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Jovem que matou os pais e tirou a própria vida é alvo de ataques nas redes sociais

O perfil de Guilherme Heringer César, 22 anos, foi retirado do ar após sofrer comentários ofensivos

Foto: Reprodução / Instagram Guilherme Heringer

O perfil social no Instagram do filho do casal encontrado morto na Praia da Costa, Vila Velha, na quarta-feira (04), Guilherme Heringer César, 22 anos, foi retirado do ar. Ele é o principal suspeito de ter cometido o crime e, depois, tirar a própria vida. Nos últimos dias o perfil foi alvo de ataques, como comentários ofensivos e agressivos. 

As cenas encontradas no apartamento da família foram consideradas macabras pelos policiais que atenderam a ocorrência, como Bíblia com páginas arrancadas, paredes e chãos pintados e garrafas de bebida espalhadas contribuíram para que internautas tirassem conclusões precipitadas e fossem no Instagram do jovem escrever mensagens o atacando. 

Enquanto estava ativado, seguidores denunciaram o perfil para que fosse retirado do ar. Leia alguns comentários:

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Sociedade perversa nas redes sociais

Foto: Reprodução/ Redes Social
O perfil do Instagram de Guilherme Heringer não está mais disponível na web. 

Para o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), doutor em Comunicação e pós-doutor Mídia e Cotidiano, José Antônio Martinuzzo, o comportamento das pessoas nas redes sociais pode ser explicados a partir do termo sociabilidade perversa.

“As pessoas que comentam e atacam o outro nas redes sociais se colocam acima da lei. São perversas e estão acima das leis do mundo. A lei vale para todo mundo, menos para ela. Ela julga tudo e todos”, explicou Martinuzzo.

Além disso, ele definiu que pessoas que encontram espaço para opinar e atacar em comentários nas redes sociais não possuem compaixão e nem empatia.

“Redes sociais é o tribunal para perversidade”

Semelhantes aos tribunais de justiça da vida real, no qual os crimes e suspeitos são julgados, com juiz, advogados de defesa e acusação e testemunhas, Martinuzzo analisou as redes sociais como um tribunal online para a perversidade.

“Essas pessoas não perdem uma oportunidade para julgar. Em uma tragédia dessas elas deviam pelo menos entender que o momento é de dor, uma destruição que levou a morte de toda uma família. Nas redes sociais elas acusam, julgam e determinam a sentença”, salientou o professor.

“Criar a memória de uma justiça digital”

A prática de comentar agressividades em um perfil de uma pessoa que já morreu representa para o professor de Novas Mídias da Ufes, Fábio Malini, o desejo de vingança e o ‘justiçamento digital’.

“Querem deixar registrado a marca, ou seja, que aquela pessoa, mesmo saindo do plano físico, mas no plano digital está marcada pelo fato. É como se ela fosse marcada pelo julgamento, um ato de justiça”, opinou Malini.

Além disso, o professor defendeu que o ambiente da internet parece exigir que as pessoas se posicionem a qualquer custo. “É um elemento de desejo catártico de se posicionar em tudo”, salientou.

Educação e leis para punir comentários ofensivos

Especialista em Mídia e Cotidiano, Martinuzzo apontou dois caminhos para a construção de uma sociedade mais tolerante. Ele defendeu o incentivo em políticas públicas educacionais para ensinar as pessoas como se comportar na internet e legislação para punir comentários que extrapolam a convivência em sociedade.

“A tecnologia das redes permite o uso fraterno e de ódio, e o que determina esses usos são as pessoas, que utilizam para um objetivo ou outro. Sendo assim, quando se trata de humanos, é possível corrigir os rumos, seja pela educação ou pela lei”, destacou.

Por fim, Martinuzzo alertou que comentários agressivos podem atingir profundamente as vítimas e pessoas próximas. 

“De um jeito ou de outro, elas criam uma tragédia comportamental e social em cima de outra tragédia. Essa violência atinge as pessoas que são empáticas e estão enlutadas e, aqueles que gozam da perversidade, se sentem impulsionados”, finalizou.

A solução é a retirada urgente do perfil

O professor Malini defendeu que as grandes empresas, responsáveis pelas redes sociais, como o Facebook, que controla o Instagram e o WhatsApp, sejam célere em retirar contas que propagam comentários ofensivos, quando denunciadas.

“O abuso online tem sido uma pauta de debates muito grande, sobretudo envolvendo minorias. Existe uma pressão para a regulação dessas redes, mas é muito difícil, porque ela não consegue agir de forma preventiva, mas retirar publicações e perfis de maneira rápida é importante e relevante”, frisou. 

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