Após o resultado do inquérito sociológico de covid-19, realizado no Espírito Santo, na semana passada, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) tem reforçado o pedido para que capixabas com qualquer sintomas de síndrome gripal busquem atendimento médico presencial. No entanto, médicos temem que isso gere uma superlotação nas unidade de saúde e a consequente contaminação de mais pessoas com o novo coronavírus.
A orientação da Sesa é que as pessoas com suspeita de covid-19 procurem as unidades básicas e UPA’s a partir do terceiro dia de sintomas, para que recebam um diagnóstico clínico e sejam devidamente orientadas sobre o isolamento.
Os testes de anticorpos aplicados aleatoriamente na população, durante o inquérito sorológico, confirmaram o que já se imaginava: a alta subnotificação de casos de covid-19 no Espírito Santo. Segundo o próprio secretário de Saúde, Nésio Fernandes, 60% dos infectados não são identificados.
“O paciente, diante de um sintoma respiratório, precisa procurar uma avaliação presencial. Nós temos condições de ter no sistema de saúde a garantia dessa avaliação. Ocorre que a pesquisa apontou que somente 40% das pessoas positivas procuraram o serviço de saúde, apontando que, se eu somente consigo diagnosticar 40%, eu tenho 60% de pessoas com potencial de transmissão, sem diagnóstico e que não estão fazendo o isolamento”, ressaltou o secretário
A infectologista Rubia Miossi, no entanto, faz um alerta. Ela afirma que a orientação da Secretaria de Saúde pode comprometer o atendimento nas unidades básicas de saúde e nas unidades de pronto atendimento dos municípios capixabas.
“A gente tem que ter muito cuidado, neste momento, em fazer determinadas recomendações que possam aumentar o fluxo de pessoas nas unidades de saúde, todo mundo junto, de uma só vez. A gente trabalhou, até agora, com estratégias para que, na unidade de saúde, fossem as pessoas que, de fato, havia necessidade de intervenção médica. Não é todo mundo que está com quadro de resfriado ou com quadro gripal que tem necessidade de passar por uma consulta médica”, afirmou a médica.
A infectologista cita algumas outras formas de se identificar casos suspeitos de covid-19 sem que o paciente precise comparecer a uma unidade básica de saúde ou pronto atendimento e acabe colocando em risco quem não está doente.
“É saber classificar e notificar todo caso suspeito que passar por lá. Uma segunda coisa é justamente utilizar o que a chama de busca ativa de casos, que pode ser feita de duas maneiras: por meio de telefone — a unidade de saúde cria um teleatendimento e liga para as casas das pessoas para perguntar se tem alguém e, se houver alguém com sintomas, faz a notificação por telefone mesmo — ou por meio do agente comunitário de saúde”, frisou Miossi.
O também infectologista Crispim Cerutti também demonstrou preocupação com a possível sobrecarga no sistema de saúde do Estado.
“Os sintomas relacionados à covid começam a ficar preocupantes a partir do momento em que você tem uma febre que se prolonga além do terceiro dia ou que se tem sintomas de dificuldade de respirar. O fato de eu chegar mais cedo não significa necessariamente que eu vá evoluir de forma menos grave. Então a atenção à saúde e o cuidado, em tempos oportunos, são importantes, mas a sobrecarga do sistema pode ser desfavorável neste momento”, destacou.
O secretário de Saúde, no entanto, afirma que os serviços de saúde do Espírito Santo, tanto público quanto privado, estão preparados para atender a população.
“Nós estamos há 90 dias orientando os municípios e os hospitais a criarem fast tracks, acessos rápidos aos pacientes respiratórios. Estamos há mais de 90 dias preparando o serviço de saúde para garantir a qualquer pessoa sintomática respiratória que chegue a um serviço e receba uma máscara. Então os serviços de saúde do Estado do Espírito Santo, públicos ou privados, estão preparados para receber os pacientes sintomáticos respiratórios e garantir a eles o devido diagnóstico para romper a cadeia de transmissão”, garantiu Fernandes.
Municípios
A produção da TV Vitória/Record TV entrou em contato com as prefeituras da Grande Vitória para saber o posicionamento delas a respeito da recomendação da Sesa. A Secretaria de Saúde de Vila Velha informou que já registrou aumento de 60% na procura por atendimento nas unidades básicas de saúde desde o inicio da pandemia. O município possui 19 Unidades Básicas de Saúde (UBS’s), além de duas unidades de pronto atendimento, na Glória e em Cobilândia.
“Umas entram por um setor, outras entram por outro, exatamente para evitar a aglomeração de pessoas e a comunicação entre sintomáticos e não sintomáticos de quadros respiratórios. Os atendimentos de rotina, aqueles onde o paciente marca um horário para ser atendido, foram suspensos até que nós venhamos a ter uma nova realidade em relação a essa pandemia”, ressaltou a subsecretária de Atenção Básica de Saúde de Vila Velha, Irisângela Teixeira.
A Prefeitura da Serra disse, por meio de nota, que pessoas com sintomas leves devem procurar as UBS’s. Já as que estiverem com falta de ar, tosse e febre devem procurar uma das três UPA’s do município, sendo a de Castelândia exclusiva para pessoas com sintomas de covid-19.
A Prefeitura de Vitória se limitou a dizer que vai seguir as orientações da Secretaria de Estado da Saúde. A Prefeitura de Cariacica informou que a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) está preparada para acolher pessoas que procuram as unidades com suspeita de covid-19. Além disso, está distribuindo testes rápidos para detectar coronavírus para todas as 28 unidades do município. Tais testes serão utilizados seguindo nota técnica desses procedimentos. Segundo a secretaria, todos os pacientes que buscam atendimento identificados com suspeita de doença respiratória recebem uma máscara e são direcionados como prioridade no atendimento. Todas as 28 Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município atendem a qualquer cidadão que busca atendimento, inclusive com coronavírus. Caso necessário, são encaminhados aos Pronto Atendimentos de Nova Rosa da Penha, Bela Vista e o de Alto Lage.
“Nos PAs, os suspeitos de contaminação pelo coronavírus ficam em uma sala isolada dos demais. Após a consulta, caso o quadro do paciente esteja estável, ele é encaminhado para isolamento respiratório em domicílio. Quando é indicada a internação, o PA aciona a Central de Regulação de Vagas, solicitando vaga em uma unidade hospitalar do Estado. No caso da covid-19, a referência estadual é o Hospital Jayme Santos Neves, na Serra.
A Semus reforça ainda que o município não mede esforços para levar serviços de saúde e informação para o cidadão e que nesse momento, o isolamento social ainda é o melhor remédio. Orienta ainda, que caso seja necessário sair de casa, que o cidadão não deixe de usar máscara e fique sempre atento a todas as orientações de higiene. O cidadão também pode tirar dúvidas sobre a doença (não é substituto para consultas) por meio do Central de Atendimento Municipal sobre Coronavírus no 3354-5635 (diariamente, das 8h às 19h)”, diz a nota.
Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV