A influenciadora digital capixaba e militante do movimento negro, Carol Inácio, foi alvo de ataques racistas no último domingo (08), dia em que completou 26 anos, em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo. As mensagens ofensivas foram trocadas em grupos de WhatsApp. O caso está sendo investigado pela polícia.
Alguns prints foram feitos, dos trechos das conversas em que Carol Inácio é atacada. Um dos participantes do grupo diz que “negas fedem a bicho”, e pergunta: “a mina é nega e ainda é gorda. Sobra o quê?”
Outro integrante diz que teve uma ideia: que um reality show fizesse “uma senzala de vidro só para negros”. Em seguida citam a influencer: “imagina a afro Carol em uma senzala de vidro?”
Em seguida, outro membro do grupo escreve: “e aquela mãe dela? O que você acha? Sendo bem sincero”. Outro responde: “uma gorda retardada. Foi tomar a vacina e ficou gritando igual uma chimpanzé”.
Em um dos grupos de trocas de mensagens, os participantes se declaram da seguinte forma: “somos homens, brancos, hétero normais. Devido a isso te oprimimos, né? Portanto, assuma seu local de inferioridade total”. No outro grupo, aparece escrito: “abaixo ao negrismo”.
Carol Inácio conta que foi adicionada em um dos grupos no último domingo.
“Vieram duas pessoas, sem nome e sem foto, e mandaram mensagem para mim, falando que eu e minha mãe éramos dois lixos, porque eu postei um reels da minha mãe vacinando e gritando “viva o SUS’ e ‘fora Bolsonaro'”. No dia 8, no meu aniversário de 26 anos agora, eles me adicionaram no grupo”, contou a influencer.
Carol também atua como militante do movimento negro e acredita que foi alvo dos ataques por causa desse trabalho que realiza nas redes sociais.
“Eu me posiciono abertamente politicamente também. Lógico que eu mantenho toda a cautela e educação. Eu estudo para ser professora, então eu gosto de usar muito a didática para poder passar o ensinamento para as pessoas. Inclusive antes tinham pessoas brancas no meu perfil e isso era uma forma de eu me sentir segura”, afirmou.
Um dos grupos de trocas de mensagens, o maior deles, é formado por 129 pessoas de vários lugares. Alguns números de telefone são do Espírito Santo, outros de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e até do exterior, dos Estados Unidos.
A Polícia Civil de Colatina informou que está investigando os ataques. “Estamos solicitando à Justiça a quebra do sigilo telefônico de todos os envolvidos, alguns residentes fora do país e outros aqui no Brasil, para que nós possamos identificá-los e, ao final, caso seja comprovado que eles praticaram crime de racismo, todos serão indiciados e levados ao Poder Judiciário”, afirmou o delegado Hedson Félix, responsável pelas investigações.
O advogado Marcos Vinícius Sá afirma que os integrantes do grupo cometeram dois crimes. “Ali nós temos tanto o crime de injúria racial quanto o crime de racismo. O crime de injúria racial é quando ele se volta contra a vítima específica, no caso ali contra a Carol, quando eles atacam a honra dela, proferindo palavras de ódio. Já o crime de racismo também foi cometido, uma vez que temos mensagens também onde se ataca a comunidade negra”, explicou.
ES já registrou 53 casos de racismo em 2021
De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), foram registrados 53 casos de racismo neste ano no Espírito Santo. Em 2020, foram 80, o que colocou o estado como o quinto do país com a maior incidência do crime, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Carol registrou um boletim de ocorrência, mas afirma que não imaginava a proporção que a história iria tomar.
“Eu fiquei muito triste na primeira noite, nas outras eu não dormi. Eu vou tentar melhorar a situação agora. Mas eu me sinto forte também, estou me sentindo muito fortalecida. O apoio tem vindo de muitas pessoas, tem vindo de pessoas famosas que eu jamais imaginava, tipo Bruna Marquezine, Samantha Schmütz”, afirma.
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A produção da TV Vitória/Record TV tentou entrar em contato com o administrador dos grupos onde ocorreram os ataques, mas ele não atendeu às ligações.
“Muitas pessoas negras sofrem e sofreram isso em suas vidas e, muitas das vezes, se calam. Quando a Carol, como digital influencer que é, verbaliza, ela acaba sendo voz de muitas pessoas que sofrem isso, muitas vezes na sua casa, no seu local de trabalho. Quando ele vê que a Carol teve coragem e denunciou, acaba encorajando demais pessoas também para denunciar esses casos”, destacou Marcos Vinícius Sá.
* Com informações do repórter Álvaro Zanotti, da TV Vitória/Record TV