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Na era da tecnologia e informação, compartilhar a rotina nas redes sociais se tornou algo comum. Há, no entanto, limites que variam de pessoa para pessoa, baseado em experiências e gostos pessoais.
Em relação aos casais, uma pesquisa realizada pela empresa Opinion Box com mais de dois mil brasileiros revelou que 60% não gosta de expor o relacionamento nas redes sociais.
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A análise, divulgada em fevereiro, incluiu casais de todas as idades, com maioria entre 30 a 49 anos, sendo 85% das classes sociais C, D e E. Os resultados revelaram ainda que 43% concordam que namorar e não ter nenhuma foto do casal nas redes sociais é normal.
De uma forma contraditória ao avanço tecnológico, os dados demonstram um desapego dos casais em relação às mídias digitais, podendo ser interpretado também como um receio das possíveis consequências da exposição.
Confira mais resultados no infográfico criado pelo Folha Vitória:
O que pensam os casais modernos?
Para saber a opinião dos capixabas, a reportagem do Folha Vitória conversou com dois casais de estudantes universitários. As duplas se definiram como, em partes, low profile. No entanto, os casais se diferenciam nos níveis de exposição.
A expressão “low profile” (do inglês, “discreto” ou “de perfil baixo”) é utilizada para definir alguém que age de forma discreta, evitando chamar atenção.
Isabela Kunsche, de 20 anos, é estudante de medicina e namora com o publicitário Igor Figueiredo, de 24 anos. Para eles, a exposição excessiva do relacionamento mais atrapalha do que ajuda. Porém, há momentos que valem à pena serem compartilhados.
“A gente costuma postar fotos de viagens, de passeios, de alguns momentos importantes, mas o nosso relacionamento não é exposto nas redes sociais. Gostamos de mostrar aquilo que queremos que os outros vejam, que tenham acesso, se alegrem conosco. Mas o nosso relacionamento mesmo não é exposto. Eu acho que o relacionamento, de fato, tem que acontecer e desenvolver entre o casal. Isso é vivido, né?”, comentou Igor.
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Isabela e Igor contaram ainda que pensam um pouco diferente em relação à exposição.
“Nós já temos um pouco de diferença na questão exposição. Eu sou um pouco mais low profile nas redes sociais. Eu costumo muito repostar o que ele posta. A nossa exposição vai de momentos mesmo, não da rotina. São momentos felizes, que gostamos de manter lá para os nossos amigos, nossa família e as pessoas que nos seguem”, afirmou Isabela.
Também em entrevista, o casal de estudantes de Direito, Amanda Zanelato, de 20 anos, e Marcelo Henrique Ramos, de 21 anos, contaram que são contra a exposição na internet.
“Eu, pessoalmente, sou um pouco contra a exposição de si no geral, principalmente no relacionamento. Acho que o relacionamento é uma coisa muito sensível e preciosa para expor. Não acho errado compartilhar momentos, mas as pessoas perdem a mão do que postam. Prefiro viver aquilo”, observou Amanda.
Acrescentando sobre os problemas da exposição, Marcelo incluiu a comparação entre casais como um grande fator.
“Querendo ou não, perde um pouco da intimidade como casal, porque estão expondo algo que é só de vocês. Tem uma música que diz que o que as pessoas não veem, não conseguem estragar. Tem muito disso também, as pessoas veem vocês felizes e não gostam, e acontece muita comparação”, completou Marcelo.
Falta de fotos nas redes é um problema?
Em relação a falta de fotos de casal nas plataformas digitais representar um problema, Igor e Isabela dizem que depende de pessoa para pessoa.
“Nós gostamos de saber que um tem ao outro, não é um segredo para ninguém esse relacionamento. Então, nem eu, nem ele, vemos o porquê de, já que temos o costume de postar coisas nas redes sociais, não postar o namoro, sendo que nossos amigos próximos, familiares, já sabem”, disse a estudante.
“É diferente de uma pessoa que não tem o costume de postar nada. Pessoas que já têm o hábito de postar coisas e não postam só uma foto do cônjuge, para mim não faz sentido. Por que postar foto de outras coisas e não do relacionamento? Por mais que queira manter o relacionamento preservado ou reservado, postar uma foto não quer dizer que está expondo o relacionamento, e sim trazendo aquilo como parte da sua vida. Quem abre o perfil conhece a nossa vida. Não ter a minha namorada na minha vida não faz muito sentido. A sensação que dá, é que há algo a ser escondido. Nesse caso, não há”, finalizou o publicitário.
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Para Amanda, a falta de registros no feed das plataformas não representa um problema, e as redes não representam a verdade.
“No nosso caso, éramos melhores amigos antes, então temos fotos juntos nas redes, só não intitulados como casal. A rede social não é a minha vida, não é a verdade”, garantiu.
Marcelo ainda completou que, o uso de redes sociais não é um hábito frequente do casal e, por isso, a falta de fotos não é um problema. A prática de esconder o parceiro, porém, deve ser evitada.
“Eu acho importante talvez ter uma, mas como ela falou, temos fotos como melhores amigos. Postamos também nos stories, mas somos desapegados de redes sociais, quase não usamos. Não há problema. O problema é esconder a pessoa, mas se todos sabem que estão juntos, não vejo problema”, destacou Marcelo.
Traição online deve ser levada a sério?
Ainda segundo a pesquisa, 76% dos entrevistados acredita que a traição por meio de chats privados, fotos ou ligações nas redes sociais deve ser levada tão a sério quanto a traição física.
