástica em minha vida, chamada Cristiano Dias Lopes Filho. Posteriormente, ele também foi governador e criou um cargo para que eu ocupasse no governo dele”.

Foto: Iures Wagmaker

Com um olhar apaixonado, Hélio Dórea faz questão de mostrar a todos que visitam o seu escritório, na Enseada do Suá, em Vitória, diversas fotos e caricaturas da esposa, Regina Dórea, por quem cultiva tanto amor mesmo após tantos anos juntos. Com o mesmo afeto, carinho e atenção, ele se recorda do dia e do momento que conheceu aquela que seria a sua companheira por toda a vida.

“A sociedade vivia em função de clubes, como o Saldanha, Álvares Cabral e outros. Eles faziam festas, mas tinha alguns ensaios das meninas para desfilarem nos evento. Eu e uma turma de amigos íamos para paquerar as meninas. Certo dia, um amigo me disse que havia uma debutante muito bonita lá e eu pedi que me apresentasse. Quando eu olhei para ela, disse ‘essa é minha e ninguém tira’. Até hoje Regina Dórea está comigo”.

Hélio Dórea sempre foi um homem de muitos contatos e com um ótimo relacionamento social. Vivendo na capital capixaba, mantinha-se com a mesada que recebia de seu pai. Um dos amigos dele veio de Cachoeiro de Itapemirim e passou a fazer uma coluna social no extinto jornal O Diário, que ficava na rua Sete de Setembro, em Vitória. Como não conhecia muitas pessoas, a rotina do jornalista era ligar, todos os dias, para o jovem Hélio Dórea em busca de notícias para fechar a edição do dia seguinte. Dórea não sabia, mas assim começava sua longa e brilhante história no jornalismo.

Na parceria, ele cumpria a rotina de colaborar com o amigo. Em um certo dia, o jornalista viajou em busca de uma nova oportunidade de trabalho no Rio de Janeiro e pediu que Hélio ficasse em seu lugar, provisoriamente. Mas não tem ninguém melhor para contar isso do que o próprio Hélio Dórea. Veja o video com o relato do colunista:

Dessa forma, aos poucos o então estudante de Odontologia passou a ingressar no Jornalismo. Mas Dórea ainda não estava convencido de que o Jornalismo o havia escolhido. Prestes a se tornar um dentista, ele procurou o dono do jornal e pediu para deixar a coluna. Se dedicaria à Odontologia, pois seu pai montaria um consultório para ele. Sem querer perder aquele que fazia um belo trabalho, o chefe ofereceu um bom salário e foi o fator que convenceu Hélio Dórea a continuar naquilo que já exercia com maestria.

Mesmo trabalhando na profissão de formação, Hélio continuou no Jornalismo. Muito observador e com visão empreendedora, enxergou oportunidades de crescer ainda mais, o que resultou em novas oportunidades. No áudio abaixo, Dórea relata como chegou em um grande jornal do Espírito Santo e todo o crescimento e inovações que viveu e criou neste período.

Mesmo sem ter se formado na área de atuação, Hélio Dórea foi eleito presidente da Associação dos Jornalistas do Espírito Santo. Na época, não havia o sindicato da categoria e foi ele um dos responsáveis pela criação do Sindijornalistas – ES. Também era motivo de incômodo para ele o fato de que grande parte dos jornalistas que atuavam no Espírito Santo não eram formados. Foi após uma conversa argumentativa com o então reitor da Ufes que a ideia foi acatada e, algum tempo depois, nasceu o primeiro curso de Jornalismo do estado.

O tempo passou e Hélio Dórea continuou atuante no colunismo social. Um novo milênio chegou e as tecnologias avançaram cada dia mais. Foi em meados dos anos 2000 que ele foi convidado por Americo Buaiz Filho e Fernando Machado, atuais presidente e vice-presidente da Rede Vitória, respectivamente, a fazer parte de um projeto inovador no Espírito Santo, que estava prestes a ser lançado: o jornal online Folha Vitória.

Foi no dia 10 de maio de 2007 que, pela primeira vez, a Coluna Hélio Dórea saiu das páginas de um jornal impresso e migrou para a internet. Nascia, naquele dia, uma nova parceria que renderia muitas conquistas e, neste ano, completa 12 anos de inovação e crescimento, aliado com o que há de melhor na tecnologia.

Fotos da galeria:
1 – Reunião para criação do Sindicato do Jornalistas do Espírito Santo. No centro, Helio Dórea que era presidente da Associação dos Jornalistas Profissionais do ES;
2 – Regina e Helio Dórea em jantar com o presidente Juscelino Kubitschek;
3 – O colunista Wilson Frade de BH, Henry Maksoud,Dono do lendário hotel cinco estrelas Maksoud Plaza, em São Paulo, e Hélio Dórea;
4 – O cirurgião plástico Ivo Pitanguy e o jornalista Helio Dórea;
5 – Helio Dórea e o reitor da Universidade do Espírito Santo, Alor Queiroz de Araujo;
6 – Helio Dórea discursando no ato de assinatura da abertura do curso de Jornalismo da Ufes. Da esquerda para direita, Gilson Araujo, Helio Dórea, jornalista Plinio Marchini, vice-reitor Valder Colares e o reitor Alaor Queiros de Araujo.

