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Mais de 1.600 pessoas com deficiência sofreram violência no ES entre 2011 e 2018

Crianças e idosos são os mais vulneráveis à violência interpessoal. Casos seguem subnotificados

Foto: Divulgação

A violência contra pessoas com deficiência ainda pode ser um assunto tabu em muitos círculos sociais, afinal, agressões a esta população sempre aconteceram no decorrer da história e das sociedades humanas, mas ainda passam por processos constantes de invisibilização. 

Publicada este ano, a tese de pós-graduação “Violência Interpessoal Contra Pessoa Com Deficiência: Análise das Notificações no Estado do Espírito Santo” pretende trazer luz ao tema. 

A autora é a enfermeira e pesquisadora Luiza Eduarda Portes Ribeiro e traz dados de denúncias e notificações de violência interpessoal contra pessoas com deficiência no Estado durante os anos de 2011 a 2018. 

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Segundo a pesquisadora, os dados apontam que dos 36.392 casos de violência interpessoal no período, 1.631 foram de pessoas com deficiência, o que representa 4,5% de todos os casos registrados no Estado.

De acordo com Luiza, o interesse pela pesquisa é nutrido desde o terceiro período da faculdade de enfermagem e a intenção era dar visibilidade e atenção a essas pessoas. 

“Tenho este interesse desde o terceiro período da faculdade, temos alguns grupos mais vulneráveis à violência e as pcd são um grupo bastante vulnerável. Há muitos casos em que as pessoas nem sabem que têm alguma deficiência, como nos casos dos transtornos mentais”, disse. 

Ainda segundo a pesquisadora, os casos podem ser subnotificados, uma vez que pessoas com deficiência em algum ou outro momento da história, sempre foram submetidas a violência. 

“É normal a pessoa com deficiência sofrer violência, ser corrigida, sofrer uma agressão, tanto em casos de deficiência física ou mental. Fizemos a pesquisa com dados quantitativos, mas a quantidade real é muito maior, porque muitas vezes uma pessoa com deficiência não consegue nem informar que sofre violência”, afirmou. 

Crianças e idosos são os mais vulneráveis

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Naturalmente, crianças em estágio de desenvolvimento e idosos são grupos que dependem de atenção constante de um cuidador, seja o pai, mãe, os próprios filhos ou até mesmo um profissional de saúde.

Este tipo de dependência, segundo a pesquisadora, faz com que estes dois grupos sejam os mais vitimados por este tipo de violência. 

“Eles são mais vulneráveis justamente porque dependem de outras pessoas, há muitas pessoas com deficiência que são completamente independentes. A maioria estuda, trabalha, tem uma vida comum. Uma criança já é naturalmente dependente, a mesma coisa com o idoso. Quando se junta a deficiência, isso os deixa ainda mais vulneráveis”, explicou. 

Vítimas podem se tornar agressores

Logo após a formatura, a pesquisadora teve sua primeira experiência profissional em sistemas prisionais do Estado. De acordo com ela, os dados mostram que pessoas que sofrem violência podem se tornar agressoras no futuro. 

“Vemos que a violência acontece em ciclos, então uma pessoa que cresce em um lar disfuncional pode replicar essas atitudes com mulheres, crianças e pcd. Pessoas que estão em situação de vulnerabilidade em relação a ela”, disse. 

De acordo com ela, o caminho para quebrar este ciclo passa pela educação. Tanto das vítimas, dos agressores, como dos próprios profissionais em saúde para identificar o problema e saber como tratá-lo.

“Muitas vezes as pessoas têm vergonha, contam uma outra versão do que aconteceu, como uma queda. É importante que os profissionais de saúde saibam como lidar com estes casos”, finalizou. 

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