Sobre esse assunto, a estudante de medicina contou que concorda com a pesquisa. Para o casal, o limite é o bom senso.
“O limite é saber o que magoaria meu namorado, o que deixaria ele triste e o que eu também não gostaria que fosse feito comigo”, disse ela.
“A fidelidade hoje tem sido muito relativizada. Muitas vezes as pessoas tiram o peso por ser online, não colocam o mesmo peso de uma traição presencial, mas o que acontece é que a traição presencial se inicia no online, é o pontapé, o início de tudo. Então, com certeza, tem o mesmo peso. Estamos falando sobre fidelidade, sobre caráter, sobre bom senso e sobre se preocupar de fato com o outro, se colocar no lugar do outro”, complementou Igor.
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Amanda concordou com o casal e ainda acrescentou que, como seguidora da fé cristã, o limite pode ser diferente.
“Como cristã, considero muita coisa como traição. Concordo que a traição online tenha o mesmo peso da presencial, ainda mais nesse mundo tecnológico. A traição se dá a partir do momento que você se permite dar uma chance a uma pessoa que não é seu parceiro, uma abertura. Não precisa chegar a trair fisicamente, a partir do momento em que você deu uma abertura, já está traindo”, afirmou.
“Traição é traição, seja virtual ou presencial, levando em consideração que existem relacionamentos virtuais e presenciais. O limite é esse mesmo, a partir do momento em que você dá abertura para outra pessoa, quando permite que ela tenha tanta intimidade quanto seu parceiro, você já está indo para esse lado”, concordou Marcelo.
Morar junto é o mesmo que casamento?
Se tratando de casamento, 59% acreditam que morar juntos sem casar oficialmente não faz diferença. Nesse ponto, o casal Igor e Isabela discorda dos dados.
“Não acreditamos que apenas morar juntos tem o mesmo peso de firmar um compromisso de casamento. Esse é um passo muito importante, é uma aliança que é séria e planejamos em breve firmar”, disse Isabela.
“Pensamos no casamento em quase todos os momentos, quando não estamos falando de casamento, torcemos para alguém falar para comentarmos juntos. É uma coisa muito séria, uma responsabilidade muito grande, porque além de ser um compromisso com o parceiro, é um compromisso se faz com Deus. Casamento é isso. Então levamos muito a sério, planejamos com cuidado, carinho, zelo. Não queremos queimar etapas. É o namoro, o noivado e depois o casamento e a construção da família”, completou o publicitário.
Marcelo confessou já ter pensado de forma diferente. No entanto, hoje me dia acredita na necessidade do casamento antes de morar com quem se relaciona.
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“Eu tinha um pensamento diferente há muitos anos, mas hoje acredito que seja algo importante, casar para oficialmente morar junto. Minha família tem muito disso, minha irmã está para casar e pensava na possibilidade de morar junto antes, mas meus pais não acharam uma boa ideia, são mais tradicionais. Ela entendeu, porque é algo da minha família e também é uma visão que compartilho hoje”.
Na mesma linha de raciocínio, Amanda observou que o período de namoro tem um prazo de validade e o casamento não se iguala ao ato de morar junto com o parceiro.
“Todo namoro foi feito para terminar, em separação ou casamento. Se você está namorando uma pessoa e não pensa em se casar com ela, o que está fazendo? Morar junto sem casar oficialmente não é a mesma coisa. Na verdade, morar com alguém sem estar devidamente casado é uma situação muito complicada, muitas pessoas são enroladas dessa forma. Pular etapas dificulta muito”, comentou.
Dicas para um relacionamento saudável
Quando questionada sobre algumas dicas que segue para um relacionamento saudável, Isabela destacou a importância de encontrar afinidades.
“Ter afinidades em boa parte das coisas é fundamental, para ter tempo de qualidade juntos e ser uma demonstração de amor. Muito diálogo, a pessoa precisa ser seu confidente, melhor amigo, esses quesitos”, comentou.
“A visão de um relacionamento também é muito importante. Ver a relação como algo sólido faz a diferença. A pessoa que nos relacionamos é para a vida toda, para casar. Nós somos cristãos e essa é a nossa visão, é uma entrega e responsabilidade com a outra pessoa. Em alguns momentos, ambos vão ter que abrir mão de algo, é uma construção. Buscar a felicidade dos dois também é importante, para que seja duradouro”, completou Igor.
Por fim, Amanda ressaltou que é necessário separar a ficção da realidade, aprendendo a lidar com as diferenças.
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“Ter um relacionamento não é igual nos livros ou filmes, são duas pessoas diferentes que decidiram estar juntas, então vão precisar aprender a lidar com isso. É conversar primeiro com seu parceiro, não levar os problemas para terceiros que podem e vão interferir. Além disso, não guardar as coisas, conversar sobre tudo”, afirmou.
Para Marcelo, a inclusão de outras pessoas nos problemas do casal também pode ser associada novamente ao perigo da exposição nas redes sociais.
“São muitas pessoas com opiniões diferentes que vão tentar falar algo, seja para você, seja para o seu parceiro. Algo muito importante em um relacionamento é a confiança, que vai sendo construída. É preciso também ter uma perspectiva de futuro compartilhada pelos dois, pois o relacionamento é formado por duas pessoas, ambas precisam se entregar”, finalizou.
*Texto sob supervisão da editora Thamiris Guidoni