De chefe de tráfico e ameaçador, se tornou missionário e evangelista. Essa é a história de Rodrigo Pereira Xavier, que era conhecido como Rodrigão. Ele pertenceu ao mundo do crime e chegou a participar de uma rebelião na Casa de Passagem, em 2006, com 150 reféns. Após a conversão, ele foi reconhecido por uma das reféns enquanto dava testemunho na igreja.
Em junho de 2006, o medo e a tensão tomaram conta de diversas unidades do Sistema Prisional do Espírito Santo. Na época, foram cinco dias de um verdadeiro turbilhão. Detentos rebelados e com os nervos à flor da pele. Passados 13 anos da rebelião, personagens da história se reencontram em um relato emocionante.
Atualmente pregando em uma igreja evangélica, Rodrigo lembra como tudo começou. “O início da rebelião foi motivada para reivindicar a volta de alguns colegas que foram transferidos do estado. Num piscar de olhos, já estava acontecendo. Tinha um grupo de evangelismo no presídio naquele dia, formado por cinco irmãs. Quando pensamos que não, já estavam sendo mantidas reféns, junto com assistente social e agente penitenciário”, relembra.
Antes de participar da rebelião, o passado de Rodrigo já guardava o histórico criminal. “Eu tinha 18 anos de idade e comecei a me envolver com pessoas que andavam na prática ilegal. Minha mãe, motivada pela preocupação com minha integridade física, achou por bem viajar comigo para o Rio de Janeiro e me levar para a casa da minha tia”, conta.
Foi nessa época que Rodrigo passou a ser chamado de Rodrigão. “O que ela temia que acontecesse comigo aqui, em Flexal, na década de 90, acabou acontecendo no Rio. No ano de 2002, passou uma matéria na mídia, que denunciava o alto índice de crime nas comunidades que a gente frequentava. Isso desencadeou uma reflexão e, naquele momento, eu senti no meu coração que não queria mais aquela vida para mim e decidi regressar para cá naquele ano”, disse.
Na tentativa de mudar de vida, a família trouxe Rodrigo novamente para o Espírito Santo. Mas no estado, ele se envolveu mais ainda no mundo obscuro das droga. Não demorou para Rodrigão se ver atrás das grades. A fama de criminoso do Rio de Janeiro e de Cariacica chegou até os detentos capixabas, que passaram então a tratá-lo como um chefão. “Na década de 90, ele (o bairro Flexal) foi pioneiro nas quadrilhas de assalto a banco. Só de fazer parte desse bairro, nos presídios, já se tinha um certo prestígio. Já chegava com um status só por ser morador daqui”, relata.
Rodrigo estava preso quando estourou a rebelião. A rebelião atingia diversas unidades prisionais do estado. Foi na antiga Casa de Passagem de Vila Velha, penitenciária de segurança máxima de Viana e no presídio regional de Linhares. Foi necessária a ajuda da Força Nacional para que a situação fosse controlada. Em Viana, presos foram assassinados, um decapitado e os corpos pendurados em uma grade. Em Vila Velha, um preso morreu e os reféns foram liberados. Segundo Rodrigo, o caso até hoje não sai da cabeça.
Rodrigo mudou de vida. Ele se converteu e ganhou uma família linda, motivo de orgulho para a esposa. “Tenho muito orgulho. É uma história de superação. As pessoas aprendem com os erros”, comenta Franciele Batista.
Anos depois, vidas se cruzaram. A aposentada Santinha Pilonine Cardone e a filha dela, Eliana Polonine da Silva, estavam no presídio quando os detentos se rebelaram. “Foi muito choro, muito grito e muito tumulto. As agentes sociais estavam em cima e eu percebi que tinha gente diferente lá. Quando eu olhei, só vi fogo, mais nada”, conta a aposentada.
Para Eliana, foram momentos de muita tensão, sustentados pela fé. “Passamos por vários momentos difíceis. Depois do tumulto todo no terraço, a noite tivemos que ir para uma cela, onde ficamos cinco irmãos. Estávamos angustiados, mas ninguém ficou reclamando, desesperados. Lembro que um dia a gente estava com muita sede, caiu uma chuva e bebemos água”, relata.
Passados 13 anos, um reencontro surpreendeu mãe e filha. Rodrigo, que participou da rebelião, foi um dos detentos que mantiveram as duas reféns. Em um certo dia, durante o culto, elas reconheceram o jovem. Para Rodrigo, um momento único. “Meu coração esfriou de emoção. Foi como se passasse uma retrospectiva na minha mente. Eu sou um fruto de que toda o trabalho realizado semanalmente por elas não foi em vão”, finaliza.
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