A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) estuda novas metodologias para as próximas etapas do inquérito sorológico. O resultado da segunda fase do estudo foi divulgado nesta terça-feira (25) e apontou um leve aumento da prevalência do novo coronavírus na população capixaba, em comparação com a etapa anterior.
O levantamento estimou que 271.259 pessoas já tiveram contato com o vírus no estado, o que representa 6,75% da população. Na primeira fase do atual inquérito, a estimativa foi de que 262.016 capixabas haviam sido contaminados com a covid-19 — uma prevalência de 6,52%.
Na Grande Vitória, a projeção dessa segunda etapa é de que 145.085 pessoas tenham sido infectadas (7,33% do total), contra 144.294 (7,29%) na anterior. Já no interior, a diferença foi um pouco maior: 90.749 (4,45%) na segunda fase, contra 86.671 (4,25%) na primeira.
No entanto, a equipe responsável pela elaboração do inquérito sorológico considera que o resultado já não representa mais a real situação da população. Isso porque, com as últimas medidas de flexibilização das atividades econômica no estado, as pessoas que mais se expõem ao coronavírus geralmente não estão em casa durante a semana, no horário comercial, que é quando as equipes visitam as residências para realizarem as testagens. No primeiro inquérito, tal situação não ocorria, já que a maioria das pessoas estava em casa na maior parte do tempo.
“Quem está dentro de casa são aquelas pessoas que se resguardaram por mais tempo, que circularam menos, que se expuseram menos e, por isso, desenvolveram menos anticorpos. Por isso, a gente tem hoje um percentual menor do que tinha no auge do primeiro inquérito, quando a gente estava pegando mais universalmente a população. Ou seja, quem a gente estava encontrando em casa representava mais as diferentes parcelas da população do que quem a gente está encontrando agora. Então, nesse segundo inquérito, o que a gente entende é que de quem a gente está colhendo exame não representa mais, em termos gerais, a população do estado do Espírito Santo”, destacou o médico infectologista Crispim Cerutti, que faz parte da equipe que desenvolve o inquérito sorológico.
Outra integrante da equipe, a médica infectologista Cristiana Costa Gomes, ressaltou a proximidade dos resultados apontados nas duas etapas do atual inquérito sorológico. “De uma maneira geral, os dados dessa segunda etapa do inquérito foram muito semelhantes aos dados da primeira etapa do segundo inquérito. A nossa percepção, quando a gente terminou o primeiro inquérito e recebeu os resultados da primeira etapa do segundo inquérito, de estar testando uma população que já não era tão representativa de toda a população do estado, foi corroborada nessa segunda etapa do segundo inquérito”, frisou.
Cristiana Gomes afirmou ainda que, diante da constatação de que as testagens feitas em domicílio já não representam mais a realidade da população capixaba, a equipe está estudando outras metodologias para a pesquisa, como a realização do inquérito escolar — que englobaria estudantes, professores e demais funcionários das instituições de ensino. “O inquérito escolar está em fase de desenho metodológico, de elaboração de como vai ser essa amostra. [A autorização do retorno das aulas presenciais] é uma decisão difícil e quanto mais base a gente puder trazer para fomentar uma decisão, melhor”.
Outra possibilidade de metodologia para o inquérito sorológico é testar as pessoas que estão fora de casa, no chamado inquérito de fluxo. “O inquérito de fluxo diz respeito às pessoas que estão em mobilidade. Então se a gente faz o inquérito domiciliar e nossa constatação é de que as pessoas que a gente encontra dentro de casa não representam mais a população integral, a gente tem que buscar essa representatividade. E a forma de buscar é nas pessoas que estão em deslocamento, prestando suas atividades cotidianas fora do domicílio. Então, nessa fase, a gente está discutindo melhor a metodologia: se a gente aborda isso em locais de comércio público, se a gente lida com a questão dos pontos de transporte coletivo. Isso a gente ainda vai definir nas próximas semanas”, disse Crispim Cerutti.
“Na minha opinião, a prevalência não diminuiu [em relação ao primeiro inquérito]. O que nós detectamos foi a prevalência de quem não circula, quem não está nas ruas. Então aprendemos primeiro uma prevalência geral e agora uma prevalência de quem ficou em casa. É uma informação importantíssima para nós. E também compreendemos que precisamos alterar o formato dos nossos inquéritos, como o inquérito escolar. Também estamos discutindo um formato na população indígena”, frisou o subsecretário de Estado de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin.
Municípios
O atual inquérito sorológico tem sido realizado em 13 municípios capixabas. Desse total, sete apresentaram maior prevalência do novo coronavírus na segunda etapa, em relação à anterior: Serra, Vila Velha, Marataízes, Linhares, São Mateus, Santa Maria de Jetibá e Nova Venécia.
Entre os municípios da Grande Vitória, a prevalência do coronavírus foi bem menor nas duas etapas do atual inquérito sorológico, em relação à última fase do primeiro inquérito. Tal fenômeno não foi observado nas cidades do interior, que mantiveram o mesmo patamar do final do inquérito anterior.
“O que a gente vê é um retrato do processo de expansão da pandemia. Ela começa nos grandes centros urbanos, nas grandes áreas metropolitanas, depois ela vai se ampliando para o interior. Então o retrato que a gente tem do interior remete ao retrato que a gente tinha dos grandes centros urbanos mais atrás na história da pandemia. O que a gente vê no interior lembra ainda os aspectos que a gente tinha no primeiro inquérito. Ainda não houve essa perda de representatividade que a gente tem nos maiores centros urbanos”, comentou Crispim Cerutti.
“Existe um ponto em que a prevalência para de crescer. Isso representa também a realidade em que a gente está no caminhar da pandemia. A gente chegou no ápice e agora a gente tem uma estabilização com tendência a decréscimo. Então as pessoas se infectam progressivamente até um certo limite. Depois os percentuais tendem a uma estabilização”, acrescentou o infectologista.
Perfil dos infectados
O estudo apontou também que as pessoas que testaram positivo nesta última etapa do inquérito são, em média, 2,7 anos mais jovens que os negativos. Além disso, entre os participantes com teste positivo, houve predomínio nas faixas etárias de 20 a 39 anos e de 40 a 59 anos, ao passo que foi menor a probabilidade de teste positivo entre pessoas na faixa etária de 80 a 104 anos.
“Esse dado é importante porque ele mostra para a gente que quem está se expondo mais é a categoria mais jovem. Se as pessoas se expõem mais e se infectam mais, elas acabam sendo veículos da infecção para os mais vulneráveis. Não adianta a gente proteger os mais velhos se os mais jovens estão levando a infecção para dentro de casa, expondo-os ao risco também”, destacou Cerutti.
O levantamento indicou ainda que a probabilidade de um teste dar positivo para a covid-19 entre indivíduos de cor preta ou parda é 30% maior na comparação com uma pessoa de cor branca. Com relação ao sexo e à escolaridade dos pesquisados, não houve diferença estatisticamente significante entre os que testaram positivo e negativo.