Sombra, pés de fruta e ar fresco. Quem não sonha em ter uma casa com quintal? O pedreiro Edmilson Ferreira mora em um lugar assim com a família há quase 10 anos. Mas o filho dele brinca entre canos e valas, cheios de esgoto.
“Eu fiz um poço de peixe aqui e eu tinha peixe aqui. Agora não tem como criar mais, porque os peixes estavam morrendo, por conta da água contaminada”, contou o pedreiro.
Toda a vizinhança do pedreiro vive a mesma realidade. Na rua Jardim Botânico, em Cariacica, ninguém tem saneamento básico. A comunidade já pediu acesso à rede de esgoto diversas vezes. O último pedido foi feito em 2015 e ainda não foi atendido pela Cesan. Há mais de 40 anos que a costureira Linda Rodrigues espera e sofre com a falta de saneamento.
“Quando entope embaixo do valão, na minha pia, dentro de casa, é possível sentir o mau cheiro. Quando vem alguém almoçar na minha casa, é um nojo. O banheiro também não tem como dar descarga”, comenta a costureira.
O bairro Jardim Botânico é uma amostra das mais de 200 mil casas capixabas que não tem rede de esgoto no Espírito Santo. Os dados são do IBGE e da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) 2016.
Os números relacionados ao acesso à água potável são um pouco melhores. No Espírito Santo, quase um milhão e duzentos domicílios têm abastecimento de água. Mas, para garantir o acesso a esse direito básico do cidadão, o recurso hídrico tem que passar por etapas e mais etapas de tratamento. Porque, na área urbana, muito rios e córregos já não tem mais água limpa.
Para o professor e doutor em saneamento, Ricardo Francis, para acabar com ciclo vicioso do saneamento, é preciso investimento, tecnologia e boa vontade.
“Como a técnica está cada vez mais complexa, mais sofisticada, também está ficando cada vez mais caro a gente pegar a água do rio e potabilizar por causa da poluição. O correto seria investir maciçamente para poder expandir a coleta de esgoto e o tratamento; aplicar técnicas adequadas; e capacitar melhor o setor de saneamento, onde ainda somos deficientes em termos de recursos humanos”, alerta.
A Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) informou, por meio de nota, que parte do bairro Jardim Botânico possui rede de esgoto. A expansão de redes, entretanto, precisa de grandes investimentos para atender a demanda. A Cesan, atenta à necessidade de universalização do sistema de esgotamento sanitário, está realizando uma parceria público-privada para obter financiamento junto ao Banco Mundial.