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Livro juvenil que fala de romance entre duas mulheres será lançado no Brasil

A autora conta que apesar de ser um conto de fadas, foi escrito pensando em pré-adolescentes. A obra foi recusada por aproximadamente 20 editoras

A princesa se apaixona pela costureira que iria fazer seu vestido de casamento Ilustrações/ Junior Caramez

O príncipe ficou com a princesa e eles foram felizes para sempre. Isso te lembra alguma coisa? Exatamente! Parece um contos de fadas. Mas já imaginou se a princesa se apaixonasse pela costureira que faria o vestido de casamento? A Princesa e a Costureira é um livro juvenil brasileiro que quebra o tabu de contar uma história de amor entre duas mulheres.

A autora Janaína Leslão conta que apesar de ser um conto de fadas, o livro destina-se aos pré-adolescentes. “Embora tenha uma grande reação conservadora, quando leio os comentários vejo que as pessoas nem leram as entrevistas que dei. A obra também atinge um público de jovens adultos. Eles estão muito interessados por essa leitura porque saíram da adolescência com vários questionamentos. A acolhida dessas pessoas agradecendo pela obra dissolve todo o fiel.”

Apesar de muitos pensamentos conservadores sobre a obra, Janaína disse que várias pessoas mandaram recados de agradecimento. “Embora tenha uma grade reação conservadora, quando leio os comentário vejo que as pessoas nem leram as entrevistas que dei. A obra é para um público adulto. Eles estão muito interessados por essa leitura porque saíram da adolescência com vários questionamentos. Essa acalhida dessas pessoas agradecendo pela obra leva a gente até o céu.”

“Seja como for, essas pessoas sempre tiveram livros que as representavam. Qual o problema de ter um livro que represente outro setor da sociedade tantas vezes invisibilizado? Não há motivos para alarde, a proposta é a convivência harmônica de livros e pessoas. Menos ódio e mais amor. Há espaço para todas e todos.”

Para Janaína, apesar de os contos de fadas tradicionais contarem histórias de romance entre homens e mulheres, as meninas também se interessam por meninas e meninos por outros meninos. “Primeiro que é muito complicado a moça não ter escolha, bastando ser escolhida para se sentir satisfeita, depois é que nem sempre mocinha e príncipe vão dar certo. Apesar dos contos de fadas tradicionais garotas também se interessam por garotas e rapazes por outros rapazes. Então, na vida real, quando isso acontece gera muito sofrimento por não ter um referencial prévio que isso é possível “em algum lugar”, ainda que na literatura a que se teve acesso, que possa servir de acolhida e pauta para um diálogo, para uma conversa. Foi pensando nesta lacuna, nesta falta de referencial para conversa com adolescentes e as metáforas possíveis que escrevi o conto.”

Janaína pretende lança uma nova obra em 2016 Foto: ​Claudia Corsino

O projeto

Janaína Leslão tem 37 anos e é escritora formada em psicologia pela UNESP- Assis. Maringaense de nascença e porecatuense de criação, após oito cidades e 14 casas, criou raiz em pessoas, não em lugares. Apaixonada por MPB gosta também de música infantil inteligente. Janaína cresceu lendo apostilas de literatura da mãe professora e passou a adolescência  lendo entre Cecília Meireles e Sidney Sheldon e já adulta, passou para obras de Caio Fernando e Clarisse Lispector. 

Janaína teve que elaborar um um projeto para conseguir arcar com os gastos. “Fizemos uma campanha para 35 dias. Estudei e fiz uma campanha com financiamento e em uma semana a campanha atingiu o objetivo e arrecadou R$ 4.600″. 

Para a autora é importante que uma obra assim seja feita. “Seja como for, essas pessoas sempre tiveram livros que as representavam. Qual o problema de ter um livro que represente outro setor da sociedade tantas vezes invisibilizado? Não há motivos para alarde, a proposta é a convivência harmônica de livros e pessoas. Menos ódio e mais amor. Há espaço para todas e todos.”

Em relação ao retorno do conto, Janaína disse que há muitas manifestações de felicidade por porta das pessoas. “Os retornos tem sido ótimos. A maioria absoluta de apoio e diria até manifestações de felicidade de tantos em se verem representados em um conto de fadas, e aqui estou falando dos jovens adultos. Muitas famílias dizendo que estão ansiosas por terem o material para trabalhar preconceitos com seus filhos. E sim, existe muita resistência, como não poderia deixar de ser em um país ainda com tanto racismo e LGBTfobia. Sequer as pessoas leem a proposta e já se posicionam terminantemente contra, com palavras de baixo calão, ameaças e suposições absurdas, que nos fazem até rir. 

Entenda como tudo aconteceu

O livro ‘A Princesa e a Costureira’ conta a história de duas mulheres que se apaixonam Foto: ​Claudia Corsino/ Ilustrações: Junior Caramez

A obra

A história é um conto de fadas clássico: Num reino muito distante mora uma princesa chamada Cíntia, prometida desde pequena para o príncipe do reino vizinho. Uma fada madrinha muito bondosa, preocupada com a ideia de a afilhada ser obrigada a se casar com alguém que talvez não amasse, lançou-lhe um encanto: “Princesinha, crescerás e saberás quem é o seu verdadeiro amor assim que essa pessoa lhe tocar as costas!” O tempo passou e o casamento entre Cíntia e o príncipe foi marcado. Eles não se amavam, mas eram amigos. Quando a princesa conheceu Ishtar, a costureira que faria seu vestido de noiva, a profecia se confirmou. Ela estava apaixonada. Por uma mulher. “A tradição dizia que uma mulher tinha que amar um homem. E agora, seria jogada na rua por amar uma mulher? Seria condenada a um casamento forçado apenas para cumprir o que era esperado pela tradição? Como faria para que todos entendessem que esse amor era tão amor quantos outros amores? Seria melhor fugir do reino?” (Página 19)

Segundo a autora, o conto foi escrito em 2009 e está registrado na Biblioteca Nacional desde 2010 e foi recusado por aproximadamente 20 editoras nesses anos. “Quando estava quase desistindo, achei a Metanoia Editora, cujo slogan é ‘escrevendo uma nova forma de pensar”, declarou. 

A Princesa e a Costureira será lançado no próximo dia 26, às 17h30, na Unifesp Baixada Santista. O livro já está em pré-venda pelo site da editora e estará disponível na Livraria Cultura a partir do mês de dezembro.