Teorias da conspiração sempre cercaram a Maçonaria. Motivos não faltam, pois a organização se destaca por, ao longo dos séculos, incrivelmente, conseguir manter silêncio e sigilo sobre o que acontece em suas reuniões.
Entre essas histórias imperavam os chamados pactos que os maçons faziam com o diabo. Ou até mesmo que praticavam rituais onde bodes e cabritos eram sacrificados e o sangue consumido pelos participantes. Sem contar os relatos de que há um plano em andamento para que os maçons dominem o mundo.
Os maçons ouvem e riem desses relatos. “Muitas dessas histórias acontecem por causa do preconceito e da perseguição que a Maçonaria sofreu por ser vista como crítica à religião em si. Achavam que pelo fato dos maçons incentivarem o conhecimento e a filosofia, estariam contra a fé, contra a religião. Como se uma anulasse a outra. Mas é justamente o contrário porque não combatemos religião: acolhemos membros de toda e qualquer crença porque temos como um de nossos fundamentos a fé em Deus, Espírito que criou tudo perfeito”, esclarece Hélio Sodré, grão-mestre estadual, dirigente do Grande Oriente do Brasil do Espírito Santo (GOB-ES).
Confira as fotos que mostram detalhes da loja maçônica União e Progresso:
Os planos secretos de dominar o mundo também são classificados como fantasia. A tal Nova Ordem Mundial é encarada como lenda. De acordo com essa história, seria um plano para que o mundo tivesse um governo único, planejado e comandado por maçons.
Na prática, não faz sentido: Sodré explica que as lojas maçônicas são independentes entre si. São unidas, mas uma não se sobrepõem à outra. Além disso, entre os membros há diversidade de ideias e de opiniões.
Para o grão-mestre estadual, a organização, hoje, está mais aberta. Tanto que, reportagens para a imprensa como esta que o Folha Vitória fez seria impensável em tempos atrás. O templo, onde se definem as decisões e onde acontecem os rituais, foi liberado para se fazer fotos e vídeos. Normalmente, não é permitido imagens ou elas são feitas e enviadas pelos maçons.
Integrantes da loja maçônica mais antiga do Estado, na Cidade Alta, em Vitória, receberam o Folha Vitoria para mostrar o trabalho da organização e combater versões e narrativas negativas que cercam a sociedade filosófica.
Essa abertura é uma tentativa de deixar as histórias e lendas no passado. “O lado secreto alimentou esses boatos. O fato das nossas lojas não terem janelas era para garantir a nossa privacidade. Não tinha nada envolvido em ritual macabro. Mas, por não ter acesso, quem estava de fora passou a imaginar e criar essas histórias”, explicou Sodré.
Internet é aliada na busca de novos membros
Antigamente, se alguém quisesse fazer parte, teria que ser convidado e ser levado por um outro maçom para conhecer a organização. Hoje, basta solicitar a filiação em qualquer site de uma loja maçônica.
Porém, as etapas até a aprovação permanecem como antigamente. Assim que há o desejo de ser um novo integrante, o interessado terá que passar por entrevistas e também terá sua vida pesquisada.
As perguntas para os candidatos que querem ingressar podem dizer respeito a comportamento na família, vida financeira, círculo de amizades ou relações de trabalho. O nome é submetido aos outros membros e o candidato precisa ser aprovado por unanimidade em assembleia.
Pacto de silêncio
Uma vez dentro, o novato precisa fazer o chamado pacto de silêncio. Ou seja: nada do que é conversado ali dentro pode ser divulgado. O máximo que os maçons revelaram para a reportagem é que, a partir da frequência nas reuniões, os participantes ficam mais cientes do seu papel na Maçonaria, a partir dos rituais.
É como se fosse uma faculdade em que o “calouro” vai adquirindo conhecimento da instituição e avançando pelos “períodos” do curso. Mais do que isso, do que se trata esse conhecimento, qual o conteúdo ministrado? Impossível saber.
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“O ritual é privativo e exclusivo aos maçons”, destaca o grão-mestre estadual adjunto José Paulo Tonóli. Para falar do ritual, só se o curioso fosse outro maçom. Ele diz que há regras como em qualquer organização, mas a finalidade é “o crescimento espiritual e filosófico, consequentemente, melhorando o mundo ao redor”.
