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Mãe e filha estudam juntas e são aprovadas na Ufes

Formada em Pedagogia e estudando Direito, Raquel Guilhermino resolveu dar apoio à filha Karinny, que estava ansiosa com a maratona de provas e se inscreveu no Enem

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Raquel Guilhermino, de 39 anos, e a filha, Karinny Keterly Ferreira, de 18 anos, estudaram juntas e foram aprovadas na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)

Foi por causa da ansiedade da filha Karinny Keterly Ferreira, de 18 anos, frente à prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que Raquel Guilhermino, 39 anos, resolveu incorporar ao seu dia a dia uma maratona de estudos, encarando livros e estudando junto com a garota. 

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O esforço deu resultado: mãe e filha, que moram em Castelo, no Sul do Espírito Santo, foram aprovadas na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Karinny em Ciências Econômicas, em Vitória; e Raquel em Engenharia de Petróleo, no campus de São Mateus.

“Ela se cobra muito e ficou bastante ansiosa e achando que não ia conseguir dar conta. Principalmente, por causa daquele déficit de educação gigantesco que tivemos devido à pandemia de coronavírus. Resolvi, então, estudar junto com ela, mesmo trabalhando, cuidando da casa e fazendo faculdade”, lembrou a mãe, que já é formada em Pedagogia e, atualmente, faz outra faculdade: a de Direito.

Para acompanhar a filha, ela estudava junto com a jovem das 5h às 9h da manhã. Em seguida, ela arrumava a casa, preparava o almoço e, à tarde, ia para o trabalho, no Fórum da cidade. À noite, ia para a faculdade. Chegava por volta das 21h30 e iniciava nova rodada de estudos com Karinny.

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O que poderia ser uma rotina cansativa, ela tirou de letra. “Mãe sempre faz tudo para o bem dos seus filhos, para que eles cresçam. Não tem cansaço quando está em jogo a felicidade deles. Eu fazia sabendo que estava fazendo bem para ela e ia aprendendo também”, recorda. 

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Karinny passou para Ciências Econômicas e sua mãe, Raquel, foi aprovada para Engenharia de Petróleo

Karinny vê a atitude da mãe como um grande diferencial para a sua aprovação. 

“Minha mãe é um exemplo de persistência, força de vontade e alegria. Ela me deu muito apoio, estudando comigo, me acalmando e trocando informações. Minha ansiedade virou alegria e foi uma vitória dupla porque ela passou também”, comemora. 

Na hora da preparação para as provas, Raquel ajudava a garota com dicas de Língua Portuguesa, interpretação de texto e redação. “Eu a ajudava com Matemática e cálculo”, destacou.

Com aprovação no Enem, filha e mãe terão que se separar

Agora, a ansiedade mudou o foco. Com a aprovação em Vitória, a jovem terá que se mudar para a Capital, o que tem tirado o sono da mãe, que diz não querer pensar muito no assunto, senão começa a chorar.

“A gente nunca se separou. Ela sempre esteve ao meu lado e, além de estudar, ajuda muito aqui em casa, tomando conta dos dois irmãos. As aulas na Ufes em Vitória vão começar na segunda-feira (20) e eu estou bem apreensiva. A gente cria os filhos para o mundo mas quem disse que mãe aceita isso numa boa?”, confidencia.

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Apesar de passar para o curso de Engenharia de Petróleo, Raquel vai continuar na faculdade de Direito. “Engenharia do Petróleo é uma área promissora, mas eu teria que ir estudar em São Mateus, o que é inviável agora para mim”, explica.

“Não existe idade para estudar”, reforça a aprovada em seu terceiro curso superior

Com a sua terceira aprovação num curso superior, ela acha lamentável a atitude de estudantes de uma faculdade de Bauru, no interior de São Paulo, que gravaram um vídeo debochando de uma colega de 40 anos, dizendo que ela já teria passado da idade de estudar e não deveria estar ali.

A história viralizou nas redes sociais, com muita gente defendendo a mulher vítima do bullying, levantando discussões sobre etarismo.

“Não existe idade para estudar, existem vontade e oportunidade”, reforça. 

Aos 39 anos, ela foi a primeira da família a concluir um curso superior e sempre teve a educação como meta. “Educação tem que ser prioridade na vida da gente e é o único caminho para quem nasceu humilde”, pontua. 

Ela disse que nunca teve que enfrentar situações de preconceito por causa da idade e conta sempre com apoio da família. 

“Meus colegas são super legal comigo me tratam com respeito e meus filhos se sentem muito orgulhosos de ver uma mãe nessa idade estudando. Meu pequeno fala que sou a ‘vovó do Direito’. A dificuldade que podemos encontrar por causa da idade é o preconceito na hora de arrumar um emprego”, sintetiza.