Ao completar seus 88 anos, Hélio Dórea também completa 64 anos de colunismo social no Espírito Santo. Todo este tempo resultou em um título invejável concedido a ele: entrou para o livro do recordes como o colunista social com maior tempo de atuação no Brasil “E eu acredito que seja, também, no mundo”, destaca.

Após ler este pequeno resumo da história do dentista que virou jornalista, você, prezado leitor, deve estar se questionando: “Mas e quanto aos sonhos citados lá no início desta matéria?”. Pois bem! Seria surpresa se eu disser que todos foram realizados? “Rolex, eu tive; casa de praia, eu tenho, em Guarapari; uma Mercedez, eu tive durante 12 anos; e Paris eu conheço mais do que São Paulo. Já fui mais de 30 vezes”, conta.

Montar em um camelo também foi um desejo realizado. Na verdade, essa é só uma das diversas memórias que Hélio Dórea coleciona de suas viagens para os mais variados destinos do mundo. Alguns locais, ele afirma que não quer voltar. Na França, além de Paris, conheceu cidades por todo o país. Da Alemanha, Hélio Dórea trouxe uma lembrança que poucas pessoas no mundo devem ter. Um pequeno objeto, guardado como relíquia em seu escritório. Veja o relato no vídeo:

Relíquia

Outro objeto que está guardado como relíquia em seu escritório é a máquina de escrever em que ele começou a história no jornalismo. Se no início ele nem sabia como aquele objeto funcionava, posteriormente foi aquela preciosidade tecnológica da época que o fez chorar, mas de emoção.

“O Hotel Por do Sol tinha foco em jantares. Quando eu fiz 40 anos de jornalismo, o dono do hotel fez uma festa em minha homenagem, com a presença de vários convidados ilustres. Não sei como, mas eles conseguiram, nos anais de “O Diário”, essa máquina e me deram de presente. Fiquei muito emocionado e guardo até hoje”

Bom de papo

Quem já teve ou tem oportunidade de visitar Hélio Dórea em seu escritório sabe como o veterano jornalista é bom de papo e gosta de uma boa conversa. Sempre acompanhado por sua família, com quem trabalha em diversos segmentos, a receptividade e a atenção são marcas registradas de cada um.

Para terminar esta reportagem, nada mais justo do que transcrever um pequeno trecho da entrevista realizada com ele, falando das memórias, dos afetos e de momentos marcantes em sua vida. Confira!

Folha Vitória: Como é a relação familiar?

Hélio Dórea: Tenho 3 filhos, 11 netos e 1 bisneta. Eu sempre falo para a Regina que tudo isso é fruto da gente. Se nós dois não existíssemos, isso também não existiria.

FV: Hélio Dórea sempre conheceu muitos lugares do Brasil e do mundo. Qual foi a viagem mais emocionante já realizada?

HD: Ano passado estive na Áustria. Umas das coisas que mais tinha vontade de fazer era assistir uma ópera no teatro de Viena. O teatro é deslumbrante, coisa de louco, muito lindo. Reservamos com antecedência e conseguimos lugares na segunda ou terceira fila. Fiquei muito entusiasmado e gritava ‘bravo, bravo!’. Quando terminou a apresentação, o maestro pegou a batuta e jogou para mim, mas um cara na minha frente pegou. Ele quis quebrar no meio e dividir para nós dois, mas deixei com ele. Foi muito emocionante. Eu estive lá e ainda fui homenageado pelo maestro.

Foto: Iures Wagmaker

FV: Entre tantas personalidades que conheceu durante a carreira, qual a mais importante?

HD: Quem eu tive vontade de conhecer, eu tive a oportunidade e conheci, foi Juscelino Kubitschek. Na época, ele era considerado o melhor presidente que já existiu. Eu tinha um amigo em Belo Horizonte, o Wilson Frade, que era jornalista também. Sempre que ele fazia uma festa bacana, ele me convidava. O Juscelino foi padrinho de Wilson e ele me disse que quando o presidente estivesse por lá, me convidaria para conhecê-lo. Não deu outra. Fui lá e conheci. Um ser humano fantástico, um homem de uma simplicidade enorme. Passei mais de uma hora falando com ele.Tomei uma aula muito melhor que aulas de universidades que tem por aí. Um ótimo presidente, amável.

FV: Como foi a mudança do meio impresso para o meio online?

HD: Eu tinha receio. Quando o Fernando (Machado) veio me convidar, eu fiquei com receio. Eu não estava acostumado com esse negócio. Já tinha 43 anos de jornalismo. Mas quando comecei a atuar no Folha Vitória, ligavam para mim pessoas do Rio, São Paulo, Bahia e de vários lugares dizendo que leram a coluna. Tenho uma amiga que trabalhava na ONU, em Pequim, agora está em Xangai. Esteve aqui visitando os pais, em Vila Velha, e me disse que lê a coluna todos os dias lá onde está. Segundo ela, vários capixabas na ONU lêem a minha coluna. Em Miami (EUA) está cheio de capixaba. Fiquei entusiasmado, porque passei a ser internacional. Antes eu era apenas estadual. Tenho muito orgulho de trabalhar neste jornal.