Por mais que a atuação do estado seja imprescindível para diminuir os casos de violência contra a mulher, só a criação de leis e políticas públicas não será suficiente para diminuir o número de vítimas de agressão.
Para a socióloga e pesquisadora da UVV Maria Angela Soares, a violência contra a mulher é um dos efeitos de uma cultura patriarcalista, que desde a fase infantil impõe papéis submissos as meninas e atividades de liderança a meninos.
“Em todas as culturas, não só no Brasil como no mundo, nós carregamos um histórico milenar de sistemas patriarcais que ainda estão muito presentes na sociedade. O homem é quem sempre esteve no poder, enquanto a mulher foi marginalizada para as atividades domésticas. Sendo criada para ser mãe, esposa e dona de casa”
A entrada do Estado nas casas, a fim de evitar novos casos de violência, começa a partir da década de 1980, segundo Soares, com a repercussão de crimes contra mulheres na classe média.
“É nessa época que surgem as delegacias da mulher nos estados. Foi a primeira vez que o Estado entendeu que briga de marido e mulher não era algo só entre quatro paredes. Depois veio a Lei Maria da Penha em 2006. Em 2015, o feminicídio, quando mulheres são mortas por serem mulheres, passou a ser tipificado como um crime diferente de homicídio. Tudo isso ajuda, é claro, mas só leis e normas não mudam comportamentos e não são suficientes para mudar uma cultura machista”.
Desigualdade
“Depois das grandes guerras, as mulheres foram para as fábricas, foram para o comércio e mostraram que poderiam estar no mercado de trabalho. Hoje, elas fazem parte do mercado, mas ainda estão em condições de desigualdade, ganhando menos e sendo preteridas para os cargos de chefia. Na política, mesmo com cotas para candidatas, a mulher tem o direito de frequentar esses espaços negados, indiretamente. A política continua sendo um espaço destinado a homens, e as mulheres são levadas a acreditar nisso, e pouco se vê alguma mudança para incluí-las no poder”
Educação
“Desde cedo, os meninos são criados para serem garanhões, recebem revistas masculinas ainda muito jovens e a brincar com armas de brinquedo. Enquanto as meninas são criadas para serem bonitas, a cuidar de panelas, serem princesas e restritas a cumprir o papel da maternidade. Uma jovem que não quer ser mãe, ainda é vista com estranheza pela sociedade. Enquanto houver essas diferenças na criação, haverá opressão às mulheres”