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Justiça aceita denúncia e PMs viram réus por morte de rapaz ocorrida em praça de Vitória

São três cabos e um soldado da Polícia Militar apontados pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), com outras duas pessoas, como integrantes de uma milícia

Foto: Divulgação/TJES

Seis pessoas, incluindo quatro policiais militares, se tornaram réus em ação penal por suspeita de integrar e manter uma milícia, grupo paramilitar criado com a finalidade de praticar crimes na Grande Vitória. 

A denúncia, apresentada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES), foi aceita na tarde desta segunda-feira (11) pela Justiça estadual. A decisão é da juíza da Primeira Vara Criminal de Vitória, Lívia Regina Savergnini Bissoli Lage. 

Segundo ela, “a forma de execução do crime demonstra que os acusados contam com personalidade desprovida de sensibilidade moral, sem um mínimo de compaixão humana, não valorizando o semelhante de forma a ser possível a convivência social, uma vez que os fatos, além de terem ocorrido mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, e por meio passível de resultar perigo comum, foi praticado em atividade típica de milícia privada, sendo necessária a custódia cautelar para preservação da ordem pública e da instrução processual”.

Entre os crimes atribuídos ao grupo está o assassinato do jovem Felypy Antônio Alves Chaves, o Cambalaxo, de 18 anos, na praça de Itararé, em Vitória, na madrugada do dia 21 de fevereiro deste ano.

Dos seis denunciados pelo MPES, cinco foram presos na operação “La Liga”, realizada no mês de maio. São eles, que agora se tornam réus: 

– Cabo Ronniery Vieira Peruggia: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milícia particular; por homicídio (em situação que poderia ferir outras pessoas, tendo dificultado a defesa da vítima) e ainda por adulteração de sinal identificador de veículo automotor (uso de placa fria). Está preso no Quartel da Polícia Militar, em Maruípe.

– Cabo José Moreno Valle da Silva, vulgo Moreno: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milícia particular; por homicídio (em situação que poderia ferir outras pessoas, tendo dificultado a defesa da vítima). Está preso no Quartel da Polícia Militar, em Maruípe.

– Cabo Welquerson Cunha de Moraes, vulgo Moraes: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milícia particular; por homicídio (em situação que poderia ferir outras pessoas, tendo dificultado a defesa da vítima) e ainda por adulteração de sinal identificador de veículo automotor (uso de placa fria). Está preso no Quartel da Polícia Militar, em Maruípe.

– Soldado Josemar Fonseca Lima, vulgo Baiano: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milícia particular. 

– Walace Luiz dos Santos Souza: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milícia particular; por homicídio (em situação que poderia ferir outras pessoas, tendo dificultado a defesa da vítima) e ainda por porte ilegal de arma de fogo. Está preso na Penitenciária de Segurança Média 1 (PSME1), em Viana.

– Glaydson Alvarenga Soares, vulgo Pajé: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milícia particular; por homicídio (em situação que poderia ferir outras pessoas, tendo dificultado a defesa da vítima) e ainda por porte ilegal de arma de fogo. Está preso na Penitenciária de Segurança Média 1 (PSME1), em Viana.

As investigações, feitas pela da 14ª Promotoria Criminal de Vitória e por membros do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPES, contaram com análises de cenas registradas por câmeras de videomonitoramento do sistema da Prefeitura de Vitória.

Prisões são mantidas pela Justiça

Na decisão judicial, as prisões foram convertidas para preventivas. O único a permanecer em liberdade é o soldado Josemar Fonseca Lima, o Baiano. Quanto a esse último, a juíza aceitou o pedido do Ministério Público e determinou que a Corregedoria da Polícia Militar suspenda o exercício da função de policial militar.

“A decretação da prisão preventiva dos acusados se mostra necessária a fim de garantir a lisura da colheita de provas em andamento, isso porque, além de 3 deles integrarem as forças de segurança pública deste Estado, é imperioso ressaltar que o grupo composto por eles (denominado “liga extraordinária”) realiza eventos de grande proporção em condomínios de alto padrão na cidade de Vila Velha, contando com a presença de convidados que compõem a cúpula das forças de segurança”, justifica a juíza na decisão.

