
Após uma novela jurídica que se arrastou desde novembro de 2014, o professor universitário Manoel Luiz Malaguti Barcellos Pancinha foi demitido da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Acusado de racismo ao afirmar em sala de aula que preferiria ser atendido por um médico ou advogado branco em vez de um negro, o professor teve sua exoneração publicada na última sexta-feira (19) no Diário Oficial da União, com a assinatura do reitor da Ufes, Reinaldo Centoducate.
Malaguti já havia sido demitido por ele em 2014. Segundo a Procuradoria Geral da Ufes, após esta decisão, o professor ajuizou uma ação para anular a decisão, mas a liminar foi negada.
O professor, então, recorreu ao Tribunal Regional Federal (TRF) e obteve liminar favorável, concedendo-lhe o direito de retornar ao trabalho. Agora, a sentença judicial derrubou os efeitos da liminar.
A decisão judicial foi baseada no artigo 132, inciso V, da lei 8.112/90: “incontinência pública e conduta escandalosa na repartição”. O Folha Vitória tentou contato com Maluguti pelo seu telefone celular, mas não obteve retorno. Caso o ex-professor da Ufes se manifeste sobre a decisão, a matéria será atualizada.
Relembre o caso
Malaguti admitiu na época preferir ser atendido por um profissional branco e disse, ao Folha Vitória, que não se arrepende das declarações. Além disso, ele reafirmou ser contra as cotas de vagas para alunos negros nas universidades.
“Trabalho na Ufes há 20 anos e percebo a diferença do nível dos alunos antes e depois do sistema de cotas. Não só eu, mas outros professores também. A partir da fase de cotas, o ensino universitário passou a ser equivalente ao de segundo grau. A maioria dos cotistas sai das escolas praticamente analfabetos”, destacou na época.
Malaguti afirmou ainda que há uma rixa grande entre alunos cotistas e não cotistas nas universidades e que tem professor que prefere colocar esses estudantes em turmas diferentes para amenizar esse atrito.
“Alunos que estudaram em colégios melhores se deparam, na mesma sala de aula, com pessoas que mal conseguiram aprender a ler e escrever. Isso prejudica o trabalho do professor. Então eu acho que, já que existe esse sistema de cotas, é preciso oferecer melhores condições a esses cotistas para que, aos poucos, seu nível de educação seja igualado aos demais”, opinou.
Quanto à polêmica declaração de que preferiria ser atendido por um profissional branco, Malaguti ressalta que sua posição é reflexo da desigualdade de condições de estudo que pessoas de diferentes etnias têm no Brasil.
“Não tenho nada contra os negros. Mas se a gente for levar em consideração que a maioria deles tem pouco acesso a uma educação mais requintada, com participação em congressos no exterior, a tendência é que, não só eu, mas qualquer um, prefira um profissional branco. Se eu estou com a vida em jogo e tenho a oportunidade de escolher entre um médico branco ou negro, certamente escolheria o branco, por ser provavelmente a melhor opção. Não sou eu, mas qualquer um faria isso, por causa do histórico das educação do negro”, argumentou.