Era só mais um dia de lazer à beira do mar, mas a quantidade de lixo que a publicitária Mikaely Reinholz encontrou na praia de Setiba, em Guarapari, começou a incomodar. Foi aí que ela ela levantou, pegou uma sacola plástica, que também estava na areia, e começou a recolher os resíduos.
Logo, a família toda resolveu fazer o mesmo. “Nós só tínhamos sacolas pequenas, de supermercado. Mas os garis nos viram recolhendo o lixo e ofereceram os sacos maiores. Juntamos três grandes, cheios de lixo, em um raio de 10 metros”, comenta Mikaely.
A nutricionista Letícia Matrak conta que costuma fazer a limpeza dos resíduos que encontra em torno do lugar escolhido para passar o dia na praia. “É hábito que cultivo desde criança. Vejo que no Rio de Janeiro, muitos cariocas fazem o mesmo. Já aqui no Espírito Santo, as pessoas acham estranho quando faço. Mas continuo recolhendo”, diz Letícia.
Retirar o lixo da praia – não apenas o próprio resíduo, mas aquele dispensado por outros banhistas – é um movimento que vem crescendo no estado. Organizações Não Governamentais como o Projeto Pegada, que promove ações de limpeza desde 2014 na Grande Vitória, buscam provocar essa reflexão nos banhistas. Ao convocar mutirões, não apenas recolhe os resíduos, mas também conscientiza voluntários, moradores e turistas sobre a importância de manter o meio ambiente limpo.
Muitos perfis nas redes sociais também têm sido incentivadores e educadores, quando o assunto é lixo na praia. Caso do Biodegradável, que divulgou a ação de uma seguidora para servir de exemplo.
Críticas na rede
Já o apresentador da TV Vitória, Eduardo Santos, usou as redes sociais para criticar o excesso de lixo nas praias capixabas. Em férias, ele costuma passar as manhãs com a família em Itapoã, Vila Velha. Mas o que encontrou esta semana foram lixeiras lotadas de plástico, garrafas, restos de coco e vidro. “A crítica é construtiva! São 10h45, segunda-feira. O lixo na Praia de Itapoã ainda não foi recolhido. Os turistas chegam, vêem a praia desse jeito e saem com uma péssima impressão de Vila Velha. Talvez seja pontual, mas isso deveria ser evitado!” desabafa.
Quem também usou seu perfil nas redes para mostrar o lixo nas ruas foi a apresentadora Roberta Salgueiro, que é uma das Sereias Capixabas. Todos os dias, ela encontra calçadas e asfalto repletos de lixo, em frente à academia que frequenta em Cariacica. “Esse lixo que você vê na rua vai para os bueiros, e à primeira chuva, é carregado para os canais, e finalmente para o mar”, alerta.
Limpeza pública
As prefeituras da Grande Vitória aumentam o efetivo durante o verão, para dar conta do trabalho. Em Vitória, 300 toneladas de lixo foram recolhidas das praias em um intervalo de 15 dias, pelas equipes da Central de Serviços. Uma média de 19 ton por dia. No fim de semana, o número chega a 28,5 ton. O município conta com 75 garis só para o litoral, e a limpeza é feita pela manhã. O secretário da Central de Serviços, Nathan Medeiros, destaca a importância da colaboração e conscientização da população para a preservação ambiental e para que todos possam curtir o verão em segurança.
“A quantidade de lixo recolhida em nossas praias diariamente é muito grande. Além de prejudicar o meio ambiente, com os resíduos que podem ir para o mar, há também o risco de acidentes com os palitos de churrasco e picolé, descartáveis, entre outros objetos que são deixados na areia da praia. É preciso uma maior conscientização da população, recolhendo o lixo produzido”, orienta.
Entre os resíduos mais comuns recolhidos pela equipe de limpeza estão restos de coco, garrafas pet, palitos e embalagens de picolé, materiais descartáveis em geral (copos, talheres e pratos), entre outros.
Em Vila Velha, acontece um projeto piloto para sensibilizar os frequentadores das praias, sobre descarte inadequado de lixo e micro resíduos. Trata-se das lixeirinhas compartilhadas. São latas recicladas, que ficam penduradas em um suporte de madeira, com a placa “Chegou? Pegue! Já vai? Devolva!”
Cada banhista pode usar para descartar palito de picolé, tampinhas, guimbas de cigarro. Ao todo, serão instaladas 15 pontos com latinhas recicladas até o final da próxima semana da Praia da Costa à Praia da Ponta da Fruta.
As lixeiras são de material totalmente reutilizado, desenvolvidas com latas de conserva, devidamente furadas e pintadas, para que não haja acúmulo de água. Já o suporte foi confeccionado com madeira reutilizada, vinda do caminhão cata-móveis e de demolições da própria Prefeitura. A execução ficou por conta dos reeducantos da Secretaria de Estado da Justiça.
O objetivo do equipamento é chamar atenção de moradores e turistas. “Não é por falta de limpeza. Necessitamos de mudança de postura. As pessoas precisam se conscientizar que o seu pequeno resíduo influencia na vida marinha e também polui visual e quimicamente a praia”, explicou a coordenadora de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Flávia Maciel. “Já no momento da instalação, na Curva da Sereia, na Praia da Costa, as lixeirinhas foram rapidamente usadas por banhistas e ambulantes locais”, completou Flávia.