Os mais de 11 mil brasileiros que integram o programa Ciências sem Fronteiras nos Estados Unidos receberam, na última quarta-feira (6), um e-mail do Institute of International Education (IIE), que gerou estranheza e revolta entre os estudantes.
Na comunicação, a organização norte-americana que promove o intercâmbio em colaboração com o Governo Federal propôs, enquanto a verba de transporte, estadia e alimentação para estágios e pesquisas fora da cidade de domicílio no exterior de US$1604 não é liberada, que os bolsistas usem o “jeitinho brasileiro” (interpretação livre para “use that Brazilian method of creative problem solving”).
A capixaba de 22 anos, Ully Misse faz parte desse grupo. Morando em Morgantown, o estado da Virginia, desde agosto do ano passado, a estudante terá que arcar com dinheiro do próprio bolso com sua alimentação nas próximas oito semanas, já que a verba não tem prazo para ser liberada. “Pelo menos consegui fazer minha pesquisa na própria universidade; tem estudante que precisa se deslocar de cidade e arcar com moradia, além da comida, situação ainda mais complicada”, conta Ully.
De acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação responsável pelo projeto, a nota divulgada é descabida. “O próprio IIE já prestou esclarecimentos aos estudantes e pediu para que o texto anterior fosse desconsiderado. A Capes informa que está em dia com todas as bolsas do Ciência sem Fronteiras e liberou na quarta-feira, 6, os recursos relativos ao pagamento das taxas e despesas das universidades”, declarou através de nota oficial.
Aviso de cobrança
A Universidade West Virginia, local que recebeu Ully para estudos de Engenharia de Petróleo, tem enviado e-mails diários à mãe da bolsista, Andressa Moreno. “Nas correspondências, recebo cobranças, pois segundo a universidade, a mensalidade dos estudos da Ully não estão em dia, mas o pagamento da mensalidade cabe ao Governo Federal”, diz a mãe.
Para Andressa, engana-se quem pensa que quem ganha essa bolsa é beneficiado. A mãe de Ully conta que além dos gastos com emissão de passaporte e taxa de visto.
“Tivemos que arcar com a passagem e só fomos ressarcidos uma semana antes da partida da Ully. Além disso, o valor da bolsa é baixo (US$ 300). Não sei como uma pessoa de baixo poder aquisitivo consegue fazer uso desse programa”, comenta Andressa.
Sem Fies
Esse é só mais um caso de estudantes capixabas que enfrentam dificuldades para estudar. Durante a semana, o jornal online Folha Vitória mostrou o drama de uma universitária de Vila Velha que ficou sem realizar o cadastro do Fies e contraiu uma dívida de R$ 20 mil na faculdade de Medicina. Apesar das dificuldades, Nathalia Campos, de 20 anos, vai tentar continuar os estudos e realizar o sonho de ser médica.