Após 36 anos de saudades, incertezas e esperança, uma moradora de Vitória de 77 anos conseguiu encontrar a filha, a quem procurava há décadas.
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Tudo começou ainda no ano de 2000, quando a idosa Alvina Maria de Jesus conheceu a assistente social Andreia Serafim. Na época, moradores do município de Vitória que viviam em áreas de risco estavam sendo reassentados.
“Eu a acompanhei quando ela herdou o direito à casa do filho que faleceu. Acompanhei a rotina de trabalho, ajudando a cuidar dos filhos de pessoas da comunidade ou vendendo chup-chup, e a orientei a buscar um benefício social quando ela completou 65 anos”, contou a assistente social.
Apesar da ajuda provida pelo município, Andreia contou ter tentado procurar a família da idosa, pois ela estava sozinha.
“Eu sabia que ela poderia precisar de ajuda com o passar dos anos, por isso tentei encontrar a família dela. Infelizmente, naquela época, não consegui encontrá-los. Quando meu contrato com a prefeitura terminou, fiquei com o sentimento de que não havia concluído totalmente meu trabalho na vida da dona Alvina”, afirmou.
Reencontro e novas chances
Algum tempo depois, a assistente social voltou a trabalhar para a prefeitura em uma unidade de saúde na região de Andorinha, e teve uma bela surpresa ao encontrar dona Alvina durante uma visita ao Asilo de Idosos de Vitória, em julho deste ano.
“Eu tomei um susto ao vê-la ali. Quando nos falamos, ela me reconheceu e contou que havia sofrido um acidente em casa e precisou ser levada para um hospital. Como não tinha família e não poderia voltar a morar sozinha, ela foi acolhida pelo Asilo dos Idosos de Vitória”, relatou.
A Agente de Combate às Endemias, Regina Celia Souza, também havia conhecido a idosa anteriormente e estava presente na visita ao asilo.
“Eu a conheci em 2007 quando trabalhava na região em que ela morava. Depois mudei de área e só ouvia falar dela por meio dos colegas. Soube que ela passou mal em casa, mas não sabíamos que ela estava ali morando no Asilo dos Idosos”, disse.
Após o reencontro, as duas prestadoras de serviço decidiram se unir para encontrar a família de Alvina, que havia tido uma filha chamada Maria Ferreira, atualmente com 59 anos.
Filha da idosa foi encontrada pelo cartão de vacina
Andreia e Regina iniciaram a saga para tentar encontrar a filha da idosa de todas as maneiras possíveis: pelo CadÚnico, pelo Cartão SUS, entre outros, mas ainda sem resposta.
Durante uma conversa com uma colega acerca dos cadastros dos cartões de vacina contra a Covid-19, Andreia teve a ideia de pesquisar no sistema de imunização nacional.
A auxiliar de enfermagem e colega, Fabíola Nascimento Martins, utilizou a unidade de vacinas para cruzar os nomes de mãe e filha, encontrando três pessoas com dados similares. No entanto, apenas uma moradora de São Paulo tinha idade para ser a filha de Alvina.
“Após confirmarmos algumas informações com os serviços de Saúde e Assistência Social da região de São Paulo, os profissionais de lá passaram meu contato para dona Maria Ferreira. E desde então temos nos falado para combinar esse reencontro que finalmente aconteceu”, contou a assistente social.
História de saudade de desencontros
Após uma conversa com a assistente social, Maria Ferreira afirmou que teria visto a mãe pela última vez em 1987, em Poções, região da Bahia. Após esta época, a filha se mudou para São José dos Campos, em São Paulo.
Ao ir visitar a mãe, no entanto, descobriu que o seu irmão Valdir, que morava com Alvina, havia se mudado com ela para o Espírito Santo.
“Fiquei tão triste na época. Pedi que o filho da vizinha da minha mãe levasse meu endereço e telefone até meu irmão, uma vez que ele viajava até o Espírito Santo a trabalho também. Mas nunca mais tive notícias dos dois”, disse.
Durante 36 anos, Maria esteve tentando encontrar a mãe sem nenhuma informação de contato. A mulher contou ter sentido muita falta da família, chegando a procurar ajuda em um programa nacional de televisão.
“Eu lembrava dela todos os dias, especialmente no Dia das Mães. Meu coração sofria muito de saudades. Foi muito tempo que passamos longe uma da outra. Quando cuidava de pessoas idosas, lembrava dela e me preocupava se ela também precisava de cuidados.”
Ao ouvir notícias sobre a mãe, Maria Ferreira ficou emocionada e precisou segurar as lágrimas.
“Eu estava trabalhando quando me ligaram e foi difícil segurar a emoção. Eu já havia pedido ajuda até da TV para encontrar minha mãe. Depois de tantos anos… Fui para casa chorando, contei para meus filhos que ficaram muito felizes por mim. Eles sabem a dor que eu sentia. E Deus preparou tudo na hora certa.”
Juntas novamente
No caminho para Vitória, Maria contou ter pedido muito a Deus para que o momento fosse especial, e não poderia ter sido melhor.
A mulher desembarcou na rodoviária da capital e se dirigiu imediatamente para o asilo, onde muitas lágrimas caíram, de ambas as partes.
Na ocasião, muitas memórias vieram a tona, e mãe e filha puderam atualizar uma a outra de tudo que haviam vivido nos últimos anos. Além disso, Maria mostrou à mãe fotos dos filhos crescidos, e pela primeira vez, os bisnetos da idosa.
“Quando vi minha mãe, achei que meu coração ia sair pela boca. Mas Deus me deu forças, e a ela também. Graças a Deus nossos caminhos se encontraram novamente e agora não saio mais de perto da minha mãe.”
* Com informações da Prefeitura de Vitória.