Ministério Público aponta integrantes da milícia em assassinato ocorrido em praça de Itararé

Entre os crimes apontados pelo Ministério Público na denúncia aceita pela Justiça, tendo os integrantes da milícia como responsáveis, está o assassinato do jovem Felypy Antônio Alves Chaves, o Cambalaxo, de 18 anos, na praça de Itararé, em Vitória, na madrugada do dia 21 de fevereiro deste ano. Ele foi morto a tiros ao lado da arquibancada do campo de futebol.

Quando a Polícia Militar chegou, a vítima já estava morta. Ele foi atingido por 15 disparos: na cabeça, no braço, no pescoço, no abdômen e nas costas. Segundo testemunhas, ele tentou correr dos suspeitos, que já chegaram atirando nele.

De acordo com as investigações, um carro com quatro pessoas e uma moto com dois ocupantes estacionaram em uma rua próxima a Unidade de Saúde de Itararé. O MPES afirma que Walace pilotava a moto e na garupa estava Glaydson. A moto foi utilizada para bloquear o tráfego na via. Inclusive, ela foi colocada junto a um cavalete, garantindo a interdição da rua.

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Imagens de videomonitoramento obtidas pelo MPES mostram que Walace empunhava uma arma de fogo no tempo em que permaneceu bloqueando a rua.

Os outros membros do grupo estavam em um Honda Civic. O veículo, na época, pertencia ao cabo Ronniery Vieira Peruggia, que alterou a placa, utilizando uma fria. Ele era o motorista no dia do crime. Com ele, estavam o cabo José Moreno, o cabo Welquerson e um terceiro não identificado.

Nas imagens, os quatro saem do veículo e seguem em direção à quadra. No caminho, chegam a abordar duas pessoas que, em seguida, são liberadas. Na sequência, tiros são disparados na quadra. Em seguida, seis pessoas deixam o local.

O Ministério Público afirma que a vítima não teve possibilidade de defesa e que foram utilizados recursos como aproximação tática típica das forças policiais como contenção e planejamento.

Outro detalhe apontado pela investigação foi a de que, na ida para o local do crime, na moto guiada por Walace, o garupa (apontado pelo MP como o cabo José Moreno) utilizava um colete balístico da Polícia Militar, sob uma camisa de cor clara. O colete ficou visível nas imagens por meio do infravermelho da câmera de videomonitoramento do cerco eletrônico da Prefeitura de Vitória. 

Outro lado: defesa dos acusados

A advogada Sandra Grassi, que faz a defesa do cabo Welquerson Cunha de Moraes, disse que seu cliente não participou e nem participa de nenhum grupo de extermínio ou paramilitar. 

“Meu cliente é um excelente profissional, com vários elogios à sua pessoa pelo trabalho desenvolvido junto à Polícia Militar. O que chama atenção, é que o ilustre Ministério Público, inicialmente, sem prova, alegou ser grupo de extermínio, e agora traz outra tese”, apontou, dizendo que não vai entrar mais em detalhes para não expor sua linha de defesa. 

“Ademais, houve anteriormente a prorrogação da prisão temporária, a meu ver para aprofundamento das investigações, o que é vedado. O Superior Tribunal de  Justiça (STJ) já se posicionou que a prisão não pode se dar para aprofundamento das investigações, sob pena de ferimento aos direitos e garantias constitucionais”, reforçou Sandra.

A defesa do cabo José Moreno disse que, por enquanto, não irá se manifestar pois tudo ainda é muito recente.

O advogado do cabo Ronniery Vieira Peruggia informou que ele ainda não foi intimado e não tem conhecimento oficial da acusação. Somente possui informações da acusação do MPES pela imprensa e, portanto, não iria se manifestar.

A reportagem tenta contato com as demais defesas dos citados na denúncia. O espaço está aberto à manifestação dos respectivos advogados.

O que diz a Polícia Militar

Em nota enviada à redação, a Polícia Militar respondeu que, por meio da Corregedoria, está aguardando acesso oficial às conclusões das investigações conduzidas pelo Ministério Público, a fim de identificar o procedimento administrativo mais adequado ao caso concreto.