A realidade de muitos moradores que vivem em áreas de vulnerabilidade social vem sendo transformada por projetos sociais, como o chamado “Banco Bem”. O programa atua há 13 anos e já beneficiou mais de 50 mil pessoas em todo o Espírito Santo.
O banco comunitário fica instalado em uma região chamada “Território do Bem”, que abrange os bairros de São Benedito, Bairro da Penha, Itararé, Jaburu, Gurigica, Consolação, Floresta, Bonfim e Engenharia, e já movimentou mais de R$ 2 milhões nas operações de crédito.
A instituição trabalha com três linhas de empréstimo: o produtivo, o habitacional e o de consumo. O objetivo é oferecer aos moradores da comunidade uma possibilidade de empreender, transformar os locais onde vivem e fazer a economia da região se movimentar.
E foi aproveitando oportunidades como essas que a Maria José Pereira Vieira, que há 20 anos trabalha com confecção de roupas íntimas, mudou a realidade da família. “Primeiro eu peguei o crédito habitacional e reformei a minha casa. Preparei a estrutura para conseguir começar a trabalhar”, explicou a costureira de 62 anos.
Logo depois do crédito habitacional, a Dona Zezé – como é conhecida na comunidade – solicitou o financiamento produtivo e investiu nas primeiras máquinas de costura. No início ela trabalhava com o marido e, nessa época, chegou a ter 16 funcionárias. “Elas pegavam a mercadoria e saíam para vender. Tínhamos vendedores em São Mateus, que já chegaram a levar as calcinhas até para os Estados Unidos. Já fiz encomenda de 500 peças para uma única pessoa”, contou a empreendedora.
Desde de 2006, o programa já disponibilizou à população R$ 973.981,25 em linhas de crédito produtivo, com o intuito de estimular cada beneficiário para empreender em um novo negócio.
Dignidade e empoderamento
As linhas de crédito oferecidas pelo banco não contribuem apenas para o crescimento da economia local, mas servem também para levar mais dignidade para as famílias e, em muitos casos, mais empoderamento para as mulheres da comunidade. De acordo com Leonora Mol, Diretora do Ateliê de Ideias é responsável técnica pelo projeto Apoio aos Bancos Comunitários, cerca de 80% das beneficiárias são mulheres.
A vida da Jacemar Lima Nascimento, de 37 anos, mudou completamente desde o dia em que ela conseguiu o empréstimo. Com o valor do crédito habitacional, a empreendedora deu o primeiro passo. Mãe de seis filhos, ela precisava resolver um problema que incomodava a todos os moradores da casa: a falta de outro banheiro.
“Peguei o crédito e reformei a minha casa. Meu marido é pedreiro, e ele mesmo fez a obra. Colocamos cerâmica e deu até para colocar um espelho. Antes era muito difícil. Tinha um banheiro, mas ficava na parte de baixo da casa. Se quisesse usar à noite, tinha que descer tudo sozinha; era muito complicado”, relembrou Jacemar.
Assim que reformou a casa, a empreendedora deu o segundo passo, este rumo à independência financeira. “Pedi então o crédito produtivo. Eu era revendedora de utensílios domésticos, mas resolvi aumentar as possibilidades. Comprei chinelos, material escolar, roupas, e comecei a vender na minha garagem”, falou.
Atualmente, toda a família trabalha no negócio e as vendas são feitas nas redes sociais. Uma filha tira as fotos e os outros fazem a entrega, enquanto e a empreendedora cuida do financeiro e das mercadorias junto com o marido. “Meu esposo é pedreiro, mas faz bicos. Quando não tinha obra, a gente contava só com o dinheiro do ‘Bolsa Família’, que é muito pouco. Hoje, a loja é parte fundamental da nossa renda”, disse orgulhosa.
O Banco Comunitário
O assessor de diretoria do Instituto EDP, Paulo Ramicelli, instituição que apoia e financia o Banco Comunitário, explica que a parceria surgiu a partir de uma prática recorrente da empresa, que costuma incentivar a emancipação das comunidades nos locais onde atua. “A parceria da EDP com os bancos comunitários surgiu de uma seleção pública de projetos, que é uma prática da EDP, e com essa parceria, além de apoiar a economia local das comunidades onde os bancos estão inseridos, a EDP identificou uma oportunidade de torná-los agentes comerciais”, explicou.
Além dos benefícios para a comunidade, Paulo informa que esse investimento social contribuiu para melhorar a qualidade da relação da EDP com os clientes e aumentar a receita dos bancos comunitários para um possível reinvestimento nas comunidades. “A parceria com os 12 bancos comunitários do Espírito Santo, dos quais nove estão na Grande Vitória, acabou por beneficiar mais de 40 comunidades no Estado, atingindo assim um público de mais de 50 mil pessoas”, disse.
O assessor ainda reforçou que a EDP é a única empresa do setor elétrico brasileiro que apoia bancos comunitários e os tem como agentes arrecadadores. Ouça a entrevista:
No Espírito Santo, o banco é gerido pela Associação Ateliê de Ideias, e é considerado patrimônio da comunidade. Seus critérios e forma de funcionamento são estabelecidos em um Fórum de Desenvolvimento Comunitário chamado Fórum Bem Maior, constituído por lideranças comunitárias formais e informais.
O Banco Bem opera oferecendo aos moradores concessão de créditos produtivos aos empreendedores, além do crédito habitacional para reforma das casas – incentivando os moradores a contratarem a mão de obra local e a comprarem no comércio da região, (serviço de correspondência bancária da EDP Espírito Santo e da Caixa Econômica Federal), para facilitar as transações bancárias dos comerciantes e das famílias – e a implantação de uma moeda local, com o objetivo de ampliar a circulação da riqueza nas comunidades. Hoje, a comunidade conta com a moeda social digital, “Bem e-dinheiro” e a moeda impressa: Moeda Bem.
Quer saber um pouco mais? Assista o vídeo: