“Parece até violência, né?”. Foi com essas palavras que a Ana Carolina Rocha Souza Ramos iniciou a legenda de uma foto publicada em suas redes sociais. O texto explicava a imagem, que mostra várias pessoas segurando um rapaz para que a vacina contra a covid-19 pudesse ser aplicada. Em resumo, Ana descreveu: “É amor do tipo mais puro e verdadeiro”.
Ana é irmã do Thiago Rocha Souza Ramos, de 40 anos, que convive com uma deficiência motora e cognitiva, causada pela falta de oxigenação do cérebro ocorrida durante o nascimento dele. Segundo ela, apesar da idade e do porte físico, ele é como uma criança, com todas as limitações, mas tem a força de um adulto.
Segundo a Ana, a história da foto, que chamou a atenção nas redes sociais, mostra o amor e a dedicação dos profissionais da saúde que trabalham na campanha de imunização contra a covid-19. A vacinação aconteceu no início de maio, na Igreja Batista de Jardim da Penha, um dos pontos de imunização em Vitória.
Desafio
Tudo começou no interior do Estado. Thiago mora com os pais em Cachoeiro do Itapemirim e há alguns dias, quando a mãe, Cláudia Regina, o levou para tomar a vacina contra a Influenza, ela ouviu de uma profissional da saúde que não aplicaria se ele não aceitasse. A afirmação entristeceu e preocupou dona Cláudia.
“Foi um choque muito grande e um problema, pois é uma criança, praticamente. Precisa de um tratamento especial, uma infraestrutura que acolha as necessidades de cada pessoa. Ele foi embora sem tomar”, contou Ana Carolina.
Mesmo sabendo das limitações do jovem, a família já se preparava para outro desafio que estava por vir: a vacina contra a covid-19. O imunizante era aguardado por toda a família, já que Thiago, o pai e a mãe foram infectados pela doença há cerca de um ano.
Ao chegar a vez de Thiago ser imunizado contra a covid-19, a família optou pelo agendamento em Vitória, onde mora a irmã. Ele é parte do grupo de pessoas com comorbidades. Na hora da aplicação, Thiago ficou agitado e a família precisou de apoio para segurá-lo.
“Ele estava bem e tranquilo, mas quando percebeu que iria tomar a vacina, ficou muito bravo e começou a gritar e agredir as pessoas que estavam próximas. Ele tem muita força. Ficamos a mercê de outras pessoas, pois estávamos em três na família e não conseguiríamos segurá-lo”, contou.
Foi nessa hora que a Ana recebeu a solidariedade e o amor dos profissionais da saúde, que fizeram o possível para garantir a imunização. Ela contou que vários deles, incluindo profissionais e voluntários, se dispuseram para ajudar a segurar o irmão.
“Foi muito bonito, pois as pessoas em nossa volta se comoveram. Voluntários e trabalhadores ajudaram, agarraram ele para que fosse vacinado. Deu para ver que eles, realmente, saíram da zona de conforto, de cumprir o protocolo, para poder ajudar. Foram necessárias 11 pessoas para segurá-lo”, contou.
A cena foi registrada e chamou a atenção de muitas pessoas. A Ana publicou a foto nas redes sociais e descreveu o momento, parabenizando a equipe de profissionais da saúde pelo empenho e dedicação na imunização.
“Meu agradecimento especial a estes profissionais da saúde dispostos a sair totalmente da zona de conforto em prol de executar o PNI, de combater a pandemia e, especialmente, de nos ajudar. Esse é o melhor presente que poderíamos receber! No total, fomos 11 pessoas estapeadas, beliscadas e amontoadas, unidas por um único sentimento: a certeza de que juntos venceremos mais esta!”, escreveu.
Ana celebrou a conquista da imunização do irmão e também aproveitou para comemorar e valorizar a garra dos pais, que persistem no carinho e na atenção às necessidades do Thiago.
“Valorizo a força dos meus pais, que lutam com ele há 40 anos. Precisamos lidar com ele como uma criança, mas com a força de um adulto. A colaboração de todos foi um ato de amor para ele e para os meus pais”, disse.
A vacinação do Thiago aconteceu no início de maio, na Igreja Batista de Jardim da Penha, um dos pontos de imunização da capital. No local, estavam profissionais e voluntários, que presenciaram a cena e colaboraram com a aplicação.
Na foto publicada, Thiago aparece sendo contido pelos pais e pelos profissionais Edileusa Soares Amorim Cruz, Maurina Silva Florencio, Lara Marina de Vasconcelos, Marilene Zandonadi de Souza, Hilda Castro, Herica Souza e a coordenadora da vacinação Giselle Saiter.
Uma das voluntárias que também ajudou foi a estudante de medicina Ana Clara Stanzani Moreira. Ela ajudava na triagem e conta que a cena marcou o trabalho da campanha de imunização.
“Ainda estou no início do curso e não esperava vivenciar algo tão grande, como a vacinação na pandemia. Isso me ensina muito. O caso do Thiago me mostrou a importância de saber como lidar com pessoas especiais com carinho, cuidado e empatia. Isso vai acrescentar muito na minha vida profissional”, afirmou a estudante.