“A nossa grande preocupação é o desenvolvimento da sociedade. Ajudar os necessitados por meio da nossa união. Estamos mostrando isso para dizer à sociedade de que aqui não tem nada de secreto, de ruim. Nossa união é por uma boa causa. Só somos discretos”, reforça.
O grão-mestre estadual adjunto respondeu a algumas dúvidas recorrentes sobre a Maçonaria. Confira o vídeo abaixo e a minientrevista sobre várias curiosidades que cercam a organização:
É preciso ser convidado para fazer parte da Maçonaria?
José Paulo Tonóli, grão-mestre estadual adjunto do Grande Oriente do Brasil do Espírito Santo (GOB-ES). – Já houve essa necessidade no passado. Hoje, utilizamos ferramentas virtuais. No site do Grande Oriente do Brasil, a pessoa pode preencher um formulário de intenção de ingresso na Maçonaria. Esse formulário é recebido por nós e, a partir daí, começa o processo de seleção.
Somente homens casados podem fazer parte?
Não há essa distinção. Homens casados, solteiros e divorciados também podem participar.
Quem não acredita em Deus ou não segue nenhuma religião pode participar?
Quem não segue nenhuma religião pode fazer parte. Mas, quem não acredita em Deus, não tem ingresso na Maçonaria. Para ingressar, é primordial que se acredite em Deus.
Maçom pode ser expulso se falar o que acontece nas reuniões?
Ele pode falar tudo o que acontece na reunião. O que não pode ser falado é o que está no ritual. E são poucas coisas.
Maçonaria é sociedade secreta ou sociedade discreta?
Absolutamente discreta, não tem nada de secreta. Não é secreta até porque estamos registrados em cartório. Todo o nosso estatuto está registrado. É uma sociedade discreta.
Católicos, evangélicos, espíritas, religiões de matrizes africanas como Umbanda e Candomblé. Todos os adeptos dessas crenças são bem-vindos na Maçonaria?
Sim. Todos, absolutamente, são bem-vindos e podem participar.
Mulheres são proibidas de participar?
A mulher tem um papel fundamental na Maçonaria. As lojas maçônicas têm as fraternidades femininas compostas por esposas de maçons. O trabalho que elas ajudam de filantropia e de ajuda aos menos favorecidos é tão importante quanto o dos homens. Mas elas não participam dos rituais.
Maçom só ajuda ou contrata maçom? Numa entrevista de emprego, se for um candidato maçom e o contratante é maçom, a vaga já está garantida?
Absolutamente. Não temos essa distinção. Até porque um profissional é contratado pela qualidade oferecida pelo seu serviço e não por uma ligação que ele tenha com você. E outra: maçom não ajuda somente maçom. Maçom ajuda muito mais aquele que não é maçom, o necessitado, do que propriamente um maçom.
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, é maçom. A Maçonaria apoia ou critica o governo Bolsonaro?
A Maçonaria não se posiciona em relação à política. Temos vários irmãos maçons envolvidos na política, mas a instituição em si, a constituição dela, não permite envolvimento.
E as histórias de pacto com o demônio?
Nosso pacto é com Deus.
Cenas de um casamento: confira como é celebrado um matrimônio na Maçonaria
A assessoria de imprensa do Grande Oriente do Brasil do Espírito Santo (GOB-ES) enviou imagens de uma cerimônia de casamento na Maçonaria. O vídeo foi gravado em 27 de novembro de 2021 e marca a união entre Carlos Roberto Santos Rocha e Suzana Belo de Souza Rocha.
Durante a Consagração, um dos principais símbolos maçônicos, a Bíblia, conhecida na Ordem como o “Livro da Lei” fica sobre o altar acompanhada pela pira para vela e a pira do incenso. Essas piras, segundo os maçons, representam Deus “sempre presente e elevação através do perfume de toda a energia boa que a união dos irmãos e convidados produzem no interior da loja”.
Os noivos tomam vinho em uma taça de cristal, que, na mitologia, representa a bebida dos deuses e, no Cristianismo, simboliza o sangue de Cristo, mesmo que a Maçonaria não seja uma religião. Também a água se mistura ao vinho que representa a fidelidade e a pureza.