Enquanto soluções de prevenção não são colocadas em prática para evitar massacres como o de Aracruz, ocorrido há exatos quatro meses, em 25 de novembro de 2022, o juiz Felipe Leitão Gomes, da Vara da Infância e da Juventude do município, faz um alerta para que os pais se mantenham atentos ao comportamento dos filhos.
“Nós, pais, temos que prestar atenção no que os nossos filhos estão fazendo, lendo, assistindo, com quem eles estão conversando. Atos parecidos como esse se desencadeiam a partir dessa omissão dentro de casa mesmo, na fiscalização, no acompanhamento”, disse o magistrado, em entrevista exclusiva ao programa Repórter Record Investigativo, da TV Vitória/Record TV.
A afirmação é corroborada pelo delegado Leandro Sperandio, que alerta para o acompanhamento do conteúdo que os filhos vêm acessando na internet:
“Uma coisa que pode servir para toda a família brasileira é estar próxima dos filhos e passar a ser vigilante nos horários, nos hábitos dos filhos dentro de casa e nos conteúdos que eles têm acessado na internet”.
É possível evitar massacres como os de Columbine e Aracruz?
Mas como saber quando algo do gênero pode acontecer? É possível prevenir e impedir?
“Diante do ocorrido, o que nós fizemos de imediato foi uma sala de situação na Secretaria de Educação, com representantes da educação, saúde, assistência social e da segurança. Reuniões ocorrem constantemente para discutir o que de fato aconteceu, o que propiciou, como que nós podemos doravante encarar esse problema. E na pasta da Segurança Pública, especificamente, o que nós podemos agregar do que nós temos hoje da Inteligência Artificial junto às escolas”, afirma o secretário de Estado da Segurança Pública, coronel Alexandre Ramalho.
Mas para o advogado do viúvo de uma das vítimas do massacre de Aracruz, é preciso enxergar a questão como um problema real, e não como um caso isolado.
“Nos últimos 20 anos foram 12 casos como esse. Até quando a gente vai tratar como caso isolado? É o caso isolado de Aracruz? Devemos esperar o caso isolado de uma próxima cidade para a gente tratar como tragédia sem responsabilizar e culpabilizar quem precisa ser culpabilizado, que é o Estado, que deveria fornecer a guarda e a tutela das pessoas debaixo da sua proteção”, afirma o advogado André Oliveira.
Na visão da gerente de Projetos do Instituto Sou da Paz, Natália Pollachi, não será colocando pessoas armadas dentro das escolas que o problema da violência será resolvido.
“A gente precisa nesses momentos tomar três segundos para respirar e pensar com racionalidade. A gente não acredita que ter pessoas armadas dentro da escola seja algo produtivo. A escola precisa ser um ambiente de tranquilidade, em que os alunos estão aprendendo a socializar, precisa ser um ambiente de criatividade, de aprendizado”, defende.
Terceiro caso em um ano
O ataque realizado em duas escolas de Aracruz foi a terceira ocorrência policial envolvendo unidades de ensino do Espírito Santo no ano de 2022. Ao contrário da tragédia ocorrida no Norte do Estado, nos outros casos, a polícia conseguiu evitar o pior.
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Em agosto do ano passado, o jovem Henrique Lira Trad, de 18 anos, invadiu a escola Éber Louzada Zippinotti, no bairro Jardim da Penha, em Vitória. Na ocasião, ele ameaçou matar estudantes e funcionários da instituição.
O jovem era um ex-aluno da escola e invadiu o local portando facas ninjas, flechas e coquetéis molotov. Moradores chamaram a polícia antes que o plano de Trad fosse executado.
Ele foi preso e autuado em flagrante por tentativa de homicídio qualificado. Henrique está no Centro de Detenção Provisória de Viana 2.
Já no dia 1º de setembro, a Polícia Civil identificou uma criança de 11 anos que fez ameaças para estudantes de uma escola municipal de Vitória. A ameaça era feita através de uma rede social com a foto de uma arma.
O menino disse que tudo se tratava de uma brincadeira que começou na internet. Ele explicou que conheceu um adolescente de 13 anos, em um jogo online, que disse que pagaria R$ 30 caso enviasse a foto.
O massacre de Aracruz ocorreu no dia 25 de novembro de 2022, quando um adolescente de 16 anos armado invadiu a Escola Estadual de Ensino Fundamental Primo Bitti e o Centro Educacional de Coqueiral de Aracruz e matou quatro pessoas. Doze pessoas ficaram feridas.
Morreram as professoras Cybelle Passos Bezerra Lara, de 45 anos; Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, de 48 anos; e Flávia Amboss Merçon Leonardo, de 36 anos; e a estudante Selena Sagrillo Zuccolotto, de 12 anos.